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04/11/2025

O show da Black Friday começa nos bastidores: a orquestra da cadeia de suprimentos

Para muitos varejistas, a Black Friday é o evento mais aguardado do ano, uma oportunidade de ouro para alavancar as vendas e conquistar novos clientes. No entanto, não é raro que promoções imperdíveis que levem ao frustrante aviso de “produto esgotado”. A famosa ruptura de estoque, especialmente em uma data tão estratégica, não representa apenas uma venda perdida, ela pode comprometer a reputação da marca, o que pode levar tempo para ser revertido. Dados da Delaware Brasil, de 2024, mostram que as perdas com ruptura de estoque no varejo brasileiro chegam a R$ 53 bilhões por ano.

Diante desse cenário, fica claro que o sucesso da Black Friday não se constrói apenas com um site rápido e campanhas de marketing atraentes. Ele depende de uma engrenagem logística afinada de ponta a ponta, capaz de prever, produzir, armazenar e entregar sem falhas. Ou seja, uma verdadeira orquestração da cadeia de suprimentos.

A jornada começa com uma pergunta básica: “quanto vamos vender?”, e a resposta não pode ser um palpite. Aqui, a colaboração entre as equipes de vendas, marketing e operações, através de um processo de sales and operations planning, torna-se crucial. Essa sinergia alimenta o sistema de gestão que, com o suporte de inteligência artificial e machine learning, analisa dados históricos, tendências de mercado e o impacto de campanhas para gerar uma previsão de demanda muito mais precisa.

Com essa projeção em mãos, o planejamento avançado da produção (APS) entra em cena, otimizando o chão de fábrica para garantir que a capacidade produtiva e a matéria-prima estejam disponíveis para atender aos picos de pedidos, evitando tanto a ruptura quanto o excesso de estoque, que imobiliza capital.

Com os produtos fabricados, o foco se volta para o coração da operação: o centro de distribuição. Em uma Black Friday, a gestão manual do armazém é impraticável. A eficiência exige um sistema WMS, que vai muito além de um simples controle de estoque. Estrategicamente, gestores podem usar o WMS para orquestrar o slotting dinâmico, posicionando os produtos de maior giro em locais de fácil acesso para acelerar a separação. O sistema também organiza o picking por ondas ou lotes, agrupando pedidos similares para otimizar o trabalho da equipe. E para evitar gargalos no pátio, um YMS pode agendar o recebimento de mercadorias e a saída de caminhões, garantindo fluidez total.

Em uma operação omnichannel, o WMS é o cérebro que garante a acuracidade do estoque unificado, assegurando que o mesmo item não seja vendido duas vezes, seja no e-commerce próprio, nos marketplaces ou nas lojas físicas.

Finalmente, o produto precisa chegar ao cliente. Essa fase derradeira é o momento da verdade. Uma operação de transporte de sucesso na Black Friday depende de um TMS robusto. A estratégia aqui é a diversificação: em vez de depender de uma única transportadora, o TMS permite gerenciar múltiplos parceiros, selecionando o melhor para cada rota com base em custo, prazo e performance. Seus algoritmos de otimização de rotas calculam os trajetos mais eficientes, considerando trânsito e janelas de entrega, reduzindo custos com combustível e aumentando a produtividade da frota. Além disso, a funcionalidade de tracking (rastreamento) integrada ao TMS oferece ao cliente a visibilidade em tempo real do seu pedido, um fator que diminui a ansiedade, reduz chamados no SAC e melhora a experiência de compra, impactando na fidelização à marca.

Podemos dizer então que uma Black Friday de sucesso é uma sinfonia executada com maestria. Da previsão de demanda colaborativa na indústria, passando pela separação inteligente no armazém, até a entrega otimizada na casa do consumidor, cada etapa precisa estar em perfeita harmonia. A tecnologia, com sistemas como ERP, APS, WMS, YMS e TMS (haja siglas e tecnologias!), atua como o maestro dessa orquestra.

Mas não se engane, a verdadeira excelência vem da estratégia por trás das ferramentas: planejamento integrado, processos otimizados e uma colaboração transparente entre todas as equipes. Investir nessa orquestração completa é a única garantia de que a maior data do varejo será sinônimo de crescimento e satisfação, e não de frustração.

Por: Angela Gheller, diretora de produtos para Logística da Totvs.