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30/05/2025

Oportunidades e desafios para crescimento do mercado de veículos elétricos no Brasil

O mercado de veículos elétricos (VEs) tem vivenciado um avanço significativo ao redor do mundo, impulsionado pela urgência climática, avanços tecnológicos e mudanças no comportamento dos consumidores. No Brasil, embora ainda represente uma pequena parcela da frota total, o segmento também está em franca expansão.

O fato é que os consumidores têm mostrado maior interesse pelos veículos eletrificados, devido a maior conscientização ambiental, busca por economia de longo prazo e desejo de acesso às novas tecnologias embarcadas. A consequência imediata é que as vendas dobram a cada ano, especialmente de modelos mais acessíveis, como o BYD Dolphin.

Outro aspecto positivo para o consumo são os incentivos governamentais, como a isenção de IPVA em estados como São Paulo, o fim da alíquota de importação para certos modelos elétricos e a dispensa do rodízio municipal são importantes. Contribui ainda a adesão das empresas à agenda ESG, que tem gerado demanda por frotas mais limpas, e os investimentos de montadoras chinesas, como BYD, GWM, Neta Auto, entre outras, que já anunciaram a instalação de fábricas no Brasil. Esse movimento promete gerar empregos, transferência de tecnologia e ampliação da oferta de modelos.

Para ajudar, o Brasil tem grande potencial na cadeia de baterias, pois é rico em lítio, níquel, grafite e outros minerais estratégicos e, se bem explorado, pode se tornar um polo global de produção e exportação de baterias, agregando valor à cadeia automotiva.

Desafios para aceleração das vendas dos veículos elétricos — Porém, apesar de todas estas vantagens e grande mercado consumidor existem desafios, como a necessidade de redução de preços, porque os VEs custam significativamente mais do que os equivalentes a combustão. Outra questão é a infraestrutura de recarga, porque o país conta com cerca de 3.500 eletropostos (maioria no Sudeste), faltando a estruturação de uma rede robusta e confiável em outras regiões para viabilizar a ampliação da frota.

Há também uma deficiência na formação de profissionais (engenheiros, técnicos e mecânicos) para ampliar a produção e é preciso investir com urgência na qualificação destes talentos para evitar gargalos em manutenção e atendimento pós-venda. A cadeia de suprimentos também é insuficiente, com a maioria das baterias e componentes-chave sendo importados da Ásia, o que gera vulnerabilidades logísticas e cambiais. Ou seja, é urgente desenvolver fornecedores locais para garantir estabilidade.

Por último, as políticas públicas atuais são insuficientes, com incentivos fiscais variando entre os estados, o que torna fundamental uma regulamentação nacional clara e coordenada para dar maior segurança a investidores e consumidores.

Perfil do Consumidor Brasileiro de Ves — Hoje, o consumidor de carro elétrico no Brasil é majoritariamente das classes A e B (renda mensal acima de R$ 15 mil). Por consequência, pessoas com alta escolaridade, preocupadas com sustentabilidade e interessadas em tecnologia. As mulheres valorizam principalmente design, conforto e propósito ambiental e os homens eficiência e status de inovação. Ambos são “Early adopters” e influenciadores dentro de suas redes. Com a chegada de modelos mais acessíveis e melhora na infraestrutura, esse perfil tende a se expandir para a classe média urbana, jovens adultos e motoristas de aplicativo. Estes, especialmente Millenials e Geração Z, são mais propensas a adotar os VEs porque cresceram sob forte influência de pautas ambientais, têm afinidade com tecnologia e estão abertos a modelos de mobilidade flexível, como carro por assinatura ou compartilhado, valorizando marcas com propósito e inovação.

Prova disto é que um estudo recente da Mobiauto (2023) identificou que 62% dos entrevistados com menos de 35 anos considerariam adquirir um carro elétrico como próxima compra, contra só 38% dos maiores de 50 anos, porque o VE representa não só economia e sustentabilidade, mas também status e identidade.

Outra pesquisa da consultoria Economist Impact, encomendado pela Nissan, detectou que os jovens entre 18 e 30 anos, sobretudo nos grandes centros urbanos, estão mais propensos a adotar os VEs como forma de reduzir sua pegada de carbono. Realizada em 15 cidades ao redor do mundo, esta pesquisa apontou também que 57% das pessoas estão dispostas a mudar seus hábitos de transporte e que a posse de carros elétricos nesse grupo deve saltar de 23% para 35% até 2035.

O entusiasmo mostrou-se ainda maior em cidades emergentes, como São Paulo e Cidade do México, nas quais 44% pretendem dirigir um elétrico nos próximos cinco anos, frente a 31% nas cidades desenvolvidas. Enquanto os moradores de centros emergentes se preocupam mais com as baterias, os de regiões desenvolvidas destacam o custo elevado como principal barreira. Essa pesquisa destacou ainda a importância de soluções de mobilidade sustentáveis que conciliem acessibilidade, praticidade e inclusão, integrando veículos elétricos, transporte público e mobilidade compartilhada em redes conectadas e acessíveis.

A conclusão é que os VEs podem superar os carros a combustão nas vendas anuais no Brasil até 2035, se houver uma combinação de incentivos, aumento da competição e maior consciência ambiental. O mercado já está neste caminho com várias montadoras chinesas em processo de instalação ou expansão de suas operações por aqui, assim como outras fabricantes americanas e alemãs intensificando seus investimentos. A chave está em alinhar os esforços entre governo, iniciativa privada e sociedade para garantir uma transição energética justa, inclusiva e sustentável.

Gráficos e Análises Visuais — Crescimento da frota elétrica no Brasil (2017–2024): revela uma aceleração significativa a partir de 2020.

Comparativo entre frota a combustão e elétrica: destaca como os elétricos ainda representam uma fração pequena, mas com crescimento exponencial.

Projeção até 2030: indica a possibilidade de atingir 1,3 milhão de unidades em seis anos.

Participação percentual dos elétricos na frota total: mostra avanço de menos de 1% para cerca de 2,5%.

Distribuição de eletropostos por estado/região: aponta forte concentração no Sudeste, especialmente em São Paulo.

Por: Wladmir Molinari, Sócio-Diretor da Route Automotive.