Mas observa que o cenário atual exige cautela. O Comitê enfatiza que seguirá vigilante, que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue apropriado.
O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central decidiu interromper a alta da Selic no dia 30 de julho (terça-feira), mas alerta em comunicado, que o ambiente externo está mais adverso e incerto em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, principalmente acerca de suas políticas comercial e fiscal e de seus respectivos efeitos.
— Consequentemente, o comportamento e a volatilidade de diferentes classes de ativos têm sido afetados, com reflexos nas condições financeiras globais. Tal cenário exige particular cautela por parte de países emergentes em ambiente marcado por tensão geopolítica—frisa.
Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica tem apresentado, conforme esperado, certa moderação no crescimento, mas o mercado de trabalho ainda mostra dinamismo. Nas divulgações mais recentes, a inflação cheia e as medidas subjacentes mantiveram-se acima da meta para a inflação.
Segundo o Comitê, as expectativas de inflação para 2025 e 2026 apuradas pela pesquisa Focus permanecem em valores acima da meta, situando-se em 5,1% e 4,4%, respectivamente. A projeção de inflação do Copom para o primeiro trimestre de 2027, atual horizonte relevante de política monetária, situa-se em 3,4% no cenário de referência.
Os riscos para a inflação, tanto de alta quanto de baixa, seguem mais elevados do que o usual. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado; (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais positivo; e (iii) uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário maior que o esperado, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma eventual desaceleração da atividade econômica doméstica mais acentuada do que a projetada, tendo impactos sobre o cenário de inflação; (ii) uma desaceleração global mais pronunciada decorrente do choque de comércio e de um cenário de maior incerteza; e (iii) uma redução nos preços das commodities com efeitos desinflacionários.
O Comitê tem acompanhado, com particular atenção, os anúncios referentes à imposição pelos EUA de tarifas comerciais ao Brasil, reforçando a postura de cautela em cenário de maior incerteza. Além disso, segue acompanhando como os desenvolvimentos da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. O cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho. Para assegurar a convergência da inflação à meta em ambiente de expectativas desancoradas, exige-se uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado.
O Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 15% ao ano., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.
O cenário atual, marcado por elevada incerteza, exige cautela na condução da política monetária. Em se confirmando o cenário esperado, o Comitê antecipa uma continuação na interrupção no ciclo de alta de juros para examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado, ainda por serem observados, e então avaliar se o nível corrente da taxa de juros, considerando a sua manutenção por período bastante prolongado, é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta. O Comitê enfatiza que seguirá vigilante, que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue apropriado.
Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Gabriel Muricca Galípolo (presidente), Ailton de Aquino Santos, Diogo Abry Guillen, Gilneu Francisco Astolfi Vivan, Izabela Moreira Correa, Nilton José Schneider David, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.
Abit: manutenção da Selic em 15% exige avaliação sobre início de um ciclo de distensão monetária, diz nota, — Com a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a taxa Selic em 15% ao ano, a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) avalia que, embora o Banco Central tenha sinalizado o fim do ciclo de alta, o atual cenário econômico já permite considerar, com responsabilidade, o início de um ciclo gradual de redução da taxa básica de juros.
Mesmo com os índices inflacionários ainda acima do limite superior da meta, observa-se uma tendência de convergência no horizonte relevante da política monetária. Ao mesmo tempo, o patamar atual da Selic impõe ao país uma taxa real superior a 9% ao ano — uma das mais altas do mundo e a maior praticada no Brasil desde 2006 —, comprometendo o custo do crédito, os investimentos produtivos e a recuperação da atividade econômica.
A Abit reconhece os desafios adicionais decorrentes de um ambiente fiscal ainda pressionado e de fatores externos adversos, como a recente decisão dos Estados Unidos de impor tarifas elevadas sobre produtos brasileiros. Medidas desse tipo afetam diretamente as exportações e têm impacto relevante sobre o emprego industrial.
Diante desse contexto, a Abit entende que há espaço para o início de uma trajetória gradual de distensão monetária. Um sinal nessa direção traria confiança aos agentes econômicos e contribuiria para estimular o consumo, a produção e a geração de empregos — especialmente em setores intensivos em mão de obra, como o têxtil e de confecção.
