A seção sobre o tarifaço Trump em relação às exportações brasileiras apresenta uma visão preliminar sobre os produtos/setores mais dependentes do mercado dos Estados Unidos. A mesma seção ressalta as dificuldades de negociação quando as motivações são de cunho político. A piora no saldo acumulado e a melhora na corrente de comércio são explicadas pelo maior crescimento das importações do que das exportações. Na comparação dos resultados do primeiro semestre de 2024 com o de 2025, o recuo no valor exportado foi de US$ 1,1 bilhões, uma queda de 0,7%. As importações aumentaram em US$ 10,4 bilhões, um crescimento de 8,3%. As exportações em volume da indústria de transformação cresceram 14,5% entre os meses de junho e 5,4% na comparação do acumulado até junho de 2024 e 2025. Observa-se que o desempenho positivo da transformação foi explicado pelas não commodities dessa indústria. Ressalta-se o desempenho das importações. Desde janeiro as variações em volumes mensais entre 2025 e 2024 e entre 2024 e 2023, mostram que, exceto abril e junho, as variações são maiores em 2025. No entanto, a tendência aponta para uma desaceleração das importações a partir de junho, enquanto em 2024, a tendência era de alta. Na comparação entre os dois primeiros semestres de 2024 e 2025 chama atenção a variação de 28% das importações de bens de capital da indústria de transformação em comparação com o recuo de 0,9% na agropecuária. Na análise por mercados, em termos de volume exportado, a liderança é da Argentina (+58,8%). Nas importações, a liderança é da China (+30,1%), seguida dos Estados Unidos (+14,2%), União Europeia (+1,3%) e queda na Argentina (-1,4%). Dado esse cenário, a Secretaria de Comércio Exterior reduziu a sua previsão do superávit de US$ 70,2 bilhões para US$ 50,4 bilhões. Sem o efeito Trump, a nossa previsão seria um pouco mais otimista (algo ao redor de US$ 60 bilhões), supondo desaceleração das importações. No entanto, com a possibilidade da implementação do tarifaço Trump inclusive, as previsões ficam incertas.
O tarifaço de Trump para o Brasil — No Icomex de junho foi comentado que o pior cenário para o Brasil em relação aos acordos de reciprocidade propostos por Trump seria o uso das tarifas para obter vantagens em outras áreas, como exploração de minerais estratégicos e terras raras ou pressionar o governo brasileiro em relação a investimentos e/ou importações chinesas. Era uma visão pessimista, pois a justificativa desde o início do governo e mais uma vez enfatizada no dia 02 de abril, “Liberation Day”, era o tratamento desleal dos parceiros, o que levava ao déficit da balança comercial dos Estados Unidos. Foram anunciadas tarifas de importações que variaram de 49% para o Camboja até 10% para países que os Estados Unidos registravam déficits comerciais pequenos ou superávits, como o Brasil. Em seguida no dia 9 de abril, o Trump anuncia que iria suspender as tarifas maiores do que 10% até o dia 09 de julho e abriria negociações.
Um acordo com a China foi anunciado no início de junho, após o aumento de tensão entre as duas maiores economias do mundo, com tarifas de importações praticadas pelos Estados Unidos em relação à China chegando a 145%. O governo Trump reduziu essa tarifa para 30% e a China comprometeu a facilitar a compra pelos Estados Unidos de minerais críticos e terras raras. O prazo de 09 de julho foi adiado para 1º de agosto e acordos começaram a ser anunciados. Neste mesmo interim, para surpresa do governo brasileiro, foi anunciada por meio de uma carta uma tarifa de 50% para os produtos brasileiros.
