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04/07/2024

Rio de Janeiro voltará a ter Bolsa de Valores

O interessado em operar a Bolsa de Valores no Rio de Janeiro é o Americas Trading Group (ATG), que pertence ao Mubadala Capital, subsidiária de gestão de ativos do fundo soberano de Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos. Além de negociar ações, derivados, câmbio e commodities, competindo com a B3, em São Paulo, ela também será a primeira Bolsa Brasileira de Crédito de Carbono sedidada na capital fluminense.

A cidade do Rio de Janeiro será novamente sede de uma bolsa de valores. O anúncio foi feito pelo prefeito Eduardo Paes(PSD) e pelo CEO do Americas Trading Group (ATG), Claudio Pracownik, no dia 03 de julho (terça-feira), na sede da Associação Comercial do Rio de Janeiro(ACRJ). A previsão é que comece a operar no segundo semestre do ano que vem.

Durante a cerimônia, o prefeito sancionou a lei municipal que incentiva a instalação da bolsa de valores na cidade. O evento também contou com a presença do presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ), Josier Vilar, do presidente da Câmara de Vereadores, Carlo Caiado, do secretário municipal de Desenvolvimento Urbano e Econômico, Chicão Bulhões e do secretário estadual de Planejamento e Gestão, Adilson Faria, representando o governador Claudio Castro(PL), que na ocasião, estava em Brasília junto a outros governadores tratando de renegociação dívida dos estados.

— O Rio tem uma parte importante da força econômica do Brasil: muitas empresas de vários setores estão aqui. Mas onde está o setor produtivo? A gente tem um monte de coisas interessantes acontecendo no setor privado do Rio de Janeiro, temos que levantar essa turma. A volta da bolsa de valores é a ponta do iceberg. É o esforço do governador, prefeito, atores políticos. O setor privado percebeu que tem uma concorrência a ser feita com São Paulo.

Começamos a criar um ambiente econômico, um conjunto de atrativos, de novos mercados que surgirão — afirmou o prefeito Eduardo Paes, ao defender a importância do retorno da bolsa à cidade.

Bem-humorado, o prefeito ainda destacou a qualidade de vida para quem trabalha no setor, na comparação entre Rio e São Paulo.

— Esse é um mercado que dá pra ser home office. Não precisa estar físico. Se o sujeito consegue fazer isso jogando beach tennis de manhã, pegando uma bike, subir a Vista Chinesa e depois trabalhar, isto não é trivial na vida das pessoas. As pessoas querem produzir e ganhar dinheiro, mas buscam qualidade de vida. Um lugar que faça bem a elas, O Rio tem potencial fantástico, uma realidade fantástica.

O Projeto de Lei 3276/2024, de iniciativa da Prefeitura do Rio, foi aprovado pela Câmara de Vereadores no dia 25 de junho, com 37 votos a favor e 5 contra. Com a nova regra, cai para 2% o Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) que incide sobre as atividades a serem desempenhadas por uma bolsa de valores, mercadorias e futuros, bem como sobre as atividades exercidas por sociedades que atuam na negociação, liquidação e custódia de ativos financeiros. A aprovação abriu espaço para o anúncio da ATG, transformando a cidade do Rio novamente em num importante centro financeiro do país, após mais de 20 anos do encerramento das atividades da Bolsa de Valores do Rio de Janeiro (BVRJ).

— A gente recupera esse símbolo, de retomada da economia da cidade do Rio de Janeiro — festejou o secretário Chicão Bulhões. E destacou a importância do mercado financeiro para a economia carioca: — É o quarto maior pagador de ISS da cidade, mais de um bilhão e meio de reais. São quase 70 mil pessoas trabalhando no setor, que com a bolsa, vai ganhar nova dimensão, — atraindo mais investidores para cá.

O prédio onde vai funcionar o centro de negociações ainda não definido. O secretário municipal de Desenvolvimento Urbano e Econômico, Chicão Bulhões, disse que há negociações em andamento para o edifício do antigo Automóvel Clube, no Centro do Rio de Janeiro, —prédio histórico do início construído em 1783, com fachada neoclássica — que está em processo de revitalização, para justamente, ser transformado em um hub de economia verde e finanças, o Centro de Energia e Finanças do Amanhã. Localizado na Rua do Passeio, número 90, o edifício está em uma quadra delimitada a direita pela Rua das Marrecas e a esquerda pelo Largo da Lapa, serviu durante décadas à elite carioca da época, já teve o Cassino Fluminense em suas dependências, e em 190, o Clube dos Diários , uma sociedade que queria fomentar a cultura automobilística como meio de transporte, lazer e esporte. Ganhou grande importância histórica para o Brasil porque foi em sua sede que o então presidente João Goulart fez, em 30 de março de 1964, seu último discurso, antes de ser deposto pelos militares.

