A Economista chefe da InvestSmart XP, Mônica Araújo, comentou sobre o uso de Terras Raras no processo de negociação com os EUA.
— Um tema que vem ganhando relevância em 2025, em todas as esferas de debate global, é o de Terras Raras e Minerais críticos, em especial após a guerra tarifária global imposta pelo presidente Trump a partir de abril último. Antes de entrar no motivo que está movendo esse tema é importante buscar uma diferenciação entre as duas denominações. De acordo com o Ministério de Minas e Energia os minerais críticos são recursos essenciais para alguns setores da economia e cuja a oferta está sujeita a risco de escassez. Cada país define sua lista de minerais críticos em função de suas necessidades econômicas, capacidade de produção e grau de dependência externa. Já o conceito de Terras Raras está relacionado a um conjunto específico de 17 elementos químicos que levam esse nome em função da dificuldade de extração e separação de outros minérios. Portanto “terras raras” podem estar em uma lista de minerais críticos.
O debate global sobre o tema vem ganhando espaço na geoeconomia mundial em função das propriedades desses minerais para diversos movimentos estruturais, em especial para a transição energética e para o avanço da tecnologia em diversas áreas, seja militar, automotiva, aeroespacial, siderúrgica e etc. Portanto podemos concluir que o país que detém esses minerais certamente terá uma vantagem sobre aqueles que precisarão adquiri-los. De acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA) uma usina de geração eólica offshore demanda 13 vezes mais recursos minerais do que uma usina de potência similar movida a gás natural, e um veículo elétrico demanda 5 vezes o volume de minerais críticos inseridos em um veículo convencional.
E foi exatamente sobre essa dependência que vivenciamos recentemente os EUA negociarem com a China acordos comerciais em as terras raras foram protagonistas. Segundo dados da United States Geological Survey (USGS), a China é o país com a maior concentração de reserva desses elementos (44 mm tons) e também é a maior produtora, detendo cerca de 70% da produção global desses elementos. O Brasil ocupa a segunda posição no ranking global, com reservas estimadas em 21 milhões de toneladas métricas, porém com produção ainda insignificante. A dominância da China tanto em reservas, quanto na produção e na tecnologia de refino desses minerais preocupa as grandes potências mundiais e setores que dependem hoje exclusivamente do fornecimento da China.
Ao contrário da China, que quando travou as exportações de terras raras no início da guerra comercial global dos EUA levou a um movimento coordenado da indústria americana ligada ao setor automotivo, defesa e tecnologia para reverter a decisão, o Brasil não tem essa relevância. Apesar das reservas significativas de terras raras em território brasileiro, o país ainda não detém a tecnologia de separação das terras raras e ainda não desenvolveu o potencial de produção. Com a baixa relevância na produção é difícil acreditar que hoje essa “joia” entre como uma opção de barganha comercial relevante com os EUA— conclui Mônica Araújo, economista-chefe da InvestSmart XP..