A pergunta já não é mais se o Halloween é uma festa brasileira. A verdadeira questão é: de que forma o Brasil reinventou o Halloween à sua maneira? Os dados mostram que essa data deixou de ser um evento importado para se tornar um fenômeno local de comportamento e consumo. Cerca de 62% dos consumidores comemoraram o Dia das Bruxas em 2023. E a projeção de 2025 é de que a cada 3 brasileiros, pelo menos 1 deve celebrar a data de alguma forma. O impulso vem, sobretudo, da Geração Z, que já adotou o Halloween como um marco cultural, 80% comemora e 91% pretende celebrar ativamente.
Mas o ponto central é que o Halloween à brasileira não é uma cópia do modelo americano. Ele tem estética global, mas alma local. A festa ganhou contornos próprios, misturando fantasia com moda, música, performance e cultura pop. No Brasil, o Halloween se comporta como o “ensaio geral do Carnaval”, uma celebração da criatividade e da liberdade estética. As análises feitas pelo InstitutoZ, núcleo de pesquisas da Trope, mostram que temas ligados a fantasias têm picos de interesse tanto em outubro quanto em fevereiro. É a prova de que o brasileiro transformou a data em mais um momento para brilhar e performar seus próprios valores e gostos pessoais.
Eventos como o Baile da Sephora exemplificam essa apropriação: moda, arte, make e cultura pop nacional se misturam em um espetáculo que traduz a potência criativa do país. Marcas que entendem esse movimento deixam de apenas “participar” da data para se tornarem parte da conversa cultural. Elas não importam o Halloween; elas o reinterpretam e, com isso, ganham relevância real.
O crescimento dessa data também tem uma explicação social e econômica. Para a Geração Z, o Halloween é menos sobre susto e mais sobre expressão, um palco para experimentar identidades, testar visuais e criar momentos compartilháveis nas redes. Plataformas como TikTok e Instagram impulsionam esse comportamento, transformando o “look de Halloween” em uma forma de conteúdo, e não apenas em uma fantasia de uma noite. O consumo, portanto, passa a ser simbólico: não se trata apenas de comprar uma fantasia, mas de construir uma narrativa pessoal dentro de um movimento coletivo.
Essa dinâmica cria um território fértil para as marcas que entendem o poder do pertencimento cultural. As que se conectam a esse espírito de celebração autêntica, seja por meio de collabs com creators, experiências imersivas ou ativações com propósito, conseguem transcender o marketing de oportunidade. Elas participam da festa não como convidadas, mas como coautoras. O Halloween no Brasil é, hoje, um espelho do novo consumo: criativo, digital e emocional.
Quando olhamos para o Halloween brasileiro, enxergamos uma nova expressão da nossa identidade cultural: diversa, híbrida, colaborativa. É o mesmo país que transformou o Carnaval em uma linguagem universal, agora transformando o Halloween em mais uma vitrine de criatividade e pertencimento.
O Halloween pode, e deve, ser uma celebração da nossa imaginação coletiva. Não é mais “a festa americana que o Brasil copia”. É a festa global que o Brasil traduziu com seu próprio sotaque. O Brasil tem, sim, o nosso Halloween, e ele fala português com orgulho, glitter e originalidade.
• Por: Luiz Menezes, fundador da Trope, uma consultoria de geração Z e Alpha que ajuda marcas a rejuvenescerem suas estratégias de negócio através da creator economy. Aos 25 anos, Luiz é nativo digital, creator, apresentador, empresário e empreendedor. Presente no mercado e atuando na área de comunicação há 9 anos, o especialista acumula experiência em organização de eventos voltados à cultura pop e geek, prestação de serviços de marketing de influência e digital PR para grandes marcas, como Meta, Itaú, BRF, Mondelez, P&G, Oi, entre outras.