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12/08/2025

Indústria química: entre o protecionismo e a competitividade

O primeiro trimestre deste ano apresentou um cenário desafiador para a indústria química brasileira. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) a produção nacional recuou 3,8% e as vendas internas caíram 2,6%, na comparação com o mesmo período do ano passado.

Por outro lado, alguns setores estão em expansão caso do poliuretano (PU). Segundo a consultoria norte-americana Grand Review Research, o mercado brasileiro de poliuretano deverá ter um crescimento médio anual de 8,2%, entre os anos de 2025 até 2030, quando deverá alcançar uma receita de quase US$ 2,5 bilhões.

O crescimento do mercado do PU ocorre devido a sua adoção em setores como a construção civil, onde é usado para o isolamento acústico e térmico; na cadeia do frio, onde é usado em caminhões frigoríficos, caixas térmicas, entre outros, devido a sua baixa absorção de umidade, resistência mecânica, durabilidade e isolamento térmico; na manufatura, na indústria calçadista, moveleira, automotiva e esportiva, em substituição a produtos de menor valor agregado.

Mesmo na mineração o PU ganha espaço e é usado em revestimentos, peneiras, rodas e componentes que necessitam de resistência, durabilidade e facilidade para moldagem. Nas linhas de produção a possibilidade do PU ter diferentes durezas permite a personalização para seu uso em esteiras, rolamentos e outros equipamentos.

Outro fator que tem promovido a competitividade do produto é o investimento do setor em sustentabilidade por meio da criação de polióis de fonte renováveis, produzidos com matéria-prima de base renovável, resíduos do agronegócio, para produzir um PU de base renovável. O investimento em sustentabilidade, também feito por outras cadeias químicas como o de polietileno (PE), comumente conhecido como plástico, gera um produto que atende às novas demandas do consumidor final.

Importância da competitividade — O desempenho da indústria química de base causa preocupação pois a competitividade do setor é essencial para a indústria nacional. As matérias-primas químicas estão na base de muitas cadeias produtivas e uma indústria química de base que seja competitiva poderia oferecer insumos a preços competitivos.

Propostas como as apresentadas no Projeto de Lei nº 892/2025, conhecido como Presiq (Programa Especial de Sustentabilidade da Indústria Química) podem gerar benefícios, principalmente por incentivar investimentos que visam promover produtos químicos feitos com matérias-primas de base renovável, diferencial competitivo do Brasil, que tem a maior biodiversidade do mundo, e o uso de fontes de energia que gerem menos emissões de CO2.

Mas, também é necessário que os incentivos recebidos pela indústria petroquímica e química de base não fiquem restritos a essas empresas. Os incentivos propostos precisam beneficiar as empresas de 2ª geração, que transformam os petroquímicos básicos em produtos intermediários e resinas termoplásticas; e de 3ª geração que transformam os produtos da 2ª geração e intermediários em materiais utilizados por diversos segmentos, como o de embalagens, construção civil, elétrico, automotivo, entre outros, até chegar ao consumidor final.

Reformas estruturantes — Uma outra forma de aumentar a produção nacional seria seguir o caminho inverso e investir na redução dos custos para as cadeias com maior demanda na ponta final da cadeia. O setor automotivo anunciou mais de R$ 100 bilhões no Brasil, em 2024, na ampliação e modernização de plantas, o que gera uma demanda para produtos como o poliuretano, borracha, tintas, pigmentos, entre outros.

O Marco Legal do Saneamento e o setor da construção civil, que registrou um crescimento de 4,3% no ano passado, demanda produtos como o policloreto de vinila (PVC) cuja capacidade de produção nacional caiu desde 2018 gerando a necessidade de aumentar as importações para abastecer o mercado interno, cujo consumo em 2024 subiu 12,4% na comparação com o ano anterior. O Brasil, como produtor de petróleo e gás natural, poderia investir em refinarias voltadas a atender essas cadeias produtivas ou outras, como a de combustíveis, com preços mais próximos ao praticado em países como Argentina e Estados Unidos.

A solução de problemas estruturais também poderia beneficiar toda a indústria e mitigar a necessidade de um regime especial. A redução da carga tributária na energia elétrica, insumo essencial para todos os setores produtivos, poderia reduzir o custo de produção de toda a indústria nacional e aumentar a competitividade das empresas brasileiras. Segundo estudo da consultoria PwC e do Instituto Acende Brasil, em 2023, os tributos e encargos representaram 46,2% das contas de energia. A elevada carga tributária do insumo foi apontada por 60% dos líderes de pequenas, médias e grandes indústrias como o principal fator para os altos custos de energia no país, segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

Outra ação seria melhorar a infraestrutura logística, ainda muito concentrada no modal rodoviário, formado por muitas rodovias com baixa qualidade. De acordo com pesquisa do Movimento Brasil Competitivo (MBC) com uma melhor distribuição do transporte de cargas entre os modais rodoviário, ferroviário e a cabotagem, seria possível reduzir em até 12,9% o custo da tonelada transportada e gerar uma economia de R$ 224,76 bilhões por ano com base em valores de 2022.

Apesar da Reforma Tributária simplificar o processo para o pagamento de impostos por meio de um sistema tributário mais simples, eficiente e evitar a bitributação em algumas fases da cadeia produtiva, a confirmação de que o Imposto sobre Valor Agregado (IVA) fique na casa dos 27,5% a 28,5%, a mais alta do mundo, ainda encarecerá os produtos para o consumidor final.

O aumento de competitividade de uma indústria de base pode beneficiar todos os setores produtivos. Mas reformas estruturantes poderiam beneficiar a indústria nacional, mitigaria o risco de medidas protecionistas ou a necessidade de um regime focado apenas em um setor e que pode ficar restrito a um grupo de empresas, incluindo multinacionais de origem estrangeira, que após o término de benefícios podem encerrar a produção no Brasil por terem a possibilidade de produzir em outro país com custos menores.

Por: Wander Pascini da Silveira, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento do Grupo Flexível.| Grupo Flexível — Fundado em 1999, o Grupo Flexível é um dos maiores fabricantes nacionais desenvolvedores de tecnologias em poliuretano. Com sede em Jaraguá do Sul (SC) e em Extrema (MG), a empresa fornece soluções para diversos segmentos no Brasil e exporta para outros países da América do Sul. O Grupo também é proprietário da EVO – Soluções Termoacústicas, com sede em São João do Itaperiú (SC), que produz o Bloco e Painel Eco, feitos por 51% de espumas rígidas de PU recicladas e 49% por poliol de fontes renováveis. A inovação faz parte do DNA do Grupo Flexível, que tem um dos mais completos laboratórios do país no segmento, e desenvolve soluções exclusivas e sob medida para seus clientes. | https://grupoflexivel.com.br