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21/05/2025

Portos no limite: gargalos logísticos ameaçam a competitividade do agro brasileiro

O esgotamento da infraestrutura portuária brasileira tem se tornado um entrave cada vez mais crítico para o setor do agronegócio, afetando diretamente cadeias produtivas como a do café. Segundo Mario Veraldo, CEO da empresa de logística MTM Logix, os problemas não são mais pontuais, e tornaram-se estruturais. —Os portos operam hoje no limite. Equipamentos obsoletos, falta de manutenção e investimentos abaixo do necessário criam um cenário insustentável —alerta o especialista.

De acordo com Veraldo, o Brasil investiu apenas 2,2% do PIB em infraestrutura em 2024, quando seria necessário quase o dobro (4,3%) para suprir a demanda projetada para as próximas três décadas. Essa defasagem ocorre justamente em um momento de forte expansão das exportações do agronegócio, que alcançaram US$ 164,4 bilhões no último ano — quase metade (48,9%) das exportações totais do país.

Custo logístico crescente e atrasos nas exportações —Em março de 2025, o Brasil deixou de embarcar 637.767 sacas de café, equivalentes a cerca de 1.932 contêineres, devido aos gargalos logísticos, o que gerou um prejuízo de R$ 8,901 milhões, segundo o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé). Desde junho de 2024, houve um prejuízo de R$ 66,576 milhões com custos extras em função da estrutura defasada nos principais portos de escoamento de café do Brasil. O não embarque desse volume de café também fez com que o país deixasse de receber R$ 1,510 bilhão, como receita cambial em suas transações comerciais no mês de março deste ano.

Conforme o Boletim Detention Zero (DTZ), elaborado pela startup ElloX Digital, 55% dos navios, ou 179 de um total de 325 embarcações, tiveram atrasos ou alteração de escalas nos principais portos do Brasil em março de 2025. O tempo médio de espera de um contêiner nos portos pode ultrapassar 40 horas e, em alguns casos, chega a dez dias, especialmente em Santos. Veraldo explica que a capacidade instalada atual, de 234 milhões de toneladas, não dará conta da demanda projetada para 2028, que é estimada em 238,9 milhões de toneladas.

—É preciso ampliar e modernizar os portos urgentemente, desburocratizar processos e investir em tecnologia e alternativas logísticas, como os portos do Arco Norte, que vêm se consolidando como uma rota estratégica para o escoamento da produção agrícola brasileira —defende o CEO.

Impactos no setor cafeeiro —Na outra ponta da cadeia, os reflexos chegam diretamente ao produtor. Rodrigo Reis, gerente de logística da Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado (Expocacer), relata que os gargalos afetam desde o planejamento operacional até a receita dos cooperados. —Os custos operacionais extras poderiam ser usados na valorização do café. Ao invés disso, são canalizados para contornar falhas estruturais —afirma.

Segundo Reis, a Expocacer adota uma gestão preventiva, com planejamento logístico antecipado e escolha criteriosa de armadores. Ainda assim, enfrenta problemas recorrentes como indisponibilidade de contêineres, alteração de deadlines dos navios e altos custos com pedágios em rodovias de pista simples.

—A falta de previsibilidade afeta toda a cadeia. Quando o navio atrasa ou antecipa, precisamos reposicionar contêineres, pagar taxas de detention e arcar com prazos estourados. Isso gera um efeito cascata de ineficiência e custo— explica Reis.

Para mitigar os prejuízos, a cooperativa intensificou sua atuação institucional. A Expocacer é ativa nos Comitês Logísticos do Cecafé e acompanha as diretrizes da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), buscando representatividade junto aos órgãos reguladores. Internamente, criou um setor dedicado à auditoria das cobranças portuárias, o que tem permitido a reversão de tarifas indevidas e a redução do impacto financeiro sobre os produtores.

—O Brasil precisa repensar sua logística com urgência. Não adianta promover comercialmente o nosso café no exterior se não conseguimos embarcá-lo com previsibilidade e custo competitivo. Seguimos operando com uma infraestrutura que parou no tempo. Enquanto isso, o volume exportado cresce ano após ano. Essa conta não fecha— conclui Reis.

Soluções —De acordo com a MTM Logix, o cenário exige ação coordenada entre governo, setor privado e produtores. Sem isso, o Brasil corre o risco de ver sua competitividade escorrer pelos vãos de uma logística que já não acompanha seu próprio potencial.

—A digitalização e a automação despontam como ferramentas estratégicas para transformar a logística portuária brasileira, hoje marcada por ineficiências e altos custos. A adoção de tecnologias inteligentes permite acelerar processos, reduzir erros operacionais e melhorar a gestão das informações ao longo de toda a cadeia logística. Sistemas automatizados agilizam desde a liberação de cargas até o gerenciamento de estoques, diminuindo o tempo de espera e aumentando a produtividade nos terminais—afirma Veraldo.

Além disso, a integração digital entre transportadoras, armadores, operadores portuários e órgãos reguladores viabiliza uma comunicação mais fluida e decisões mais assertivas.

—Para que essa modernização ocorra em escala, no entanto, é indispensável o engajamento do poder público. Políticas voltadas à ampliação dos investimentos em infraestrutura, incentivo à iniciativa privada, desburocratização regulatória, integração entre modais de transporte e qualificação da mão de obra são medidas urgentes para destravar o sistema e preparar os portos brasileiros para os desafios logísticos do futuro— finaliza o CEO.

Expocacer —Com sede em Patrocínio-MG, a Expocacer há 31 anos é protagonista na promoção de uma produção sustentável de cafés de alta qualidade na Região do Cerrado Mineiro, valorizando o trabalho de seus produtores e fomentando o desenvolvimento econômico regional. A cooperativa apoia mais de 730 cooperados e conta com uma infraestrutura que inclui armazéns com capacidade para mais de 1 milhão de sacas, exportadas para mais de 35 países em cinco continentes.

MTM Logix —A MTM Logix é uma empresa 100% focada em torres de controle para embarques internacionais. Ela cria soluções totalmente personalizáveis, automatizadas e escaláveis para seus clientes. A empresa atende clientes no México, Guatemala, Honduras, El Salvador, Nicarágua, Brasil e Estados Unidos. A empresa combina tecnologia e atendimento ao consumidor de maneira incomparável para fornecer um nível único de controle às remessas de seus clientes.