O Brasil vive um momento decisivo na definição de como serão as relações de trabalho na próxima década. Nos bastidores das grandes empresas, uma disputa silenciosa, mas determinante, tem ocupado espaço estratégico: a escolha do modelo de trabalho que irá prevalecer. O modelo híbrido, já adotado por 46,2% das organizações brasileiras, mostra-se promissor, trazendo ganhos de produtividade e significativa redução de custos. Esse dado foi revelado em uma pesquisa nacional realizada pela Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH Brasil) em parceria com a Umanni. No entanto, parte da gestão mais tradicional ainda resiste, levantando questões sobre controle, cultura organizacional e eficiência.
O modelo híbrido é visto como um equilíbrio entre a flexibilidade desejada pelos colaboradores e a necessidade de interação presencial para fortalecer a cultura organizacional, segundo a pesquisa “O Cenário do RH no Brasil”, conduzida pela ABRH Brasil em parceria com a Umanni. Essa percepção é reforçada por dados do estudo “Trabalho Reimaginado”, realizado pela EY Brasil, que apontam que 74% dos trabalhadores brasileiros perceberam aumento na produtividade em suas empresas após a adoção do modelo híbrido. Entre os principais fatores estão a redução do tempo de deslocamento, maior autonomia e ambientes mais silenciosos para tarefas que exigem foco.
A tendência é clara e crescente, projeções indicam que até 2027, a maioria das organizações brasileiras adotará algum modelo flexível de trabalho, consolidando a expansão do híbrido mesmo em setores mais tradicionais. Um dado relevante do estudo da EY Brasil mostra que 79% dos profissionais mudariam de emprego caso fossem obrigados a retornar ao modelo 100% presencial, evidenciando que a flexibilidade se tornou um diferencial competitivo na retenção de talentos.
Exemplos nacionais ilustram o impacto positivo do modelo híbrido. A Petrobras, ao reduzir seu espaço imobiliário em 47%, obteve uma economia anual de R$ 89 milhões, ao mesmo tempo em que aumentou em 41% a produtividade de suas equipes de engenharia. O Banco do Brasil, tradicionalmente resistente a mudanças, conseguiu elevar a satisfação dos colaboradores em 29% e reduzir custos em R$ 156 milhões ao adotar sua própria plataforma de gestão híbrida. Já a Localiza integrou a mobilidade urbana às suas políticas internas, oferecendo veículos compartilhados aos funcionários. Essa iniciativa gerou uma economia de R$ 34 milhões em benefícios e reduziu em 22% a emissão de carbono, mostrando que inovação e sustentabilidade podem caminhar juntas.
No entanto, ainda existe resistência. Parte das empresas brasileiras rejeita os modelos híbridos, enfrentando custos operacionais mais altos e produtividade estagnada. A principal barreira é cultural: muitos gestores ainda associam presença física à produtividade, enquanto outros deixam de investir em tecnologias capazes de dar suporte à nova forma de trabalhar. Essa postura gera impactos diretos, como aumento na rotatividade de talentos e perda de competitividade frente a concorrentes mais ágeis.
A discussão ultrapassa os aspectos financeiros. Um estudo da consultoria Robert Half revelou que 66% dos trabalhadores brasileiros relataram melhora na saúde mental após a adoção do trabalho híbrido. Entre os principais benefícios estão a redução do estresse com deslocamentos, mais tempo para autocuidado e queda nas crises de ansiedade ligadas à sobrecarga. Além disso, empresas com ambientes psicologicamente seguros apresentam até 31% mais produtividade e 37% mais performance em vendas.
Diante desse cenário, é evidente que o futuro do trabalho no Brasil passa pelo fortalecimento do modelo híbrido. A questão já não é “se” esse formato se consolidará, mas como cada organização fará a sua transição. Empresas que resistirem terão custos mais altos, maior dificuldade de reter talentos e perda de competitividade em escala global.
O trabalho híbrido representa mais do que uma alternativa logística é um divisor de águas nas relações de trabalho, na gestão de pessoas e na forma como o Brasil poderá competir no mercado internacional. Adotar esse modelo de forma estruturada significa não apenas acompanhar uma tendência, mas liderar um processo de transformação que pode gerar inovação, inclusão e bem-estar.
• Por: Tatiane Brazilio, especialista em Mba em Desenvolvimento Humano para Estratégia e Inovação e professora nos cursos de pós-graduação em Recursos Humanos do Centro Universitário Internacional Uninter.