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05/10/2023

“Geopolítica do Aço – Cenário Atual e Perspectivas”

O primeiro painel do Congresso Aço Brasil 2023 teve como tema “Geopolítica do Aço – Cenário Atual e Perspectivas”, com moderação de Jorge Oliveira, Conselheiro do Instituto Aço Brasil, CEO Aços Planos América Latina e vice-presidente da ArcelorMittal Brasil. O painel também contou com Thiago de Aragão, CEO da Arko International, Pesquisador Sênior do Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos (CSIS) e Especialista Visitante do Institute of the Americas em Relações China-América Latina; e Germano de Paula, professor Titular do Instituto de Economia da Universidade Federal de Uberlândia.

De acordo com Oliveira, a pandemia de covid-19 e o conflito da Rússia com a Ucrania, assim como as tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China, maiores economias do mundo, têm criado e potencializado diversas particularidades que ditam o rumo das exportações e importações do aço: —A indústria brasileira do aço, embora sólida e competitiva, com bilhões investidos todos os anos, encontra hoje um mundo com barreiras comerciais complexas—.

Para Aragão, decisões comerciais referentes ao mercado do aço tomadas pela China não possuem relação direta com o insumo, e muitas vezes são medidas que se destinam à preservação de outras questões. —Nem tudo que afeta um setor, necessariamente tem a ver com aquele setor —disse. Thiago exemplifica a complexidade do tema comentando que, em um possível cenário onde o Brasil iniba a entrada do aço chinês, a China poderia dar uma resposta que afeta a sua importação de produtos do agro brasileiro.

Dessa forma, o especialista ressalta que o Brasil precisa se defender, com o setor do aço tendo a responsabilidade não só de proteger os seus próprios interesses, mas também de educar o âmbito governamental sobre termos que vão além da tecnicalidade, já que as ações geopolíticas do governo, muitas vezes não correlatas ao aço, impactam o desempenho do setor. —Lembrando ainda que processos de desburocratização por parte do Governo também funcionam como estímulo e barreira de proteção contra medidas internacionais— concluiu.

Já Germano de Paula ressaltou que, além da descarbonização, a guerra entre Rússia e Ucrânia e o conflito entre Estados Unidos e China são os principais temas geopolíticos da atualidade. Segundo de Paula, a produção e o consumo de aço da Rússia não sentiram um grande impacto, mas a Ucrânia apresentou queda de enormes proporções em sua produção do insumo, o que também leva em consideração a perda da capacidade de produção devido à destruição de duas importantes usinas. Sanções europeias e americanas, porém, afetaram diretamente a exportação líquida de aço na Rússia.

No que diz respeito às relações entre Estados Unidos e China, Germano explica não se tratar de um conflito direto entre os países, pois, embora o comércio de aço dos Estados Unidos cresça de forma direta, o da China se expande principalmente de forma indireta. Os chineses têm investido na produção de aço mexicano, enquanto os americanos investem no setor do aço da Ásia, ou seja, são questões que se expandem para outros países, influenciadas por sua dependência das maiores econômicas do mundo. Essa organização das relações afeta e altera diariamente o jogo geopolítico.

Conferência Magna — Geopolítica do Aço: Jefferson De Paula, Presidente do Conselho Diretor do Aço Brasil, Presidente da ArcelorMittal Brasil e CEO da ArcelorMittal Aços Longos e Mineração Latam, também moderou uma conferência sobre o cenário geopolítico do aço com Aditya Mittal, CEO da ArcelorMittal. Questionado sobre o futuro da indústria global, Aditya argumenta que embora seja impossível prever alterações bruscas do cenário geopolítico, como a covid, por exemplo, algumas demandas significativas ocorrem de forma cíclica, o que permite um bom prospecto das solicitações futuras.

O CEO da ArcelorMittal destaca a descarbonização e a sustentabilidade como aspectos que vêm tendo alta demanda por parte da indústria. Assim, energia solar, eólica, carros elétricos e fábricas que minimizem a emissão de CO2 continuarão a ser a prioridade.

Mittal ressaltou, ainda, que os principais desafios para o setor do aço do Brasil nos próximos anos são a adoção de unidades e espaços mais seguros de trabalho, atuando para que haja a construção de uma “cultura de segurança”; a busca por novas formas de atrair talentos e capacitar mão de obra qualificada; e a descarbonização.

No último ano, o grupo ArcelorMittal destinou investimento de US$ 5 bilhões ao Brasil, de acordo com Mittal. —O objetivo agora é dobrar a capacidade de produção, investir em energia renovável e atrair e reter novos talentos—.

Mittal explica ser necessário mudar a percepção que as pessoas possuem da construção civil e do setor do aço, além de ser um dever imprescindível, por parte das empresas, a promoção da diversidade em seus quadros e a construção de políticas administrativas e de home office bem estruturadas: —Devemos mostrar que estamos aptos a superar desafios e a nos adaptar as novas tecnologias e necessidades do setor, seja no cenário interno ou geopolítico—.