As transformações tecnológicas sem precedentes têm demandado qualificação profissional constante de todas as pessoas e é fundamental que as empresas entendam sua responsabilidade nesse contexto, principalmente quando falamos das juventudes brasileiras.
Vivemos um momento importante e decisivo para o futuro do mundo do trabalho e para as oportunidades que se criam a partir dele, especialmente para as juventudes que estão em processo de inserção na vida produtiva. As transformações tecnológicas sem precedentes têm demandado qualificação profissional constante de todas as pessoas e é fundamental que as empresas entendam sua responsabilidade nesse contexto, principalmente quando falamos das juventudes brasileiras. As empresas não deveriam ser apenas parcerias e receptoras de trabalhadores. É urgente que as companhias passem a se enxergar e atuar como educadoras e investidoras em ações para atrair, manter e formar os jovens, considerando suas múltiplas realidades e diversidade, sendo responsáveis por garantir uma jornada de dignidade e perspectivas para essa parcela da população.
Essa preocupação está posta no mundo corporativo internacional e deve estar presente em cada empresa no Brasil também. Estive recentemente no South by Southwest, conferência realizada nos Estados Unidos, que debateu, entre muitos temas, tecnologia, educação e cultura. Chamou a atenção a trilha futuro do trabalho, pela primeira vez inserida na programação do festival, dada a relevância deste assunto, e mais de duas dezenas de painéis debatendo temas de inclusão produtiva digna e preparo dos jovens, considerando toda sua diversidade, para a vida profissional em constante modernização. A pauta está latente.
O estudo recente O Futuro do Mundo do Trabalho para as Juventudes Brasileiras, realizado pelo Itaú Educação e Trabalho, Juventudes Potentes, Fundações Roberto Marinho, Arymax e Telefônica Vivo, nos trouxe também dados e apontamentos nessa direção. Mostra que as carreiras do futuro estão atreladas, principalmente, às chamadas economias emergentes — verde, criativa, do cuidado, prateada e digital. E que, apesar de todo o potencial delas, os jovens podem não conseguir acompanhar esse ritmo. Isso porque para 58% das organizações que atuam com inclusão produtiva ouvidas pela pesquisa, os cursos de formação profissional não são atualizados e sintonizados com as vagas existentes no mundo do trabalho. Além disso, 76% delas dizem que os jovens estão mal-informados sobre as carreiras do futuro e como o mundo do trabalho funciona. Assim, 82% afirmam que os empregadores não conseguem contratar jovens com as qualificações que necessitam para vagas ofertadas. Ou seja, os jovens não estão sendo preparados para essas profissões do futuro e pouco se faz para mudar esse cenário. É uma situação em que todos perdem: os jovens, as empresas e o país. Diante disso, o que as companhias podem — e devem — fazer para mudar esse quadro?
As juventudes representam uma potência para a economia que estamos perdendo ou aproveitando pouco por inação. A transformação que estamos vivendo no mundo do trabalho é tão veloz e contínua que é impossível o sistema educacional dar conta sozinho dessa responsabilidade. As empresas precisam estar à frente desse desafio e se aproximarem dos agentes de educação. Há falta de integração entre setor produtivo e formação dos jovens. Por outro lado, temos vários caminhos para reverter isso.
As empresas precisam investir tanto para ampliar os esforços na atração e permanência de juventudes, especialmente as que estão em situação de vulnerabilidade, quanto para otimizar o ambiente corporativo para que esses novos profissionais sejam absorvidos e contem com contínuo desenvolvimento. É fundamental receber esses jovens considerando suas múltiplas realidades e dificuldades, bem como as lacunas de educação e formação, oferecendo novas perspectivas para que possam percorrer uma trajetória profissional digna. Para se ter uma ideia, pesquisa recente da organização Juventudes Potentes mostrou que 50% dos jovens entrevistados dizem que a baixa qualificação profissional é impeditivo para acessarem melhores vagas. Mais que isso, há desafios que podem passar batido pelas empresas, como 21% dos jovens se sentirem em desvantagem em processos seletivos por causa da distância entre os locais onde moram e os grandes centros empresariais e comerciais. São alguns indícios de que é preciso atenção das corporações para entender que criar oportunidades é mais do que abrir vagas.
Há uma série de ações em que as empresas podem se colocar como agentes propulsores para formar e incluir os jovens. Ações que não podem ficar restritas a núcleos e áreas, como Recursos Humanos e Governança ambiental, social e corporativa (ESG, a sigla em inglês). É preciso que essa preocupação esteja em todas as veias da corporação, partindo, principalmente, das instâncias maiores de gestão. Temos que olhar as profundas transformações do mundo do trabalho como um imperativo para realizarmos qualificação e requalificação profissional em larga escala, da maneira mais inclusiva possível e com participação ativa das empresas em todo esse processo. É uma oportunidade de corrigirmos as desigualdades que enfrentamos e de garantir, principalmente para nossas juventudes, um hoje e um amanhã mais dignos.
. Por: Luiz Drouet, presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos de São Paulo (ABRH-SP)