Hoje trabalhando com uma vertical de Creative Strategy – que desenha sistemas e frameworks de criativos para times de performance – já conseguimos enxergar o uso de sistemas multi-agentes de IA para praticamente todas as etapas do processo (pesquisa, análise, briefing, roteiro, produção, pós-produção, gestão de mídia etc).
Os principais modelos de IA no mercado são, é claro, os agentes, que cumprem funções específicas como: agente de social listening; agente de benchmarking; agente de desk research e análise de formulários de pesquisa. Já os sistemas multiagentes (equipes agênticas) trocam informações entre si e definem passos com o mínimo de interação humana. Nessas equipes, há inteligências artificiais que “lideram” setores e trocam informações gerenciais.
E isso sem mencionar os copy chiefs, que são os prompts que atuam como braço direito para roteiristas e copywriters. Designers e editores de vídeo, por exemplo, usam plataformas como Kling AI e Higgsfield para transformar imagens estáticas em vídeos, trocar roupas, cenários e objetos ou dar vida a ideias até então complexas de executar.
Mas quando falamos de inovação, rompemos essa bolha brutalmente. O uso da inteligência artificial vai muito além da criação de conteúdo, já está transformando a biologia, a tecnologia e o mundo dos negócios. Essa é sempre a pauta de uma das minhas palestrantes favoritas, futurista, pesquisadora e professora da NYU – Amy Webb.
Sempre brinco que o lançamento do seu Tech Trends Report no SXSW é um dos meus marcos de zeitgeist favorito do ano.
Essas reflexões vêm sendo reforçadas em diferentes palcos globais, de painéis como o SXSW, nos Estados Unidos, a discussões acadêmicas e fóruns de tecnologia no Brasil, onde especialistas debatem como adaptar as transformações tecnológicas ao contexto plural e complexo do país.
Em suas provocações, Amy Webb ilustra o impacto dessas tecnologias com exemplos reais de figuras conhecidas do Brasil, como Virginia Fonseca, reforçando como o avanço da IA pode transformar o consumo, a criação e a distribuição de conteúdo em nível sistêmico.
A futurista levanta uma das mais preocupantes bandeiras em relação aos sistemas de agentes de IA e a maneira como podem produzir conteúdo e distribuir por canais em escala. Embora seja de fato promissor, a combinação do potencial brasileiro no mercado de influência com tecnologias capazes de criar figuras digitais realistas pode nos levar para algo mais próximo da Teoria da Internet Morta – onde o conteúdo das redes sociais digitais é tomado por IAs, tanto que produzem, como que consomem.
O que temos hoje são creators que sabem utilizar seus canais de distribuição e ocupar os espaços da mídia tal qual tínhamos com TV, rádio e jornal. Com esses sistemas de inteligência artificial evoluídos e cada vez mais ferramentas de criação audiovisual como o Google VEO-3, cada vez mais avatares digitais podem ser criados e distribuir seu conteúdo em massa, de maneira sistemática, ocupando espaços de nicho na internet, convencendo pessoas sobre informações (que podem ou não ser reais) ou até mesmo vendendo produtos que nunca consumiram, mas que possuem o link direto de compra no vídeo.
Isso já era bem comum com marcas internacionais com ferramentas como HeyGen, ArcAds, Icon.Me ou qualquer outra plataforma que utilizava banco de dados de pessoas que venderam seus direitos de imagem para reproduzir avatares digitais que leem textos e podemos colocar em diferentes cenários (carro, cozinha, quarto etc).
Amy Webb, tanto em painéis nos EUA quanto em outros fóruns internacionais, alerta que o impacto dessas tecnologias vai muito além do marketing: pode mudar como consumimos, confiamos e interagimos online.
Isso nos faz questionar o futuro da criação de conteúdo. Será que os criadores de conteúdo estão em desvantagem competindo com IAs que produzem em volume e assertividade muito maior que a capacidade humana? Ou será que a vantagem vai vir justamente dessa falta de humanização e o conteúdo do criador vai ser sua ferramenta de destaque?
Acredito que não só a autenticidade da mensagem, mas a habilidade dos creators de conduzir sua comunidade para além dos “espaços alugados” sempre foi o real diferencial no contexto de overdose de conteúdo, e isso não muda com a IA. A tendência é de migração ou transformação da plataforma onde consumimos conteúdo, com o criador se tornando a plataforma por meio de tecnologias como a blockchain.
É interessante ver esse pensamento se materializar com creators ocupando cada vez mais espaços estratégicos de inovação, deixando de ser apenas entretenimento para se tornarem força de reflexão social. Afinal, o ecossistema da creator economy é composto por criadores, anunciantes, plataformas, usuários e todos os demais negócios que orbitam a criação de conteúdo – e todos são diretamente impactados pela IA.
É um mercado que evolui e agora com os avanços exponenciais das IAs, está aprendendo a sistematizar a criação não apenas por uma questão de escala, mas de sobrevivência.
• Por: Danilo Nunes, professor, pesquisador da Creator Economy e CVO e sócio responsável pela Thruster Creative Strategy, agência especializada em implementar sistemas de criativos com foco em performance – com atuação nacional e internacional.