A balança comercial do Brasil é sistematicamente deficitária com os Estados Unidos, desde 2009. Na carta enviada ao governo Lula os parágrafos iniciais tratam de questões políticas associadas ao processo do ex-presidente Bolsonaro e de decisões do Supremo Tribunal Federal em relação ao não cumprimento de normas brasileiras por empresas de plataformas digitais dos Estados Unidos. A carta depois justifica a medida por déficits inexistentes. Registra-se que, nas cartas enviadas por Trump sobre os temas tarifários, a endereçada para o Brasil foi a única que explicitou motivações políticas, o que limita a margem de negociação do governo brasileiro por tratar de questões que são da alçada exclusiva do Estado brasileiro.
O tema do déficit inexistente já foi enfatizado, mas só para lembrar, o Brasil não registra superávit com os Estados Unidos desde 2009, conforme mostra o Gráfico A. No primeiro semestre de 2025, a balança bilateral Brasil-Estados Unidos foi de US$ -1,7 bilhões.
O desempenho dos fluxos de comércio mostra que em termos de volume as exportações para os Estados Unidos superaram o crescimento total das exportações brasileiras nos períodos de 2012/2016; 2020/2024 e na comparação entre os dois primeiros semestres de 2024 e 2025. No caso das importações, apenas na comparação dos primeiros bimestres de 2024 e 2025 e no período de 2016/2020, as compras externas oriundas dos Estados Unidos superaram as importações totais do Brasil.
Apesar de um relativo bom desempenho das exportações, é fato a perda de importância dos Estados Unidos na pauta de comércio do Brasil. Entre 2001 e 2024 a participação das exportações dos Estados Unidos caiu de 24,4% para 12,0% e as importações de 22,7% para 15,5%. Como mostram os Gráficos D e E, essas perdas estão relacionadas com o avanço da China. No entanto, esse resultado se explica por mudanças nas vantagens comparativas dinâmicas e não por uma deliberação de políticas brasileiras.
As perdas de participação dos Estados Unidos na pauta brasileira de importações se concentram em bens de capital e bens semiduráveis. No caso de bens intermediários, que explicam a maior parte das importações, a participação se manteve estável.
A pergunta que está na pauta do debate atual sobre o tarifaço de Trump é o efeito sobre as exportações brasileiras. A pauta de exportações para os Estados Unidos é bastante diversificada. Enquanto dez produtos explicaram 57% das exportações brasileiras para esse mercado no caso da China três produtos (petróleo, soja e minério de ferro) explicaram 96% das exportações brasileira para esse mercado em 2024.
A participação dos Estados Unidos nas principais exportações brasileiras para esse mercado no ano de 2024, considerando quatro dígitos da classificação do Sistema Harmonizado. É uma avaliação preliminar, pois para quem opera no comércio exterior interessa conhecer o nível maior de desagregação, para saber como seu produto será afetado. Nessa avaliação geral, itens de produtos siderúrgicos, aeronaves, sucos vegetais, escavadeiras seriam os mais atingidos. No entanto, quando se analisa a nível mais desagregado outros produtos mostram grande dependência do mercado dos Estados Unidos, como outras celuloses (NCM 391290), 62,2%.
Informações veiculadas pela imprensa apontam que os setores agropecuário, siderúrgico e de outros segmentos da indústria de transformação sediados, em especial, no estado de São Paulo consideram que a tarifa de 50% poderá inviabilizar exportações.
No momento, é esperar que negociações sejam possíveis, que Trump siga o comportamento “Trump Always Chickens Out” (TACO), que em tradução livre significa Trump “amarela ou volta atrás”. Avaliações mais detalhadas devem esperar para o resultado final desse contencioso. Por último, como lembrou o prêmio Nobel de Economia Paul Krugman, as exportações dos Estados Unidos representam cerca de 2% do PIB brasileiro. Além disso, parte das exportações brasileiras para os Estados Unidos são de empresas multinacionais estadunidenses, que poderão pressionar o governo Trump, da mesma forma que empresas nos Estados Unidos que utilizam os bens intermediários do Brasil na sua produção.
