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18/07/2025

Impactos da tarifa dos EUA

Condições operacionais negativas enfraqueceriam a qualidade e a lucratividade dos ativos dos bancos brasileiros, diz relatório da Moody’s.

— Nova tarifa dos EUA aumentaria riscos para diversos setores; exportadores brasileiros de commodities seriam redirecionados para novos mercados e não haveria impacto desproporcional sobre a maioria dos produtores de celulose e papel ou carne bovina.

Uma nova tarifa de 50% anunciada pelos Estados Unidos (Aa1 estável) sobre as importações do Brasil (Ba1 estável), com entrada em vigor prevista para 1º de agosto, aumentaria as incertezas comerciais entre os dois países e reduziria a competitividade dos produtos brasileiros exportados para o mercado norte-americano. A medida criaria volatilidade de curto prazo no mercado de commodities, que representam dois terços das exportações brasileiras. Ainda assim, muitos produtores brasileiros operam com custos competitivos, em grande escala e com ampla distribuição geográfica.

Os EUA são um parceiro comercial relevante para o Brasil, respondendo por 12% das exportações brasileiras e cerca de 2% do PIB nacional. Setores com alta dependência do mercado norte-americano, como o de suco de frutas, enfrentariam riscos elevados. A Embraer (Baa3 estável), por exemplo, obtém mais da metade de sua receita nos EUA e seria impactada, embora tenha capacidade de repassar parte dos custos aos compradores. Já siderúrgicas como a Gerdau (Baa2 estável) poderiam se beneficiar da tarifa, devido à sua presença significativa nos EUA.

O poder de mercado de produtores brasileiros de suco de laranja e café oferece alguma proteção, mas uma tarifa de 50% levaria a um realinhamento nas cadeias globais de comércio e a mudanças nas preferências de consumo, com impacto negativo na demanda por produtos brasileiros. A Sucocítrico Cutrale e a Citrosuco, por exemplo, representam mais de 50% da produção global de suco de laranja e seriam afetadas.

No setor de celulose, a Suzano (Baa3 positiva) gera 17% de sua receita nos EUA, mas a China permanece como principal destino das exportações brasileiras. No setor de carne bovina, os EUA representaram apenas 6% das exportações brasileiras entre 2022 e 2024, enquanto a China respondeu por 67%. Empresas como JBS (Baa3 estável) e Marfrig (Ba2 estável), com operações nos EUA, poderiam se beneficiar da nova tarifa.

A Petrobras (Ba1 estável) teria exposição direta limitada, e o setor de etanol poderia absorver eventuais excessos de oferta no mercado doméstico.

Apesar da exposição direta limitada, os impactos indiretos da tarifa afetariam o ambiente operacional, a qualidade dos ativos e a lucratividade dos bancos brasileiros. A inflação mais alta e a manutenção prolongada da taxa Selic pressionariam os custos de crédito, restringindo o mercado e a capacidade de pagamento dos tomadores.