A Abit reitera sua confiança na autonomia técnica do Banco Central e acredita que uma política monetária sensível às transformações do ambiente macroeconômico será essencial para fortalecer o crescimento sustentável da economia brasileira— conclui a Abit em nota.
Copom: Banco Central mantém juros no mesmo patamar — Especialistas do mercado financeiro repercutem decisão, analisam cenário e comentam onde investir com a Selic no patamar atual. O Copom decidiu manter a Selic no mesmo patamar, em 15% ao ano. Veja abaixo comentários de especialistas repercutindo a decisão:
— Na minha opinião, veio uma decisão amplamente aguardada e esperada com uma manutenção de juros em 15%. Importante destacar que foi uma decisão unânime e totalmente dentro do esperado. O comunicado veio muito em linha com o último comunicado num tom hawkish, como a gente já tinha visto no último.
O grande destaque certamente é que o comitê traz ali uma preocupação com o ambiente externo, dizendo que ele está mais adverso. Afirmam que o comitê tem acompanhado com grande atenção os anúncios referentes à imposição de tarifas comerciais para o Brasil, feito pelos Estados Unidos, e que nesse cenário ele reforça uma postura de cautela em função desse cenário de maior incerteza. Então, é uma diferença importante em relação ao comunicado anterior e certamente aqui é um destaque. Então, os diretores do Banco Central estão olhando sim os possíveis impactos das tarifas de 50%, o que pode vir a influenciar em próximas decisões.
Para as próximas reuniões, a minha expectativa aqui é de manutenção. O comitê comenta que o cenário é de maior incerteza, que precisa de uma cautela na condição de política monetária, e que se confirmado esse cenário esperado pelo comitê, ele sinaliza aqui uma continuidade nessa interrupção para as próximas reuniões. Então, a gente deve ter manutenção para a próxima, mas ele deixa claro que não hesitará caso seja necessário retomar o ciclo de ajuste de juros.
Então, se eventualmente tiver uma pressão inflacionária, se eles entenderem que faz sentido subir os juros, ele deixa em aberto essa possibilidade. Não é o nosso cenário hoje. Eu entendo aqui que teremos uma desaceleração da economia e, consequentemente, da inflação e que no início do próximo ano vão poder cortar juros. Mas é importante destacar que esse trecho mostra essa postura dura do comitê mais hawkish, jpá que eles falam que se precisar não vão hesitar em continuar subindo juros.
Em relação às tarifas, eu achei que foi bastante prudente por parte do comitê deixar claro para todo o mercado que eles estão avaliando os desdobramentos das tarifas do Brasil aqui impostas pelos Estados Unidos. Então tudo indica que dia 1º de agosto elas serão implementadas na sexta-feira agora e é importante que o comitê realmente esteja de olho. Então deixar isso explícito me chamou a atenção.
Apesar de a Selic ter ficado estacionada, a inflação ainda está acima da meta. O nosso cenário é de queda de juros, só que só vai acontecer isso no próximo ano. Por enquanto fica claro que o comitê vai deixar esses juros elevados por um tempo prolongado até para entender os impactos na economia dos aumentos que já forem feitos, mas ele deixa claro que não hesitará em prosseguir no ciclo de ajuste caso julgue apropriado, ou seja, ele pode sim subir juros em algum momento. Não é o nosso cenário base, mas ele deixa essa porta em aberto.
E por fim, as tarifas como foram colocadas devem ter efeito sobre a inflação. O comitê não explica se eles enxergam isso como uma pressão inflacionária ou não, eles só falam que estão acompanhando o desdobramento dessa questão das tarifas. a minha expectativa é que se entrar as tarifas de 50% o impacto de redução de PIB para esse e para o próximo ano agora acho que o grande a grande preocupação é se tiver uma retaliação por parte do governo brasileiro e aumentar a tarifa de importação para produtos americanos aí o impacto disso para a nossa economia seria o impacto inflacionário, ou seja, uma preocupação adicional para o Banco Central daqui para frente. E esse cenário de uma retaliação, de imposição de taxas para produtos americanos, eu acho que não é impossível. Acho que, diante das questões políticas, acho que existe uma chance disso acontecer. Então é uma preocupação que o comitê tem e se vier essa retaliação a gente pode ter sim uma pressão inflacionária.
