charles-lagana-putz

12/07/2025

Trumpulência em ação: os impactos da tarifa de 50% sobre exportações brasileiras aos EUA

A carta enviada por Donald Trump ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, anunciando uma tarifa de 50% sobre todas as exportações brasileiras aos Estados Unidos a partir de 1º de agosto, marca um novo e preocupante capítulo nas relações entre os dois países. Tudo indica que, naquilo que Marcos Troyjo definiu como “Trumpulência” — uma combinação de opulência, exuberância e turbulência —, a última está prevalecendo. É hora de apertar os cintos: a turbulência da “Trumpulência” chegou ao Brasil.

Apesar de as empresas brasileiras serem, em geral, mais resilientes do que seus pares internacionais, por já terem enfrentado planos econômicos na hiperinflação, mudanças abruptas em juros, câmbio e regras fiscais, uma guerra tarifária com o segundo maior parceiro comercial do país é algo inédito, e para o qual a maioria não estava preparada.

Sabemos quais setores serão os mais afetados no curto prazo: aço, alumínio, proteína animal, suco de laranja, café, açúcar, celulose, autopeças e aviões regionais, entre outros. Mas o impacto vai além da balança comercial. Empresas de setores de menor expressão macroeconômica, mas com forte dependência de clientes nos EUA, também correm risco. Pode ser o caso de companhias dos setores de material escolar, brinquedos educativos e cosméticos naturais, cujas exportações para os EUA são significativas para suas receitas. Para essas empresas, a medida pode representar perdas substanciais de margem e até a inviabilidade de importantes contratos.

A médio prazo, o risco extrapola o comércio exterior. A depender da reação do Brasil, os efeitos podem atingir de forma ainda mais impactante o câmbio, a inflação, os juros e o emprego. Bravatas, neste momento, são combustível para crises: podem acelerar a desvalorização do real, pressionar preços internos e comprometer a retomada do crescimento. Lidar com esse cenário exigirá deixar de lado as emoções — será preciso pragmatismo, diplomacia e estratégia. A China soube lidar com Trump, calibrando respostas e evitando escaladas que fugissem ao controle.

Se há uma lição a extrair do histórico recente de Trump com China, Vietnã e Europa, é que há margem para negociação. O próprio texto da carta sinaliza que, se o Brasil reduzir tarifas e barreiras, a tarifa adicional poderá ser revista. Isso abre espaço para que Itamaraty, Ministério da Fazenda e ApexBrasil ajam em sintonia, construindo pontes em vez de trincheiras.

Enquanto isso, compradores de nossos produtos em outros mercados devem tentar renegociar preços em condições mais vantajosas, aproveitando a pressão que sofremos com a perda de acesso aos EUA. E pior: outros países correm para ocupar o espaço que deixamos aberto nos EUA. A posição relativamente privilegiada que o Brasil detinha no mercado americano se inverteu. Para que essa reversão não se torne permanente, precisaremos reagir com calma, inteligência e articulação internacional.

Por: Charles Putz, membro do Conselho do IBEF-SP e de conselhos de instituições e empresas no Brasil e no exterior.| O IBEF-SP — O Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças de São Paulo (IBEF-SP) é uma organização sem fins lucrativos, formada por profissionais do ecossistema de finanças e administração, cujo faturamento das empresas administradas representa 25% do PIB brasileiro. O IBEF-SP promove eventos técnicos, programas de certificações, pesquisas, premiações e eventos sociais, que proporcionam networking qualificado e ambiente de negócios. Em novembro de 2024, o instituto completou 51 anos. Seu objetivo principal é promover o compartilhamento de conteúdo atual e relevante à comunidade de finanças. Acesse ibefsp.com.br e saiba mais.