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03/07/2025

Igreja Católica lança declaração cobrando fim dos combustíveis fósseis e transição justa na COP30

Bispos da África, Ásia, América Latina e Caribe afirmam que a Santa Sé “não deixará de levantar a sua voz contra as injustiças ecológicas e sociais, lembrando que o clamor da Terra é também o clamor dos pobres”.

Pela primeira vez, as Conferências Católicas do Sul Global, representada pelos Bispos católicos da África, Ásia, América Latina e Caribe se reuniram numa manifestação coordenada para divulgar, no dia 1º de julho (terça-feira), uma declaração conjunta cobrando dos líderes mundiais uma resposta mais clara e justa na COP30 e a “implementação ambiciosa do Acordo de Paris”. Os três blocos continentais da Igreja Católica representam cerca de 821 milhões de fiéis — de acordo com o Escritório Central de Estatística da Igreja do Vaticano.

O texto marca a posição da Igreja católica pressionando governos a tomar medidas reais em relação à crise climática e antecipa as expectativas para a COP30, que será realizada em novembro em Belém (PA), e exige que os países “implementem NDCs ambiciosas e comuniquem ao mundo como implementarão as decisões coletivas tomadas em COPs anteriores, incluindo uma transição energética socialmente justa”.

A declaração foi lançada em coletiva na Sala de Imprensa do Vaticano. O documento foi escrito coletivamente por conferências e conselhos episcopais continentais, órgãos máximos da hierarquia católica. Entre os principais signatários estão os cardeais Jaime Spengler (Brasil), Fridolin Ambongo (Congo) e Filipe Neri Ferrão (Índia), além da teóloga Emilce Cuda, do Vaticano.

— A Igreja do Sul Global eleva seu clamor por justiça climática e cuidado com a nossa Casa Comum. Com coragem, oferece seu testemunho profético. Este texto reúne doutrina socioambiental e experiências práticas em diálogo com a ciência —declarou Dom Vicente de Paula Ferreira, bispo da Diocese de Livramento de Nossa Senhora, Bahia, Brasil, e presidente da Comissão Especial de Ecologia Integral e Mineração da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.

— É um grito de muitas vozes em defesa dos direitos humanos e de toda a criação, que denuncia falsas soluções do capitalismo verde, a financeirização da natureza e a violência de grandes projetos de mineração e energia. Tudo isso em nome de um modelo de desenvolvimento que beneficia apenas uma pequena parcela da população global, enquanto condena milhões à miséria 1disse.

O documento denuncia o retrocesso de muitos governos em compromissos assumidos nas COPs anteriores e aponta a responsabilidade dos países ricos e das grandes corporações na devastação ambiental. Entre outros compromissos, as Conferências Católicas do Sul Global anunciaram que criarão o “Observatório Eclesial de Justiça Climática”, por meio da Conferência Eclesial da Amazônia, para monitorar os compromissos das COPs e seu cumprimento no Sul Global, bem como denunciar compromissos não cumpridos. Reafirmam que a Igreja Católica —não deixará de levantar a sua voz contra as injustiças ecológicas e sociais, lembrando que o clamor da Terra é também o clamor dos pobres—.

O bispo brasileiro também destaca que a declaração é ao mesmo tempo uma mensagem de esperança, mostrando que a sustentabilidade da vida na Terra depende da proteção das florestas, das fontes de água, da agroecologia, dos povos indígenas, das comunidades quilombolas, das mulheres e de todos. —Que este documento inspire não apenas setores de nossas igrejas, mas também a sociedade global a abraçar um novo modo de vida baseado na ecologia integral—.

O lançamento do documento ocorre durante o décimo aniversário do Acordo de Paris sobre o clima e o décimo aniversário da Laudato Si’, a encíclica histórica do Papa Francisco sobre clima e ecologia. O Papa Francisco foi ativo no incentivo à adoção do Acordo de Paris, e o Vaticano tem promovido consistentemente ações urgentes e ambiciosas contra as mudanças climáticas na última década. Este ano, o ministério socioambiental do Vaticano, o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, está liderando uma campanha de um ano chamada Espalhando Esperança para incentivar a ação contínua.

A declaração do Sul global baseia-se nessa história, ao mesmo tempo que reconhece a nova liderança do Papa Leão XIV, particularmente a sua primeira declaração como papa incitando a Igreja a —construir um mundo novo onde reine a paz—.

Para Lorna Gold, diretora-executiva do Movimento Laudato Si’, rede global de católicos por justiça climática, o apelo mostra que “o Sul global está mostrando ao Norte o que é liderança verdadeira”. Segundo ela, “enquanto muitos Estados recuam em suas metas climáticas, a Igreja Católica se posiciona por soluções reais e justas para a crise”.

— Os combustíveis fósseis pertencem ao passado; o futuro deve ser alimentado por energia limpa e renovável. O Sul global, incluindo comunidades da Ásia-Pacífico, detém a sabedoria e a experiência necessárias para garantir que essa transição seja justa e equitativa para todos — afirmou Dom Allwyn D’Silva, presidente do Escritório de Desenvolvimento Humano da Federação das Conferências Episcopais Asiáticas.