Realizar mergulhos e ter formação em Operações Especiais. Documento atualiza regras de conduta e promove ambiente mais inclusivo na Força.
A Portaria nº 270/MB, divulgada no dia 1º de outubro (quarta-feira) pela Marinha do Brasil (MB), reforça o compromisso da Força com a igualdade entre mulheres e homens em suas fileiras. Com a atualização das diretrizes publicadas em 2020, a MB se torna a primeira entre as Forças Armadas brasileiras a permitir a atuação plena de militares do sexo feminino em todos os setores, incluindo operação de submarinos, mergulho e Operações Especiais. Essa mudança garante igualdade com os pares masculinos, permitindo que as militares atuem em funções de alta exigência física, psicológica e técnica, que representam alguns dos maiores desafios da carreira militar. Desde então, a Marinha vem se destacando como pioneira na integração feminina nas Forças Armadas, atuando nesse sentido desde 1980, quando criou o Corpo Auxiliar Feminino da Reserva da Marinha. Desde aquele ano, a MB vem abrindo portas e derrubando barreiras: foi a primeira a promover uma mulher ao posto de Oficial-General (em 2012), criar a primeira turma de Aspirantes femininas na Escola Naval (2014) — a mais antiga instituição de Ensino Superior do País; e admitir alunas mulheres no Colégio Naval (2023) e, mais recentemente, permitir a atuação irrestrita das militares em todos os setores operativos da Força.
Em setembro de 2025, as soldados Fuzileiros Navais Ana Beatriz Lugon Loureiro e Jennifer Alves Assunção foram as primeiras militares capacitadas, na MB, no Estágio de Qualificação Técnica Especial de Operação da Viatura Blindada Leve Sobre Rodas 4×4 JLTV (Joint Light Tactical Vehicle). Elas colocaram em prática os conhecimentos adquiridos durante a Operação “Atlas – Armas Combinadas”. —A experiência na operação foi muito positiva e desafiadora. O contato direto com o veículo possibilitou aplicar na prática o conhecimento adquirido no curso— afirmou a Soldado Lugon. Segundo ela, foi possível exercitar desde a condução em diferentes tipos de terrenos até os procedimentos de segurança em situações reais. —A rotina da Operação exige atenção constante, trabalho em equipe e disciplina, o que contribui bastante para o desenvolvimento técnico e profissional. Sem dúvida, é uma oportunidade de aprendizado, que traz confiança e preparo para atuar em cenários que demandam o uso da JLTV— destacou a soldado Lugon.
Primeira mulher do Corpo de Fuzileiros Navais a integrar uma missão de paz no exterior, a capitão-tenente (auxiliar Fuzileiro Naval) Débora Ferreira de Freitas Sabino destacou a importância de iniciativas como essa para a evolução da Força. —A presença feminina no setor Operativo demonstra que a mulher determinada não se deixa abater pelas circunstâncias adversas e está plenamente apta a desempenhar, com excelência, as mais diversas funções na Marinha do Brasil. Esse processo de integração fortalece a instituição, enriquece a pluralidade das equipes e inspira novas gerações de militares. O êxito das pioneiras cria um legado de superação e abre caminho para que mais mulheres conquistem seu espaço, reafirmando que a competência e a dedicação são os verdadeiros critérios para atuar em qualquer área operacional—
Ainda em 2025, a Marinha promoveu quatro médicas ao círculo mais alto da hierarquia militar naval: contra-almirante (médica) Daniella Leitão Mendes; contra-almirante (médica) Mônica Medeiros Luna; contra-almirante (médica) Claudia Regina Amaral da Silva Fiorot; e a contra-almirante (médica) Gisele Mendes de Souza Mello — esta última, de forma póstuma. A indicação simultânea de mulheres a Almirante também é inédita e reforça o pioneirismo da Força.Mais do que um avanço normativo, a nova medida consolida uma trajetória consistente de inclusão estratégica e responsável, que fortalece a MB como instituição e inspira futuras gerações de militares a trilharem, com orgulho, disciplina e espírito de serviço, a carreira naval.
