O coordenador de Produtos do escritório, Rafael Bellas, comentou sobre a implementação do carry trade no mercado financeiro brasileiro.
—A recente sinalização de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, sobre um possível corte nos juros dos Estados Unidos tem implicações importantes para o mercado brasileiro. Enquanto os juros americanos caminham para baixo, o Brasil mantém sua taxa Selic em um patamar elevado, atualmente em 15%. Essa combinação cria um ambiente especialmente favorável para uma estratégia conhecida como carry trade.
O carry trade é uma operação bastante comum no mercado financeiro internacional. Basicamente, ela consiste em captar recursos em países onde os juros são baixos, como os Estados Unidos, e investir esse capital em mercados que oferecem juros mais altos, como o Brasil. O investidor, nesse caso, busca lucrar com o diferencial entre essas taxas. Quando esse diferencial aumenta, como está acontecendo agora, o Brasil se torna ainda mais atrativo para o investidor estrangeiro.
Esse fluxo maior de capital internacional em direção ao país acaba impactando diretamente o mercado de juros. Com mais dólares entrando, aumenta a demanda por ativos locais, como os títulos públicos vendidos via Tesouro Direto. Isso ajuda a pressionar as taxas de juros futuras para baixo, como já foi possível observar recentemente.
Mas a análise não para por aí. Existe um outro componente importante nesse cenário: o cupom cambial. Esse indicador representa o custo que um investidor estrangeiro tem para se proteger da variação entre o real e o dólar. Em outras palavras, é o “juro em dólar” que ele paga para aplicar no Brasil com a garantia de que, no fim, poderá converter seu investimento de volta para a moeda americana sem grandes perdas cambiais.
Quando o ambiente econômico no Brasil melhora e a percepção de risco diminui, o custo dessa proteção também tende a cair. Ou seja, o cupom cambial fica mais barato. Isso torna o carry trade ainda mais vantajoso, pois o investidor não só ganha com o juro mais alto aqui, mas também gasta menos para se proteger da oscilação cambial.
Em resumo, a fala de Powell tem um efeito duplo sobre o Brasil. Por um lado, aumenta o diferencial de juros a nosso favor, por outro, melhora a percepção de risco do país, o que reduz o custo do hedge cambial. Juntos, esses dois fatores criam um ambiente ideal para a entrada de recursos estrangeiros, o que tende a fortalecer o real e comprimir ainda mais as taxas de juros no mercado futuro— conclui Rafael Bellas, coordenador de Produtos da InvestSmart XP.