Alerta, Brasil! O mundo está redesenhando seu mapa econômico. Pense nisso como um grande jogo global, em que países e empresas buscam novos elos, ou seja, lugares seguros e estratégicos para investir, produzir e fazer negócios. Nesta dança das cadeiras, uma pergunta ecoa nos centros de decisão internacionais: Onde podemos confiar? Quem será nosso parceiro para as próximas décadas?
Enquanto o mercado financeiro olha para seus gráficos em formatos de dente de serra para surfar na próxima oportunidade ou declaração de Trump, chamo atenção para o fato de que não é apenas mais uma crise passageira ou uma mudança superficial: estamos vivendo um momento histórico, impulsionado por tensões geopolíticas, como a guerra comercial entre EUA e China. Todavia, estão na pauta cotidiana as temáticas da urgência climática e dos avanços tecnológicos que estão virando as indústrias de cabeça para baixo. Empresas globais estão analisando onde colocar suas fábricas, de onde comprar seus insumos, com quem desenvolver as tecnologias do futuro. Elas buscam resiliência, segurança e valores compartilhados.
E o Brasil? Onde entramos nessa história? Temos um potencial imenso: recursos naturais abundantes, um mercado interno gigante, capacidade de gerar energia limpa como poucos, uma base industrial e agronegócio potentes. Somos a “bola da vez”, grife-se, em potencial. Mas potencial, por si só, não paga as contas nem atrai os bilhões de dólares em investimentos que podem transformar nossa realidade.
Como pensa o investidor estrangeiro (e por que isso importa para você)? Imagine um grande investidor ou o presidente de uma multinacional decidindo onde aplicar milhões ou bilhões. O que ele busca?
Estabilidade e previsibilidade, afinal serão investimentos que só se pagam em décadas. Ele quer saber se as regras do jogo não vão mudar a cada novo governo ou crise política. Precisa de segurança jurídica – a certeza de que contratos serão cumpridos e leis respeitadas. Ninguém investe pesado em “areia movediça”.
Ambiente de negócios funcional, visto que é necessária eficiência e eficácia nas operações. A burocracia excessiva, os impostos complexos e que mudam toda hora, a infraestrutura deficiente (estradas, portos, elétrica, internet) – tudo isso é custo e risco na planilha dele.
Empresas modernas precisam de gente qualificada, de universidades que pesquisam, de um ecossistema que respire inovação. Não buscam apenas mão de obra barata, mas cérebros e capacidade de criar.
Sustentabilidade no sentido técnico e não ativista do conceito. Cada vez mais, investidores e consumidores globais cobram responsabilidade ambiental, social e de governança (ESG). Países que destroem suas florestas, ignoram direitos humanos ou têm corrupção endêmica perdem pontos (e dinheiro). Ser “verde” e “justo” tem que deixar de ser discurso e virar cálculo, física, química, engenharia, tecnologia, isto é, voltar a ser um case econômico-financeiro, como foi em sua origem.
Negócios transformadores, em contraste com predadores, buscam países que sejam não apenas fornecedores, mas parceiros na construção de soluções para os desafios globais (energia limpa, segurança alimentar e saúde).
O que precisamos fazer, e rápido, para virar o jogo? Se queremos ser esse parceiro confiável e atrair os investimentos que podem gerar empregos de qualidade, renda e desenvolvimento aqui dentro, precisamos parar de “apagar incêndios” e começar a construir pontes para o futuro. Isso exige escolhas estratégicas e coragem política.
Arrumar a casa ajustando questões fiscais com inteligência e justiça. Sim, precisamos equilibrar as contas, mas não adianta fazer isso penalizando quem menos pode e mantendo privilégios. Um ajuste fiscal justo, que corte gastos ineficientes e revise privilégios, como isenções fiscais sem retorno e penduricalhos, sinaliza maturidade e responsabilidade – música para os ouvidos de investidores sérios. O debate é estratégico.
Precisamos direcionar o dinheiro público e atrair o privado para o que realmente importa: educação de qualidade, do básico ao técnico e superior, infraestrutura moderna (logística, energia, saneamento, conectividade) e ciência e tecnologia. Isso é preparar o terreno para a economia do século XXI.
Temos a faca e o queijo na mão para liderar a transição energética e a agricultura sustentável. Investimentos assertivos feitos há décadas, nos trouxeram estes ativos (geradores de caixa). Precisamos de uma política industrial moderna e verde, com regras claras e incentivos corretos, que transforme nosso potencial ambiental em vantagem competitiva real. Entenda-se política aqui é dito “o como fazer”.
Garantir instituições fortes, regras claras e um sistema tributário mais simples e justo são fundamentais. Menos burocracia, mais segurança para quem quer produzir e investir no Brasil.
Promover redução de desigualdades de oportunidades como estratégia. Um país menos desigual é um país mais estável, com um mercado consumidor mais forte e menos conflitos sociais. Investir em inclusão em facilitar acesso e não somente dar assistência, não é só um dever moral, é inteligência econômica para atrair parceiros de longo prazo.
Este rearranjo global é uma oportunidade histórica. Trata-se do tipo de emprego que teremos, da qualidade de vida em nossas cidades, do futuro que deixaremos para os nossos. Ser o “parceiro confiável” que o mundo procura exige ação concreta, visão de longo prazo e um pacto nacional que envolva governo, empresas e sociedade civil. As decisões (ou a falta delas) que tomamos hoje definirão se o Brasil será protagonista ou mero espectador desta grande virada global.
O debate precisa subir de nível. Será que é a hora de mostrar ao mundo – e a nós mesmos – que estamos prontos para construir um futuro mais próspero e justo?
Não podemos mais perder tempo com remendos e disputas menores enquanto o trem da história passa.
Que, pelo menos, vire debate dos nossos almoços de domingo. Da maratona, já é um passo!
• Por: Maurício Takahashi, professor de Ciências Econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), Campus Alphaville | *O conteúdo dos artigos assinados não representa necessariamente a opinião do Mackenzie. | A Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) foi eleita como a melhor instituição de educação privada do Estado de São Paulo em 2023, de acordo com o Ranking Universitário Folha 2023 (RUF). Segundo o ranking QS Latin America & The Caribbean Ranking, o Guia da Faculdade Quero Educação e Estadão, é também reconhecida entre as melhores instituições de ensino da América do Sul. Com mais de 70 anos, a UPM possui três campi no estado de São Paulo, em Higienópolis, Alphaville e Campinas. Os cursos oferecidos pela UPM contemplam Graduação, Pós-Graduação, Mestrado e Doutorado, Extensão, EaD, Cursos In Company e Centro de Línguas Estrangeiras.