O comitê não explica se essas tarifas podem trazer pressão inflacionária ou não, eles só falam que estão acompanhando o desdobramento dessa questão das tarifas. A minha expectativa é que se entrarem as tarifas de 50% o impacto é de redução de PIB para esse e para o próximo ano. Agora acho que a grande preocupação é se tiver uma retaliação por parte do governo brasileiro e aumentarem a tarifa de importação para produtos americanos. Aí o impacto disso para a nossa economia seria o impacto inflacionário, ou seja, uma preocupação adicional para o Banco Central daqui para frente. E esse cenário de uma retaliação, de imposição de taxas para produtos americanos, eu acho que não é impossível. Acredito que, diante das questões políticas, existe uma chance disso acontecer sim. Então é uma preocupação que o comitê tem e se vier essa retaliação a gente pode ter sim uma pressão inflacionária— conclui o comentário, Marcelo Bolzan, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital.
Como ficam os investimentos agora?: — Atualmente, sem sombra de dúvida, o ideal é investir nos ativos pós-fixados. Para esse momento de curto prazo, o pós não tem erro. O pós é muito bom em cenários de muita volatilidade e incertezas. Juros estão muito altos e o rendimento é muito bom no pós-fixado. Pós também tem liquidez muito boa. Então, tanto para curto como médio e longo prazo são ótimas opções.
Ficar com uma taxa contratada de 15% é muito vantajoso. Já sabemos que o Banco Central vai manter esses juros no mínimo por seis meses. Na minha opinião, é super tranquilo para navegar nesse mar de incertezas que a gente está agora. Outros indexadores como IPCA e prefixados são interessantes, mas pensando no médio prazo.
Eu gosto bastante dos prefixados também quando a gente tem uma ideia de alongar, então eu gosto muito dos vencimentos 2031 e 2033, que estão em níveis interessantes de taxa. Por mais que agora estejam rentabilizando menos do que a taxa de juros, quando eventualmente os juros começarem a cair no ano que vem, eles vão começar a valer super a pena. Então quando a gente olha para o horizonte de médio prazo, eventualmente 5, 6 anos, o prefixado eu gosto mais.
Caso a gente queira focar no longo prazo, com certeza apostar em ativos prefixados e inflação +. Até porque no curto prazo não vejo tanto sentido a gente fazer isso por conta do nível atual de juros. Então, para quem eventualmente está buscando aplicação de curto prazo, aplicações pós, com certeza, porque o nível de juros está muito interessante. Não tem por que se arriscar em outro tipo de indexador.
E caso a gente queira pegar ativos mais longos, inflação e pré-fixado, com certeza. Pré-fixado nessa linha dos seis a sete anos, para garantir uma taxa pré-interessante. E a inflação dá para alongar. Até porque, caso a gente veja um movimento de queda de juros, a gente consegue, inclusive, fazer alguns movimentos de saída antecipado — comenta, Nicolas Gass, head de alocação e sócio da GT Capital.
— Com a Selic em 15% ao ano, o investidor brasileiro vive um dos momentos mais favoráveis da história recente para aplicações em renda fixa. Nesse patamar, é possível obter ótimos retornos com baixo risco, o que favorece especialmente os títulos pós-fixados atrelados ao CDI, que acompanham diretamente a Selic. Além disso, esse cenário reforça a importância de um planejamento financeiro bem estruturado, pois o investidor consegue construir patrimônio de forma mais segura, aproveitando o efeito dos juros compostos de maneira eficiente.
Além dos pós-fixados, que hoje entregam rentabilidades líquidas bem acima da média histórica, outros ativos também são bastante procurados pelos investidores fom juros alto, como os títulos atrelados à inflação (IPCA+) que são uma ótima opção para quem busca proteger o poder de compra no longo prazo, com ganhos reais acima da inflação.
Outro investimento que eu particularmente gosto bastante para esse momento, são os Crédito privado, como debêntures, CRIs, CRAs e fundos de renda fixa com ativos privados, que oferecem prêmios acima do CDI e ainda contam com a isenção de imposto. O importante é avaliar sempre o perfil de risco, prazo de vencimento e a qualidade do emissor.
