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25/10/2025

Rumo à COP30: como o BIM está redefinindo a sustentabilidade na construção civil?

Com a 30ª edição da COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), que acontece em novembro no Brasil, os olhos do mundo se voltam para o país e para o debate sobre sustentabilidade e responsabilidade climática. Nesse cenário, o segmento da construção civil se destaca tanto pelo seu impacto quanto pelo seu potencial de transformação.

Responsável por quase 40% das emissões globais de carbono, segundo dados do relatório Building Materials and the Climate: Constructing a New Future, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP), e do Centro de Ecossistemas e Arquitetura de Yale, a indústria da construção precisa alinhar suas práticas às metas ESG (Ambiental, Social e Governança) e a boa notícia é que a chave para essa transição já existe e está sendo difundida no mercado. O Building Information Modeling (BIM) está longe de ser apenas uma ferramenta para criar modelos 3D, se consolidando como um habilitador estratégico de ESG principalmente com a Lei de Licitações (Lei nº 14.133/21), que torna o uso obrigatório em obras no Brasil.

O modelo fornece um ecossistema de dados que transforma intenções de sustentabilidade em resultados mensuráveis, verificáveis e certificáveis. Assim, adotar o BIM hoje não é uma mera questão de digitalizar o processo, mas sim uma decisão de negócio alinhada a um planejamento estratégico que define o futuro da engenharia.

A jornada para um empreendimento sustentável começa no Plano de Execução BIM (PEB), no qual os objetivos ESG, que envolvem ambiente, social e governança, são explicitamente integrados desde o início. Métricas como energia líquida zero, neutralidade de carbono, segurança do trabalhador e transparência de governança são definidas antes mesmo da primeira pá de terra ser movida. Essa abordagem proativa é fundamental para obter certificações de sustentabilidade e bem-estar social internacionais como LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), BREEAM (Building Research Establishment Environmental Assessment Method) e WELL, certificação do International WELL Building Institute (IWBI) que atesta edifícios e espaços projetados para apoiar a saúde e o bem-estar físico e mental dos ocupantes.

Trago neste conteúdo uma abordagem de como a metodologia contribui para os três pilares que sustentam as metas ESG, traduzindo princípios em ações concretas e resultados mensuráveis.

1. Ambiental (E): construindo com consciência ecológica — No pilar ambiental, os modelos BIM, por meios da interoperabilidade, se conectam a ferramentas de simulação que analisam a eficiência energética, o aproveitamento da iluminação natural, a performance de sistemas de climatização e o potencial de energias renováveis. Isso permite que arquitetos e engenheiros tomem decisões informadas na fase de projeto, reduzindo o “lock-in” de carbono, ou seja, evitando que o projeto nasça com uma alta pegada de carbono já “travada” em seu design.

Além da energia, o BIM revoluciona a gestão de materiais ao permitir a criação de “passaportes” que armazenam dados sobre carbono embutido, toxicidade e potencial de reciclagem. Essa transparência é a base para a economia circular, apoiando estratégias de reuso e reciclagem de componentes e garantindo que os recursos sejam utilizados de forma mais inteligente. A eficiência hídrica também é otimizada, com simulações de captação de água da chuva e reuso de águas.

2. Social (S): edifícios para pessoas — O impacto social de um empreendimento é igualmente importante. O BIM é essencial para o design centrado no ser humano, permitindo análises detalhadas da Qualidade do Ambiente Interno (IEQ). Simulações de iluminação natural, conforto acústico e ventilação garantem espaços mais saudáveis e produtivos para os ocupantes. Na fase de construção, o BIM 4D (voltado para análise de tempo) e 5D (análise de custo) otimizam o cronograma e a logística, reduzindo desperdícios e melhorando a segurança no canteiro de obras.

3. Governança (G): transparência e confiança — Talvez um dos maiores trunfos do BIM no contexto ESG seja a Governança. Ao criar uma trilha de auditoria digital, o modelo rastreia todas as decisões tomadas ao longo do ciclo de vida do projeto, garantindo transparência e responsabilidade. Isso combate o greenwashing, fornecendo métricas ESG verificáveis que aumentam a confiança de investidores e partes interessadas.

Após a entrega, o modelo BIM evolui para um Gêmeo Digital (Digital Twin), que, conectado a sensores IoT (Internet of Things), monitora o desempenho do edifício em tempo real, consumo de energia, água, qualidade do ar e emissões. Essa operação baseada em dados permite a otimização contínua e a geração de relatórios ESG automatizados, alinhados a padrões globais e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU (Organização das Nações Unidas).

À medida que o Brasil se prepara para a COP30, o setor da construção tem a oportunidade de liderar pelo exemplo. A Transformação Digital, impulsionada por marcos como a nova Lei de Licitações, já é uma realidade e a adoção do da metodologia BIM surge como uma estratégia necessária para a sobrevivência e competitividade no mercado, permitindo que a indústria da construção não apenas cumpra suas obrigações, mas que se posicione na vanguarda da inovação e construa um legado positivo para as próximas gerações.

Por: Marcus Granadeiro, engenheiro civil formado pela Escola Politécnica da USP, sócio-diretor do Construtivo, empresa de tecnologia com DNA de engenharia, membro do RICS – Royal Institution of Chartered Surveyors (MRICS) e certificado em Transformação Digital pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).| O Construtivo é uma empresa de tecnologia com DNA de engenharia. Pioneira no conceito de nuvem, atende aos maiores projetos de infraestrutura do Brasil. Fundado em 2000 como uma joint venture do Grupo Santander, o Construtivo passou por um processo de MBO (Management buy-out) em 2004 e se tornou uma empresa nacional. Atendendo mais de 100 mil usuários e cerca de 200 clientes ativos, entre eles Norte Energia, AES, CPFL, EDP, Taesa, Alupar, CTG, Energisa, CSN, Rumo, Promon, Concremat, EGIS, Intertechne, Systra, LBR, Voith, Andritz e Weg, a empresa mantém uma sede em São Paulo e uma filial em Porto Alegre. O Construtivo tem como carro-chefe a plataforma Colaborativo, ofertada na modalidade de serviços (SaaS) e que é a base para uma solução de integração para os processos BIM. Combinada a outras tecnologias oferecidas pelo Construtivo, a Colaborativo e o BIM levam transformação digital ao setor, que pode aproveitar o know-how de mais de 23 anos da empresa em CAD e o pioneirismo na modelagem das informações da construção. Referência em gerenciamento de processos com especialização em engenharia civil, a empresa atende áreas como energia, transporte, saneamento, ferrovia, administração pública, manutenção, entre outras. | www.construtivo.com