E, por sua importância arquitetônica, histórica e cultural é tombado desde 1965 pelo Instituto Estadual de Patrimônio Cultural (Inepac).

Claudio Pracownik, CEO do Americas Trading Group (ATG), que pertence ao Mubadala Capital, subsidiária de gestão de ativos do fundo soberano de Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes Unidos, destaca que a criação de uma segunda Bolsa de Valores no país é sinal de maturidade do mercado de capitais nacional, contribuindo para que o Brasil seja visto de forma mais positiva pelos investidores, principalmente os internacionais. Ele acrescenta que a existência de concorrência traz eficiência, redução de riscos e pavimenta a criação de novos produtos. O executivo também destaca que a sede da nova bolsa brasileira no Rio trará benefícios para toda a região: — A nova bolsa terá sua sede administrativa localizada no Rio de Janeiro. Isso é muito importante para a cidade e para o Estado. O Rio voltará a ser um grande centro de negócios, atraindo investidores, e isso tem uma relevância enorme. Nós esperamos que este seja o marco inicial do renascimento do mercado financeiro no Rio de Janeiro — resumiu o CEO do ATG.

O pedido para atuar no mercado de bolsa feito pela Americas Trading Group (ATG) foi feito em 2023. Segundo a ATG, a ideia de criar uma nova bolsa de valores no Brasil é construída há 12 anos.

O presidente da Câmara de Vereadores, Carlo Caiado, exaltou a união dos poderes no esforço de trazer a bolsa para o Rio de Janeiro: — Após mais de 20 anos, a cidade vai ganhar uma nova Bolsa de Valores. A lei proposta em parceria pelo executivo e pelo legislativo foi aprovada com ampla maioria. A Câmara fez reunião com os setores financeiros e mostrou a importância da lei para especialistas, empresário. Será uma revitalização do mercado financeiro carioca. A nova Bolsa de Valores vai incentivar investimentos diretos e indiretos, estimular emprego e promover crescimento econômico e inovação tecnológica — contou.

O presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ), Josier Vilar, destaca a retomada da cidade nesse setor: — Nós precisávamos demais ter essa bolsa de valores no Rio. Ela é simbólica icônica. É óbvio: se tem uma bolsa de valores aqui, a riqueza vem pra cá também. É um negócio muito bom pra o Rio de Janeiro.

A nova Bolsa do Rio de Janeiro — De acordo com a Prefeitura do Rio, a nova bolsa negociará ações, derivados, câmbio e commodities, competindo com a B3, em São Paulo. Ela também será a primeira Bolsa Brasileira de Crédito de Carbono sedidada na capital fluminense.

Pesquisa da Prefeitura do Rio mostra a força do setor financeiro na cidade —O setor financeiro, no triênio 2021-2023, foi o quarto maior pagador de impostos (ISS) do Rio, com o valor de R$ 1,5 bilhão. Os dados são da Secretaria Municipal de Fazenda e Planejamento (SMFP), compilados pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Econômico (SMDUE). Esse montante representou 9,1% da arrecadação total. O setor conta com 68,5 mil trabalhadores (3,7% dos trabalhadores cariocas), gerando 2,7 mil novos empregos entre 2021-2023. Além disso, o trabalhador do setor financeiro carioca ganha R$ 9,5 mil por mês, um valor bem superior à média do trabalhador brasileiro (3,8 mil por mês).

O Rio de Janeiro possui mais de quatro mil fundos, o que representa 17,6% do total do Brasil. Em termos de patrimônio gerido, o Rio mostra ser um forte mercado, que reúne R$ 2,2 trilhões sob gestão, o que representa 34% dos valores investidos no país, reunindo 22,6% dos cotistas, com 1,1 milhão de investidores, e 20,4% das assets. Esses dados constam no estudo “Setor Financeiro do Rio”, que sua versão completa no Observatório Econômico Rio: http://observatorioeconomico.rio.

A nova Bolsa de Valores está em fase final de obtenção das autorizações regulatórias junto ao Banco Central (BC), e à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), aliás, Comissão de Valores Mobiliários, que regulamenta o mercado financeiro, também tem a sede no Rio de Janeiro.