Rafael Cardoso, economista-chefe do Banco Daycoval, analisa a decisão do Copom.
— Quando o Banco Central fala do cenário internacional, ainda segue vendo como incerto. Então, a despeito de a gente ter visto o FED iniciar o ciclo de redução de juros, andamento nos acordos comerciais, o Banco Central ainda caracteriza como incerto e demandando cautela dos países emergentes.
Em relação à atividade econômica brasileira, por mais que o Banco Central reconheça a moderação de forma geral da atividade, ainda tem um dinamismo importante no mercado de trabalho, e isso também é um ponto que subsidia a decisão do Banco Central. Em relação à inflação, o Banco Central a caracteriza como acima da meta, então mesmo que a gente tenha visto alguma melhora na margem, o Banco Central pouco faz esse reconhecimento e caracteriza a inflação acima da meta.
As expectativas do Focus, além de estarem acima da meta, melhoraram nos últimos períodos, o Banco Central não faz esse reconhecimento e caracteriza as expectativas como desancoradas em outra parte do documento. Então, também fazendo ressalva negativa em relação às expectativas. Já as projeções do Banco Central vieram um pouco acima do que imaginávamos.
E tudo isso subsidia o reforço que o Banco Central faz da estratégia de manter os juros significativamente contracionista durante um período bastante prolongado. Inclusive, no final do documento, mantém o trecho que fala que segue avaliando se isso é suficiente e que não hesitaria em retomar o ciclo. O Banco Central passa uma mensagem conservadora de reforço da estratégia.
E o que isso implica para o futuro? A gente tem o primeiro corte para início do ano que vem, a gente acredita que o Banco Central inicia em janeiro, e a gente já tinha comunicado internamente nos nossos relatórios que haveria um viés de postergar esse início do ciclo. E a gente acha que a comunicação de hoje não aumenta esse viés de postergação, mas reforça o nosso cenário de início, em 26, mas eventualmente poderia o ciclo ser postergado.
Agora, vale lembrar que no meio do caminho, a gente tem o FED iniciando o ciclo, que pode ajudar o Banco Central na tarefa de convergir para um patamar inflacionário mais benigno. Obviamente, o FED pega mais nos bens voláteis do que na inflação como um todo, dado o impacto no câmbio, mas seria uma ajuda que o Banco Central poderia ter.
Então, para concluir, a gente acha que a mensagem foi conservadora, baseada em um diagnóstico que faz algum reconhecimento da melhora, mas muito leve e com bastante ressalva. E que, portanto, no final das contas, o Banco Central vê isso como argumentos para reforçar a estratégia e seguir mantendo juros estável contracionista durante período prolongado— conclui a análise Rafael Cardoso, economista-chefe do Banco Daycoval.