A Balança comercial de junho — A balança comercial de junho registrou um superávit de US$ 5,9 bilhões, inferior ao de igual período de 2024, US$ 6,3 bilhões. No acumulado do ano até junho, o superávit foi de US$ 30,1 bilhões e no mesmo período de 2024, o saldo foi de US$ 41,6 bilhões. A corrente de comércio aumentou seja na comparação mensal, mais US$ 1,3 bilhões, ou no acumulado até junho, mais US$ 9,2 bilhões.
A piora no saldo acumulado e a melhora na corrente de comércio são explicadas pelo maior crescimento das importações do que das exportações. Na comparação dos resultados do primeiro semestre de 2024 com os de 2025, o recuo no valor exportado foi de US$ 1,1 bilhões, uma queda de 0,7%. As importações aumentaram em US$ 10,4 bilhões, um crescimento de 8,3%.
Desaceleração no comércio mundial, estimativa da Organização Mundial de Comércio feita em abril era de um aumento de 0,2%, supondo a suspensão das tarifas recíprocas de Trump. Em adição, a queda nos preços das commodities, questões associadas ao aumento de compras de petróleo da Rússia e dificuldades de recuperação do setor de construção (minério de ferro) afetam as exportações para a China, o principal parceiro comercial do Brasil, que registrou recuo de 7,5% no valor exportado entre os dois primeiros semestres de 2024 e 2025.
Nas importações, valorização do câmbio, antecipação de importações com as incertezas trazidas pelo governo Trump e crescimento da indústria de transformação.
Dado esse cenário, a Secretaria de Comércio Exterior reduziu a sua previsão do superávit de US$ 70,2 bilhões para US$ 50,4 bilhões. Sem o efeito Trump, a nossa previsão seria um pouco mais otimista, com algo ao redor de US$ 60 bilhões, supondo desaceleração das importações. No entanto, com a possibilidade da implementação do tarifaço Trump inclusive para o Brasil, as previsões ficam incertas.
A queda no valor exportado na comparação dos semestres foi liderada pelos preços, que recuaram 2,2%, pois o volume aumentou em 1,6%. No caso das importações, apesar da queda em 2,4% nos preços importados, o volume aumentou 11,1% (Gráfico 1). Na comparação interanual do mês de junho, o aumento do valor exportado em 1,4% é explicado pela maior variação positiva no volume (+6,1%) em comparação com a queda nos preços, -4,3%. Nas importações, o aumento do volume (+4,5%) também superou a queda dos preços (-0,6%).
Na comparação dos semestres, se repete o desempenho dos meses anteriores. A piora das exportações está associada a um recuo no volume exportado das commodities (-1,8%) e nos preços (-4,6%). As não commodities aumentaram em volume (+9,8%) e preços (+3,0%). Entre junho de 2024 e 2025, o volume exportado das commodities registrou variação positiva (+1,8%), mas abaixo do resultado das não commodities (+17,8%). No caso dos preços, todos os dois agregados registraram queda, mas enquanto para as não commodities a variação foi perto de zero, para as commodities foi de -6,4% (Gráfico 2).
As exportações das commodities explicaram 67% das exportações de janeiro a junho de 2025, onde as principais contribuições são da agropecuária e da indústria extrativa. Em termos de volume, na comparação mensal foi registrada queda na agropecuária (-11,9%) e aumento na extrativa de 10,1%. Na comparação do acumulado até junho, recuo de 3,2% da agro e queda na extrativa de 0,8%. O recuo nos preços de exportações das commodities é liderado pela extrativa, quedas de 14,8% (mensal) e 10,9% (acumulado até junho). Os preços na agropecuária aumentaram 4,4% (mensal) e 3,8% (acumulado). Em termos de valor, as exportações da agropecuária ficaram estagnadas e da extrativa recuaram 11,7%, na comparação dos dois primeiros semestres de 2024 e 2025.
