evelyn-pereira

27/06/2025

O mercado de trabalho para pessoas LGBTQIAPN+

A decisão de escrever esse texto não veio de um impulso. Veio de um acúmulo. De vivências, silêncios, pequenas vitórias e grandes reflexões.

Assumir-se nunca foi apenas sobre declarar algo. O mundo me assumiu antes de mim mesma me aceitar como pessoa LGBTQIAPN+. Ainda criança, quando eu nem sabia o que era sexualidade, recebia olhares julgadores por brincar “brincadeiras de meninos” e ouvia comentários preconceituosos por eu não gostar de fazer penteados/usar vestidos como as outras garotas. Tentei me vestir — e, por vezes, até me maquiar — como as outras garotas, na esperança de caber em um espaço que, no fundo, nunca foi meu. Carreguei esse disfarce até o segundo ano do ensino médio.

Passei grande parte da minha vida em um ambiente religioso. Ali aprendi valores importantes que moldaram meu caráter, mas também vivi conflitos profundos e desafios que me fizeram, muitas vezes, questionar minha própria existência. Os desafios não faziam distinção de cenário: estavam em casa, na escola, na faculdade e também nos ambientes profissionais. Lembro com clareza da primeira vez em que comecei a buscar uma vaga de estágio. Já não me encaixava nos padrões de feminilidade esperados — e isso, por si só, foi suficiente para enfrentar barreiras nos processos seletivos. Parte de mim se sentiu traída por estar, enfim, sendo quem eu realmente era. Em resposta a isso, decidi deixar o cabelo crescer de novo, passei a usar batom nas entrevistas. E como se tudo fizesse parte de um roteiro já conhecido, as primeiras portas começaram a se abrir.

Vivências no ambiente corporativo — Muitos de nós, escondemos ser quem somos, gostar de quem gostamos, para conseguir se sustentar financeiramente. Segundo pesquisa divulgada pela CNN (2024), 53% de profissionais LGBT+ que atuam no mercado conhecem alguém que sofreu preconceito no trabalho, além disso, outros 24% afirmaram terem sido vítimas da mesma violência, motivada pela sua identidade, expressão de gênero ou orientação sexual. Ser quem se é, todos os dias, não é simples — é um ato de resistência. E poder fazer isso com verdade, no ambiente onde atuo, é o que me permite ser mais feliz. Diferente de muitas empresas que ainda julgam pela aparência, a Petronect constrói seus talentos olhando para o que realmente importa: atitude, entrega e competência.

É um fato que em alguns ambientes corporativos, ser uma pessoa LGBTQIAPN+ é sobre sustentar, todos os dias, quem se é — nos olhares, nas reuniões, nas piadas disfarçadas de normalidade. Estar presente nesses espaços nem sempre garante o sentimento de pertencimento, ele só acontece quando você realmente é acolhido e respeitado, como pessoa e profissional. Por isso, quando vejo que a Petronect abre espaços, promove escuta e investe em ações concretas para falar sobre o orgulho LGBTQIAPN+, entendo que minha jornada pessoal encontra eco nesse espaço. E isso faz diferença.

Visibilidade e Orgulho — O mês de junho, conhecido como Mês Internacional do Orgulho, busca desmitificar preconceitos e promover dignidade para diferentes formas de existir. Muitas pessoas ainda se moldam para não incomodar, para passarem despercebidas ou até mesmo para ter oportunidades na vida. A invisibilidade as vezes pode proteger, mas é também uma forma de apagar partes importantes de quem somos. Com o tempo, a gente entende que a presença — autêntica, sem disfarces — também é uma forma de abrir caminho para outras pessoas… E quantas pessoas precisaram lutar o bom combate para eu poder ser quem sou hoje. A visibilidade é um gesto político e afetivo: é dizer que estamos aqui, que ocupamos espaços, que temos voz.

O orgulho, para mim, é uma construção diária. Ele não nasceu pronto — ele foi ganhando forma à medida que fui me conhecendo, me respeitando e, sobretudo, me permitindo viver com verdade. Ser uma mulher lésbica não resume quem eu sou, mas é parte fundamental da minha história. E ter orgulho disso é transformar aquilo que antes me causava medo em força. Hoje, meu orgulho se manifesta em gestos simples: na forma como me visto, na tranquilidade com que falo da minha vida pessoal, no conforto de ser quem sou no trabalho. Porque o orgulho não é sobre superioridade — é sobre pertencimento.

Por: Evelyn Pereira, Assistente de Recursos Humanos da Petronect, responsável por treinamentos e pela comunicação interna da empresa. Com ela, a empresa alcançou a certificação GPTW pela primeira vez no ano de 2024, com a adesão de 96% dos colaboradores. | Petronect — A Petronect é o maior Marketplaces do Brasil com soluções B2B atendendo toda a cadeia de suprimentos do segmento de Energia, Óleo e Gás, desde a requisição até o pagamento de pedidos. A empresa, que tem sede no Rio de Janeiro é uma sociedade com participação tríplice composta pela Petrobras, pela SAP e pela Accenture e sua gestão é acompanhada por um Conselho de Administração. Sua missão é prover soluções eletrônicas para seus clientes, de forma simples e econômica, com agilidade e confiabilidade, consolidando-se como canal preferencial de negócios eletrônicos ao integrar clientes e fornecedores de bens, serviços e para as indústrias de óleo e gás. Com experiência de mais de 20 anos no mercado, registramos, em 2024, mais de 80 mil processos de compras realizados pela Petrobras, 37 mil usuários registrados Petrobras, somando 182 mil empresas cadastradas. Clientes: Araucaria Nitrogenados, Baixada Santista Energia, Pb Biocombustível, Petrobras, Petrobras América, Petrobras Colômbia, Petrobras Logística de Exploração e Produção, Petrobras Netherland, Termo Bahia, Termo Macaé e Transpetro.