Mesmo com a Selic em alta, a bolsa não deixa de ser uma diversificação no portfólio. Esses momentos de juros elevados, muitas vezes causam distorções nos preços dos ativos, criando oportunidades para o investidor de longo prazo. Além disso, empresas pagadoras de dividendos tendem a serem mais procuradas nesse cenário, já que muitos papéis passam a entregar retornos recorrentes e previsíveis. ETFs de dividendos ou de setores mais defensivos, como energia e saneamento, são bem atrativos. A diversificação internacional, por meio de BDRs e ETFs globais, também se torna ainda mais relevante. A renda variável segue essencial na construção de patrimônio, desde que dentro de uma estratégia equilibrada e com visão de longo prazo — conclui o comentário, Andressa Bergamo, sócia-fundadora da AVG Capital.
— Com a taxa Selic em 15% ao ano aplicações em renda fixa se tornam as mais vantajosas em termos de risco-retorno, investimentos pós-fixados, como CDBs, LCIs e LCAs atrelados ao CDI, ganham destaque por acompanharem diretamente a taxa Selic, o que garante rendimentos reais elevados e proteção contra a volatilidade do mercado.
Por exemplo, um CDB que pague 110% do CDI pode atualmente render mais de 16% ao ano, o que, mesmo após o desconto do Imposto de Renda, ainda representa um retorno muito superior ao observado em períodos de juros baixos.
Já as LCIs e LCAs, por serem isentas de IR, oferecem um benefício tributário adicional especialmente atrativo para prazos médios. Outro destaque são os títulos públicos, principalmente os Tesouro Selic e Tesouro IPCA+, o Tesouro Selic é indicado para quem busca liquidez e segurança, com rendimento diretamente atrelado à taxa básica de juros, o que o torna ideal para reserva de emergência ou para quem deseja preservar poder de compra sem exposição a volatilidade.
Já o Tesouro IPCA+ com vencimentos intermediários ou longos é uma opção estratégica para quem deseja garantir uma rentabilidade real robusta no longo prazo, já que a maioria dos papéis estão sendo oferecidos com taxas acima de IPCA + 7%, refletindo o prêmio de risco elevado em função da instabilidade fiscal e política. Esse tipo de título é interessante para diversificação, aposentadoria ou metas de longo prazo, com a vantagem de proteger contra inflação futura, que tende a voltar a subir quando os efeitos deflacionários das tarifas cessarem.
Para investidores com maior tolerância ao risco, fundos de crédito privado, como os fundos de debêntures incentivadas, podem se mostrar atraentes, mas exigem cautela redobrada diante do aumento do risco de inadimplência observado em 2025. É fundamental priorizar fundos com boa diversificação, gestão experiente e análise rigorosa de crédito, além disso, vale atenção ao spread oferecido pelas debêntures em relação aos títulos públicos, pois muitos emissores precisaram elevar a remuneração para atrair capital em um cenário de crédito mais restrito— conclui o comentário, Jeff Patzlaff, planejador financeiro CFP e especialista em investimentos.
Abrainc: — A Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) avalia que a manutenção da taxa Selic em 15% ao ano impõe grandes desafios ao desenvolvimento econômico do país.
Atualmente, o Brasil ocupa a segunda posição no ranking dos países com os maiores juros reais do mundo. Esse cenário gera impactos diretos sobre a sociedade: o crédito fica mais caro, o consumo das famílias é reduzido, a produção encarece, as empresas enfrentam maiores dificuldades para operar e o acesso à moradia é severamente comprometido — afetando milhares de famílias brasileiras.
A Abrainc reconhece que a manutenção da Selic nesse patamar busca controlar a inflação, o que é muito importante para o país, no entanto, é fundamental avançar em medidas estruturantes — como a contenção dos gastos públicos e a Reforma Administrativa — para que os juros possam cair de forma perene e sustentável. Só assim será possível melhorar, de maneira duradoura, o ambiente de negócios, estimular a geração de empregos e ampliar o acesso à moradia, com impactos positivos reais na vida das famílias brasileiras— conclui a nota da Abrainc.