Preparada para tudoA Soldado (Fuzileiro Naval) Stephany Victória da Silva, que serve no Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes (CEFAN), aproveitará o novo cenário de inclusão proporcionado pela Marinha para seguir se especializando. Com vibração e garra, ela já concluiu o Pré-Teste de Aptidão Física e pleiteia uma vaga no Estágio de Qualificação Técnica Especial de Operações Especiais (E-QTEsp-OpEsp), que será conduzido pela Escola de Operações Especiais do Centro de Instrução Almirante Sylvio de Camargo (CIASC), previsto para ocorrer de 02 de março a 17 de abril de 2026, no Rio de Janeiro (RJ).O curso, que possui uma das mais altas exigências físicas e psicológicas do País, tem por finalidade habilitar Cabos e Soldados Fuzileiros Navais para auxiliarem os Comandos Anfíbios (ComAnf) — tropa de elite da Força — no planejamento e execução das operações de alta complexidade.
—Embora ainda não tenha uma referência direta de uma mulher que tenha realizado este curso, estou ciente de que ele exigirá grande preparo físico e psicológico. Reconheço as diferenças fisiológicas entre homens e mulheres, mas encaro isso como um desafio a ser superado, com esforço, dedicação e disciplina, a fim de cumprir todas as exigências previstas. Minha expectativa é superar meus próprios limites, crescer profissionalmente e mostrar que é possível manter o alto padrão do curso sem que minha presença comprometa sua mística, tradição ou nível de exigência —afirmou a soldado (Fuzileiro Naval) Stephany.
O conteúdo do estágio contempla instruções de preparação física de combate (com destaque para atividades aquáticas e marchas), primeiros socorros em ambiente tático, orientação e topografia, patrulhas de combate e reconhecimento, armamento e tiro (montagem, desmontagem e emprego de armas leves do Corpo de Fuzileiros Navais), além de nós e voltas, comunicações, equipamentos de visão noturna e técnicas de infiltração. Concluindo as seis semanas de instruções e práticas, os militares são movimentados para o Batalhão de Operações Especiais de Fuzileiros Navais (BtlOpEspFuzNav).
Mulheres do ar Duas Oficiais da Marinha, oriundas da Escola Naval, querem realizar o feito inédito de se tornarem aviadoras da Força. A segundo-tenente (Fuzileiro Naval) Helena de Souza Monteiro Moraes e a segundo-tenente Isabela Ferreira de Amorim foram as primeiras militares mulheres a iniciar o Curso de Aperfeiçoamento de Aviação para Oficiais (CAAvO), iniciado em 25 de fevereiro, no Centro de Instrução e Adestramento Aeronaval almirante José Maria do Amaral Oliveira (CIAAN), em São Pedro da Aldeia (RJ). A missão é intensa e, para iniciá-la, foi necessário ter tido uma graduação de destaque no ensino superior ofertado pela Marinha.
A parte teórica do curso é realizada no CIAAN e a prática no 1º Esquadrão de Helicópteros de Instrução (EsqdHI-1). A formação prevê estágios de manobras básicas (Alfa), manobras avançadas (Bravo), navegação por contato (Charlie), voo por instrumentos básico (Delta), rádio-instrumentos (Echo), navegação por instrumentos (Foxtrot), formatura (Golf), emprego de armamento (Hotel) e emprego geral (Índia). Ao concluir com sucesso a jornada, que também inclui dois voos solo (Alfa e Bravo), elas certamente servirão de inspiração para novas aviadoras.
—Antes de ingressar na Escola Naval, em 2019, tive contato com a aviação em uma atividade que participei na minha cidade de nascimento — Santa Cruz (RJ) —, que envolveu controladores de voo. Aquilo me chamou muito a atenção. Como fui a 17ª colocada de uma turma de mais de 120 militares, tive a oportunidade de me inscrever no curso, justamente por conta desta antiguidade. Após cumprir o teste físico, psicológico e os exames médicos, segui para as demais etapas. Já cumpri a Alfa e Bravo, e estou me preparando para a Charlie —explicou a segundo-tenente Isabela Ferreira.
Segundo ela, a Marinha oferece infinitas oportunidades para os militares, independente de sexo ou origem. —Ela não faz distinção de classificação durante os cursos de formação, por exemplo, a mulher que quiser escolher qualquer caminho por aqui precisa se esforçar igualmente. Assim, realizará seu sonho. De todas essas oportunidades, o esforço é premiado com a possibilidade de escolher as que mais nos interessam— completou. | Agª Marinha