Na Exortação Apostólica “Familiaris Consortio”, São João Paulo II afirmou que o futuro da humanidade passa pela família (FC 86), e que o matrimônio e a família constituem um dos bens mais preciosos da humanidade. Quando olhamos para o relato da Criação, vemos claramente no livro do Gênesis que Deus pensou o homem e a mulher com papéis bem definidos dentro de um projeto sólido, harmônico, e para além de si mesmos, ou seja, para os outros. A este projeto do coração de Deus, damos o nome de Família.
Deus que é Amor, implanta no coração da humanidade o amor-mútuo, a partir do qual une o homem e a mulher numa só carne e, dessa união no amor, gera filhos e filhas para o amor.
Todavia, cada vez mais vemos um mundo “self”, isto é, pessoas que buscam a própria felicidade, que só veem a si próprio. Os princípios e valores do amor e nele fundados parecem dar lugar a uma cultura de morte, pois não tem como ponto de partida, nem de chegada, a vida.
Ao contrário, a renúncia de si mesmo para o bem do próximo, a partilha sincera com quem necessita, o querer bem ao próximo antes do próprio bem-estar, são facilmente negociáveis quando se trata do interesse pessoal, pois há um consciente coletivo de que “EU preciso ser feliz a qualquer custo”.
O “eu” sempre em primeiro lugar. A forma como “eu” sinto, vejo, quero e penso, sobrepujando o dom do outro que nos foi dado pelo próprio Deus. A vida, por si só, já depende de outras para vir a existir e isso parece que foi esquecido. E quando se exclui o projeto pensado por Deus, como esperar bons frutos se a experiência primeira se dá num ambiente de interesses pessoais e egoístas, onde cada um busca a realização pessoal, em detrimento daqueles com os quais convive? Não se leva mais em conta os princípios do amor para que a vida seja protegida, formada, amparada e possa se desenvolver desde o útero da mãe. Seriam o egoísmo, e individualismo as vias seguras e eficazes para a tão almejada “felicidade”? Creio que não.
Podemos dar uma resposta diferente! Ao recordar as palavras do próprio Jesus, no Evangelho de São João, no momento de maior intimidade vivida por Ele com os seus discípulos na última Ceia, Ele nos diz: “Dou-vos um novo mandamento: Amai-vos uns aos outros. Como eu vos tenho amado, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisso todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,34-35).
O Senhor nos deu o mandamento do Amor, que se entrega livremente para o bem do outro. Ele nos apresenta um modelo a ser seguido, o da sua própria entrega e sacrifício para a Salvação da humanidade. No Seu discipulado, encontramos a força necessária para testemunhar o verdadeiro sentido da nossa vida, que é viver o amor.
O ser humano corre o grave risco de desaprender a amar. Nós podemos mudar o rumo dessa história, se tivermos a coragem de amar. Amemo-nos como Cristo nos amou, e nossas famílias darão frutos maduros, lindas e grandes vocações para o bem da humanidade.
. Por: Márcio Todeschini, missionário da Canção Nova, casado com Eliete e pai de 4 filhos. Trabalha como músico, cantor e analista de dados a serviço do Carisma Canção Nova