Com o fim do bônus demográfico, o Brasil precisa concluir reformas estruturais, aportar tecnologia, melhorar ambiente de negócios e aumentar a participação feminina na força de trabalho.
A primeira palestra do Congresso Internacional Abit 2025, promovido pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção e aberto no dia 29 de outubro (quarta-feira), na sede da Federação das Indústrias do Estado de São paulo (Fiesp), em São Paulo, tratou de um tema decisivo para o futuro da economia brasileira e mundial: a produtividade. Bráulio Borges, economista sênior da Four Inteligência, diretor da LCA Consultores, pesquisador associado do FGV IBRE e membro consultivo do Instituto Clima e Sociedade (iCS), traçou um panorama sobre o cenário macroeconômico e os desafios que se impõem diante do enfraquecimento do crescimento global e das transformações demográficas em curso.
Segundo Borges, o ambiente internacional segue marcado por incertezas e elevada volatilidade, com reflexos diretos sobre o investimento, o consumo, o crédito e o endividamento. —Não estamos prevendo um colapso do crescimento, mas o PIB global está desacelerando—afirmou. Ele observou que esse crescimento fraco dificulta a redução dos déficits públicos e aumenta a instabilidade política, já que, em muitos países, cresce a insatisfação da sociedade com os resultados dos governos, abrindo espaço para o avanço de lideranças populistas.
O economista destacou a produtividade, tema central do Congresso Abit, como elemento-chave para contornar as limitações estruturais que travam o crescimento. —Esse é o aspecto que permite elevar o nível de renda e competitividade de uma economia —disse. Um dos fatores que historicamente contribuiu para ganhos de produtividade, segundo Borges, foi o chamado bônus demográfico, que ocorre quando a maior parte da população está em idade produtiva e inserida no mercado de trabalho.
Esse fenômeno, porém, está se esgotando. —O crescimento da população mundial caiu de 2% nos anos 1990 para cerca de 1% atualmente. A idade média global era de 25 anos, passou para 35 e deve chegar a 45 até o final do século— observou. No caso brasileiro, ele alertou que o País já não usufrui mais desse bônus e, a partir da próxima década, enfrentará o ônus demográfico, quando a proporção de pessoas idosas e em idade inferior à do início do trabalho ultrapassará a de trabalhadores ativos.
Borges lembrou que países desenvolvidos conseguiram mitigar esse processo por meio da imigração, mas esse caminho vem sendo revertido. —Nos Estados Unidos, por exemplo, cresce a política de restrição à entrada de imigrantes. Essa mudança tende a reduzir a produtividade, pois limita a reposição da força de trabalho —destacou.
Diante dessa transição, ele defendeu que o Brasil precisa reforçar outros mecanismos de estímulo à produtividade, como a implementação de reformas estruturais, a melhoria do ambiente de negócios, o aumento da participação feminina no mercado de trabalho e o estímulo a fluxos migratórios. Também apontou a necessidade de adotar e desenvolver tecnologias, sobretudo ligadas à inteligência artificial, para compensar o impacto da queda demográfica.
Outro caminho, segundo Borges, é melhorar a eficiência do gasto público. Ele citou estudo do Fundo Monetário Internacional (FMI) mostrando que países que utilizam melhor seus recursos conseguem elevar o PIB potencial. —É possível remanejar recursos de determinadas rubricas para ampliar o investimento público, que tem efeito multiplicador sobre o crescimento— explicou.
O economista avaliou que a reforma tributária, recentemente aprovada, poderá contribuir para um aumento do PIB de 5% a 10% ao longo dos próximos 15 anos. Porém, essa é uma transição gradual.
A palestra foi mediada por Fernando Valente Pimentel, diretor-superintendente e presidente emérito da Abit, que questionou o economista sobre a descoordenação entre as políticas fiscal e monetária. Borges respondeu que o País ainda não reúne condições para sustentar meta de inflação de 3%, reduzida recentemente pelo Conselho Monetário Nacional. “Essa meta é superestimada e impõe uma pressão excessiva sobre a taxa básica de juros”, avaliou. Ele defendeu maior coordenação entre as políticas monetária e fiscal, embora tenha ressaltado a dificuldade de o Governo Federal coordenar os gastos de estados e municípios, que respondem por parcela significativa do déficit público.
Ao comentar a perspectiva para 2026, ano de eleições, Copa do Mundo e com 11 feriados nacionais, prenunciando dificuldades para o desempenho da economia, Pimentel provocou o economista sobre o que esperar de um cenário potencialmente mais turbulento. Borges ponderou que, do ponto de vista macroeconômico, aumentar a produtividade não significa apenas produzir mais com os mesmos recursos, mas também agregar valor ao que se produz.
No caso da indústria têxtil e de confecção, destacou, o desafio é buscar diferenciação. “É difícil competir com países onde o custo da mão de obra é mais baixo. Por isso, o caminho está em elevar o valor agregado dos produtos, investir em inovação e design e ganhar produtividade em toda a cadeia”, concluiu.
O Congresso Abit — Reúne mais de 400 congressistas presencialmente, conta com cerca de 30 painelistas nacionais e internacionais. Neste ano, conta com a parceria estratégica da Systêxtil e SENAI Cetiqt, além do apoio institucional do Programa Texbrasil e ApexBrasil. Patrocínio: BNDES, Governo Federal, Sebrae, Abrapa, Bayer, Finep, Jolitex e FIEMG entre outros. Informações e inscrições em www.congressoabit.com.br.
Abit — A Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), fundada em 21 de fevereiro de 1957, é uma das mais importantes entidades dentre os setores econômicos do País. Representa a força produtiva de 25,3 mil empresas instaladas por todo o território nacional, de todos os portes, que empregam mais de 1,3 milhão de trabalhadores e geram, juntas, um faturamento anual (em 2024) de R$ 212,6 bilhões.