Do sorvete às suas roupas, a árvore cultivada está mais presente em nossa vida do que imaginamos. É a partir do plantio de árvores como eucalipto ou pinus que se originam a celulose, que vem ganhando relevância e já é utilizada para fabricação de mais de cinco mil itens. Em 2022, segundo a Indústria Brasileira de Árvores (Ibá), foram produzidas quase 25 milhões de toneladas da matéria-prima, um recorde histórico para o Brasil.
Para além dos conhecidos cadernos, livros, papéis higiênicos e embalagens de papel, o setor tem investido em ciência e inovação para ampliar os usos da celulose e suprir as demandas globais por produtos de origem sustentável e biodegradáveis. Hoje a matéria-prima dá origem a uma série de produtos e materiais que estão muito presentes no dia a dia das pessoas.
Um grande exemplo é a celulose solúvel, produzida a partir do eucalipto, que possibilita a substituição de matéria-prima de origem fóssil em uma série de segmentos industriais como têxtil, alimentício, beleza, higiene, entre outros.
Assim, o avanço da ciência e tecnologia vem possibilitando a expansão dos múltiplos usos da madeira e seus derivados, aumentando as opções de produtos naturais, biodegradáveis e com alta eficiência. Confira cinco exemplos a seguir!
1. Roupas — A indústria da moda é um setor que tem investido muito na aplicação da celulose para produção de roupas. Hoje a celulose solúvel, na forma de filamento de viscose, já é muito utilizada para revestir tecidos delicados, como gravatas, roupas íntimas, vestidos e até tecido jeans, para não mencionar toalhas e roupa de cama.
A partir do filamento de viscose produzido a partir da celulose solúvel, é possível produzir uma fibra com alto potencial de oferecer alternativa sustentável e de qualidade para a indústria têxtil, até mesmo ao poliéster. A fibra utiliza menos água na sua fabricação do que os tecidos tradicionais, além de ser biodegradável e ter origem renovável.
No setor de árvores já são feitos vultosos investimentos para aumentar a produção da fibra de celulose para este fim. Tamanho é o potencial do mercado que a Bracell levantou uma unidade, em Lençóis Paulista, no interior de São Paulo, que pode fabricar tanto a celulose comum quanto a solúvel. Lá foram investidos R$ 8 bilhões, cujo principal objetivo é fabricar a matéria-prima para suprir a demanda por viscose para fabricação de tecidos.
Outro exemplo é a LD Celulose, joint venture da brasileira Dexco com a austríaca Lenzing. A empresa inaugurou uma fábrica e celulose solúvel no Triângulo Mineiro, onde foram investidos mais de US$ 1,3 bilhão. Toda produção até o fim de 2025 já foi comprada pela parte europeia, que utilizará a matéria-prima para produção de tecidos.
2. Cosméticos — Para além das elegantes embalagens de papel cartão, a celulose proveniente de árvores plantadas também está presente em diferentes cosméticos. O setor integra cada vez mais o material em seus produtos buscando aumentar a sustentabilidade da matéria prima utilizada nesses produtos.
Exemplo clássico são as esponjas de celulose utilizadas para limpar a pele ou aplicação de produtos cosméticos. Além disso, através do investimento em pesquisa e inovação, a celulose vem se tornando um material de grande versatilidade.
A celulose microfibrilada já está presente na composição de diversos cosméticos, como batons e bases, dando uma textura única aos produtos e atuando como um espessante natural, o que aumenta seu poder de hidratação.
É uma alternativa natural, biodegradável e de origem sustentável aos polímeros sintéticos que também estão presentes nas formulações. A utilização da celulose nesses produtos tem um forte apelo ao público jovem, que cada vez mais se preocupa com a sustentabilidade e origem responsável dos cosméticos que utiliza.
3. Medicamentos — As cápsulas e revestimentos de remédios também podem receber a matéria-prima. Na forma de celulose microcristalina, ela permite que os laboratórios e farmácias de manipulação produzam medicamentos que serão liberados após o tempo necessário de ingestão ou no local correto do organismo.
Geralmente, as cápsulas são feitas a partir de uma proteína derivada de tecidos conjuntivos, como ossos. A celulose, então, pode ser um substituto para aqueles que dispõe de alguma restrição, alérgica ou cultural, aos compostos de origem animal. O revestimento também evita que o sabor ruim do medicamento seja sentido na mucosa bucal.
4. Alimentos — Você sabia que diversos alimentos contém celulose? Exemplo diário é a salsicha, que, em alguns casos, é cozida em um molde de viscose. Isto quer dizer que a pele da salsicha, assim como de outros alimentos embutidos, como o salame, contém a matéria-prima. O revestimento de celulose é uma alternativa à pele feita com tripas de animais.
Ainda na seara da alimentação, derivados da celulose são utilizados como emulsionantes, espessantes e estabilizantes na indústria alimentícia. Assim, podem ser utilizados como substitutos ou complemento à gordura animal, dando a textura e cremosidade desejada a determinados alimentos. É o caso do sorvete, milkshake, caldas, creme de leite, xaropes, sucos e hambúrgueres. O queijo ralado também é um alimento que leva celulose, impedindo que os pedaços se aglomerem através do isolamento da umidade.
Outro produto florestal, o licor pirolenhoso, gerado a partir do processo de produção do carvão vegetal, também está muito presente na indústria alimentícia. É dele que se origina a fumaça condensada, que dá o famoso gostinho de churrasco ao molho barbecue ou os salgadinhos.
5. Aviões — Até mesmo em uma viagem de avião temos contato com fibras vindas da madeira cultivada, que é utilizada como reforço de pneus de alta performance, pois é mais resistente a altas temperaturas.
Esse tipo de celulose solúvel é classificada como um filamento de alta performance e é mais resistente e sustentável do que aqueles de origem fóssil. O mesmo material também pode ser usado para correias e mangueiras de alta pressão, contribuindo para aumentar a resistência desses produtos.