As exportações em volume da indústria de transformação cresceram 14,5% entre os meses de junho e 5,4% na comparação do acumulado até junho de 2024 e 2025 (Gráfico 3). Em termos de valor, aumento de 10,2% (mensal) e 4,4% (acumulado até junho). Observa-se que o desempenho positivo da transformação foi explicado pelas não commodities dessa indústria. As commodities da transformação explicaram 46% do total exportado pelo setor e ficaram estagnadas, já as não commodities registraram aumento de 20,7%, na comparação entre os meses de junho. Em termos de volume, as commodities aumentaram 8,2% e as não commodities 21,0%. Entre as não commodities se destaca as exportações de automóveis, com crescimento de 114%, em termos de tonelada.
O desempenho das importações é explicado pela indústria de transformação, que explica quase a totalidade das compras externas do Brasil, cerca de 95%.
Em valor, as importações da transformação aumentaram 5,4%, 4,9% em volume e os preços 0,6% entre os meses de junho de 2024 e 2025. Na comparação interanual do acumulado do ano até junho de 2024 e 2025, as variações foram: +10,9% (valor), +12,9% (volume) e queda de 1,6% nos preços.
Ressalta-se o desempenho das importações. Desde janeiro, as variações em volume mensais entre 2025 e 2024 e entre 2024 e 2023 mostram que, exceto em abril e junho, as variações são maiores em 2025. No entanto, a tendência aponta para uma desaceleração das importações a partir de junho, enquanto que em 2024, a tendência era de alta (Gráfico 5).
Na comparação entre os dois primeiros semestres de 2024 e 2025, chama atenção a variação de +28% das importações de bens de capital da indústria de transformação em comparação com o recuo de 0,9% na agropecuária. Nas compras de bens intermediários, a diferença é menor, aumentos de 8,6% para a transformação e 8,0% para a agropecuária. Esses resultados mostram que o aumento das exportações da indústria de transformação está relacionado ao crescimento das importações do setor.
A variação em volume por categoria de uso. Na comparação do acumulado do ano, a maior variação está associada aos bens de capital (+27,9%), seguida de semiduráveis (+16,6%) e bens intermediários (+8,5%). A diferença está em relação à variação mensal. Enquanto entre os meses de maio de 2024 e 2025, os bens duráveis aumentaram em 41,3%, entre os meses de junho foi registrado recuo de 15,0%. Essas variações refletem importações de automóveis oriundos da China.
É possível observar alguma mudança na pauta de importações? A estrutura da pauta de importações do Brasil não mudou. No primeiro semestre de 2024, a participação percentual das categorias de uso nas importações totais era: bens de capital (15,5%); bens duráveis (5,2%); bens não duráveis (9,2%); bens semiduráveis (2,7%); e, bens intermediários (67,4%). No primeiro semestre de 2025, os percentuais são: bens de capital (17,8%); bens duráveis (4,4%); bens não duráveis (9,2%); bens semiduráveis (2,9%); e, bens intermediários (65,7%). Houve um aumento na participação dos bens de capital, mas os bens intermediários continuam, como ocorre na maior parte dos países no comércio mundial, a dominar a pauta de importações do Brasil.
A variação do volume exportado e importado pelos principais mercados na comparação dos primeiros semestres de 2024 e 2025. Em termos de volume exportado, a liderança é da Argentina (+58,8%). Para a China as exportações aumentaram em 1,8%, para os Estados Unidos em 2,3% e para a União Europeia ficaram estagnadas. Nas importações, a liderança é da China (+30,1%), seguida dos Estados Unidos (+14,2%). União Europeia (+1,3%) e queda na Argentina (-1,4%).
A queda no superávit nos 6 primeiros meses do ano foi liderada pela redução no saldo comercial com a China, que passou de US$ 22,4 bilhões para US$ 12,0 bilhões entre 2024 e 2025 e o aumento do déficit com os Estados Unidos de US$ 300 milhões para US$ 1,7 bilhões. A Argentina contribui de forma positiva, passando de um déficit para um superávit de US$ 3,0 bilhões e com a União Europeia o déficit aumentou da ordem de US$ 100 milhões para US$ 600 milhões.