katya-hemelrijk

25/11/2023

Quando a Inteligência Artificial vai ser, de fato, inteligente

Para entender os conceitos de Diversidade e Inclusão?.

Mesmo com tantas transformações que a Inteligência Artificial (IA) já trouxe ao nosso cotidiano, vale reforçar que os algoritmos que tentam imitar e se aproximar cada vez mais do comportamento humano trazem consigo vieses de uma sociedade que ainda exclui pessoas por suas características como deficiências, raça, gênero etc.

Exatamente por tentar imitar o comportamento humano, ela atua com falhas que impactam no tema Diversidade e Inclusão, com a possibilidade de perpetuar preconceitos e acentuar desigualdades por conta dos vieses que ela carrega. Eu comprovei isso testando vários sites de inteligência artificial, um exercício que eu proponho a quem esteja atuando como aliado da diversidade.

Constantemente faço perguntas sobre o tema e pedi informações sobre um estudo da condição econômica social da pessoa com deficiência e a IA me trouxe os dados, mas respondia a mim como se eu fosse um homem. Ao questioná-la sobre o porquê de me tratar assim, sendo que sou uma mulher, ela se desculpou justificando que esse tipo de pergunta, geralmente, é de interesse masculino.

Com relação às informações e imagens de pessoas com deficiência, tudo chega pela IA em tom assistencialista, sem muitos dados macroeconômicos.

Testei uma inteligência artificial que faz busca de imagens com elementos que a gente abastece. Pedi uma charge de um contexto urbano de pessoas com diversas deficiências e diversos marcadores sociais. Em segundos ela me apresentou uma ilustração com várias pessoas, todas brancas e cadeirantes. Pedi também uma imagem que retrate a diversidade em uma grande empresa em 2023 e o resultado é um retrato sem ninguém da diversidade. Somente pessoas brancas e jovens.

Pedi então uma imagem que retratasse colaboradores de uma grande empresa em 2050. O resultado foi uma ilustração com pessoas brancas, negras, homens e mulheres, aparentemente mais sêniores, porém nenhuma pessoa com deficiência. Tem robô como funcionário, mas não tem pessoa com deficiência. Esse é o time do futuro para a IA. Quantos anos serão necessários para a inteligência artificial considerar a representatividade da sociedade no mundo corporativo?

A inteligência artificial é a repetição dos nossos comportamentos, e comprovadamente ela já nasce excludente porque ainda não aprendeu a ser diversa. Quem está ensinando essa tecnologia é o ser humano falho e ainda muito enviesado, com informações e dados equivocados que busca na internet.

Outra tentativa foi pedir à IA que trouxesse imagens de pessoas com deficiência em ambiente corporativo misturados com outros marcadores sociais e o resultado foi muito impactante. Além de trazer pessoas com deficiência “fake”, o chamado “cripface” – uso de imagens que distorcem a realidade da pessoa com deficiência-, a IA trouxe (pasmem!) um homem em uma cadeira de rodas de hospital, que não são iguais às utilizadas pelas pessoas cadeirantes de fato, e fazendo um gesto com as mãos que imita um tiro em sua própria cabeça.

A IA ainda precisa entender como evitar preconceitos e estereótipos que são reproduzidos em bancos de imagens, quase sem representatividade real dos marcadores sociais, com imagens fakes e estereotipadas.

O mesmo para os processos de recrutamento e seleção. Quantos vieses trazem os algoritmos e o que a IA entende quando interpreta um currículo de uma pessoa com deficiência concorrendo a uma vaga de trabalho? Também é preciso mudar a cultura e falar de inclusão da diversidade com quem está programando e alimentando a inteligência artificial.

O fato é que ao humanizar as máquinas estamos passando para elas não apenas as boas qualidades, mas aprendizados que ainda estamos aprendendo como sociedade. A inclusão deveria ser natural do ser humano, mas infelizmente ainda não é.

. Por: Katya Hemelrijk, CEO da Talento Incluir Consultoria, pioneira no país com soluções focadas nos pilares de DE&I Conscientização, Contratação, Carreira, Acessibilidade e Consultoria Estratégica para a inclusão de pessoas com deficiência.

Formada em Administração de Empresas, tem especialização em Neurociência do Consumo e é certificada como Coach Internacional pelo ICC. É uma mulher com deficiência, que nasceu com a Osteogênese Imperfeita. Em sua trajetória profissional, traz uma bagagem corporativa e de empreendedorismo de mais de 20 anos, sendo 12 deles como líder de comunicação na Natura. É também TEDx Speaker, palestrante, atriz e coautora do livro “Maria de Rodas”.| Grupo Talento Incluir — O Grupo Talento Incluir é um ecossistema da diversidade e inclusão pioneiro no Brasil. Seu objetivo é promover a equidade nas relações empresariais e sociais por meio de diferentes unidades de negócios: a Talento Incluir Consultoria, com soluções focadas nos pilares de D&I Conscientização, Contratação, Carreira e Acessibilidade e Consultoria Estratégica de Marketing e Comunicação para pessoas com deficiência; a UinHub, o primeiro e mais acessível marketplace do mundo para pessoas com deficiência e a Talento Sênior, empresa de Talent as a Service, que atua na contratação de profissionais 45+ sob demanda e o UinStock, primeiro banco digital e nacional para a produção e venda de imagens de diversidade da população brasileira pouco representada.

Fundada em 2008, a Talento Incluir Consultoria -—a primeira empresa do grupo — já inseriu no mercado de trabalho aproximadamente 9 mil pessoas com deficiência, buscando sempre o desenvolvimento de carreira destes profissionais para que a inclusão aconteça de maneira profunda e verdadeira, gerando impactos positivos na vida destas pessoas e na sociedade. Em toda a sua trajetória, aplicou Programas de Inclusão 360º para formar e fortalecer a cultura de inclusão em mais de 400 empresas de diversos setores em todo Brasil, como Mercado Livre, Syngenta, Gol, Carrefour, Grupo Boticário, Raia Drogasil, Bradesco, Tereos, PwC PricewaterhouseCoopers, GRU Airport, AccorHotels, Avanade, WhirlPool (Consul e Brastemp) entre outras. | https://lptalentoincluir.com.br