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03/06/2025

Tecnologia a favor do planeta: eficiência de mãos dadas com a consciência

Tecnologias como nuvem e IA, quando bem aplicadas, têm potencial de também apoiar empresas e órgãos públicos em suas jornadas para se tornarem ambientalmente mais responsáveis.

Quando uma nova tecnologia desponta, é usual que ela seja vista como uma facilitadora do aumento da produtividade e da redução de custos. Porém, esses são normalmente apenas dois de seus atributos, possivelmente os mais fáceis de serem observados. Tecnologias altamente disseminadas como a nuvem e a inteligência artificial (IA) têm impactos mais profundos na experiência dos usuários, na detecção e correção de problemas, na qualidade das decisões tomadas pela liderança e até nas ações de sustentabilidade corporativa.

Em um cenário cada vez mais orientado por metas ESG (ambientais, sociais e de governança), a sustentabilidade deixou de ser uma pauta reputacional para se tornar um fator estratégico de competitividade. Reduzir a pegada de carbono tornou-se uma exigência do mercado, dos investidores e dos consumidores.O desafio que se impõe às corporações é mensurar essa pegada e encontrar formas factíveis e inteligentes de neutralizá-la.

Mas onde buscar essas respostas? Sim, na tecnologia, entre elas a computação em nuvem. Executivos atentos ao custo de suas operações de TI sabem que manter servidores locais não é apenas caro — é ambientalmente ineficiente. Um estudo da Accenture encomendado pela Amazon Web Services (AWS) estima que a infraestrutura de nuvem é até 4,1 vezes mais eficiente do que a infraestrutura local e, quando as cargas de trabalho são otimizadas, a pegada de carbono associada pode ser reduzida em até 99%. São números expressivos, que se tornam ambientalmente mais relevantes quando consideramos que pelo menos metade da infraestrutura global ainda está em data centers próprios de empresas e órgãos públicos.

Os grandes provedores de nuvem também têm seus compromissos de sustentabilidade. Por isso, operam data centers altamente otimizados, com gestão avançada de consumo energético e de água, além de reduzirem o consumo de materiais e de investirem na reciclagem. Indo mais além, investe-se consideravelmente em chips especializados em determinadas cargas de trabalho e em modernas tecnologias de refrigeração.

O resfriamento é estratégico nas ações de redução da pegada de carbono uma vez que ele é uma das maiores fontes de uso de energia em um data center. Para aumentar a eficiência, existem diferentes técnicas de resfriamento, incluindo resfriamento por ar livre, dependendo do local e da época do ano, bem como análise de dados em tempo real para se adaptar às condições climáticas. A implementação dessas estratégias inovadoras de eficiência energética e de resfriamento é mais desafiadora em menor escala, ou seja, em um data center local típico.

Outra tecnologia considerada por muitas pessoas como uma ameaça ambiental mas que pode ser convertida em aliada é a IA. Executivos que investem em IA não estão apenas automatizando processos e aumentando a produtividade: estão ganhando capacidade de prever, otimizar e reduzir impactos ambientais em larga escala. Indústrias utilizam IA para otimizar o consumo energético em linhas de produção, operadoras logísticas adotam IA para roteirizar entregas e otimizar o consumo de combustível, empresas do varejo utilizam algoritmos para prever a demanda com precisão, evitando excesso de estoques, desperdício e transporte desnecessário, e edifícios corporativos gerenciam a climatização de forma autônoma, com sensores e IA, reduzindo custos e emissões.

É possível fazer mais, como aplicar a IA no rastreamento de emissões das cadeias de fornecimento — uma dor crescente para empresas que precisam reportar escopos 1, 2 e 3 com transparência e precisão.

Naturalmente, a tecnologia também tem seu custo ambiental. A fabricação de hardware, o descarte de eletrônicos e o alto consumo energético de alguns modelos de IA devem ser levados em conta. No entanto, o seu uso “para o bem”, conforme vimos acima, e as novas abordagens de “IA verde” — como modelos otimizados e técnicas de aprendizagem mais eficientes — estão emergindo para equilibrar essa balança.

É possível usar a tecnologia com consciência ambiental. Para isso, minha recomendação à liderança empresarial é adotar uma postura proativa: priorizar soluções tecnológicas com menor impacto, estabelecer métricas claras de sustentabilidade e escolher parceiros comprometidos com práticas ambientais responsáveis. O futuro agradece.

Por: Paulo Cunha, diretor da AWS Brasil para o setor público.