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23/10/2025

Governos do Brasil e EUA ensaiam aproximação, mas impacto econômico deve ser limitado, vê Moody’s

As disputas sobre o papel de destaque do Brasil no bloco BRICS de economias emergentes e as barreiras comerciais não tarifárias não devem desaparecer tão cedo. Além disso, a complexa rede de barreiras não tarifárias do Brasil torna improvável que empresas americanas concorrendo no mercado brasileiro encontrem condições mais favoráveis no curto prazo, mesmo que haja vontade política para desmontá-las.

Representantes de alto escalão dos Estados Unidos , Donald Trump e do Brasil Lula se reuniram em Washington na semana passada para iniciar negociações voltadas à disputa tarifária entre os dois países. Embora se aguarde avanços nas negociações antes de incorporar qualquer mudança à projeção-base, já é possível vislumbrar os contornos de um possível acordo comercial. No entanto, de acordo com o úlitimo relatório da Moody’s Analytics, os efeitos macroeconômicos de um eventual acordo seriam provavelmente marginais, dado que já se esperava que Donald Trump aliviasse unilateralmente tarifas sobre bens de consumo chave importados do Brasil.

Inicialmente, a previsão da Moody’s Analytics era que a tarifa efetiva dos EUA sobre o Brasil diminuiria ao longo do próximo ano (2026) devido a mudanças nos fluxos comerciais globais e isenções unilaterais para bens de consumo como café e carne bovina. Um acordo entre Trump e Lula aceleraria essa queda, mas não alteraria significativamente o panorama macroeconômico dos EUA ou do Brasil. Qualquer benefício adicional, como tratamento preferencial para empresas mineradoras dos EUA que investem em depósitos de terras raras no Brasil, levaria mais tempo para se concretizar, dado o baixo nível de produção atual no país e a infraestrutura associada.

Há evidências abundantes de desvio comercial. As exportações brasileiras de soja e milho para a China dispararam este ano, enquanto dados do Departamento de Agricultura dos EUA disponíveis até a primeira semana de outubro mostram compras mínimas de soja americana pela China no atual ano comercial. Tradicionalmente, a China compra cerca de um terço de sua soja dos EUA em agosto, com o restante em setembro e outubro. O Brasil continuará se beneficiando do desvio comercial, o que reduzirá o impacto das tarifas remanescentes dos EUA sobre suas exportações.

Conforme a atualização anterior da Moody’s Analytics, não se espera que a tarifa efetiva dos EUA volte aos níveis baixos que prevaleciam antes de janeiro. O alívio combinado de um acordo comercial e da reorientação das exportações agrícolas do Brasil ainda deixará as tarifas bem acima do patamar anterior ao início do segundo mandato de Trump. Também é improvável que o alívio iguale o concedido a parceiros comerciais mais próximos dos EUA, como a União Europeia, Japão e Reino Unido.

Barreiras: — As disputas sobre o papel de destaque do Brasil no bloco BRICS de economias emergentes e as barreiras comerciais não tarifárias não devem desaparecer tão cedo. Além disso, a complexa rede de barreiras não tarifárias do Brasil torna improvável que empresas americanas concorrendo no mercado brasileiro encontrem condições mais favoráveis no curto prazo, mesmo que haja vontade política para desmontá-las— analisa Moody’s.