O que a COP30 precisa entregar de concreto para não ser apenas um espetáculo midiático? As críticas internacionais já começaram indo muito além da precariedade da infraestrutura e dos preços abusivos da hospedagem. O risco maior é que o Brasil, ao receber a conferência no coração da Amazônia, perca a oportunidade de assumir compromissos climáticos claros e verificáveis.
A COP30 não pode se resumir a discursos protocolares. O evento precisa garantir resultados concretos: metas robustas de redução de desmatamento, regulamentação efetiva do mercado de carbono e avanços reais em economia circular e gestão de resíduos. Esses pontos são essenciais para que o Brasil seja visto como protagonista, e não apenas como anfitrião.
A ausência de entregas tem custos imediatos: delegações relevantes podem esvaziar sua participação, povos indígenas e organizações sociais correm o risco de exclusão pelos altos custos, e o país pode ser associado a improviso e ineficiência. O mesmo já ocorreu em edições anteriores, como a COP28 em Dubai, marcada por barreiras econômicas que reduziram a diversidade de vozes.
Outro ponto crucial é o financiamento climático. Sem mecanismos concretos de apoio à adaptação, sobretudo para comunidades que já enfrentam enchentes, secas e queimadas, o discurso de liderança perde consistência. Falar de clima na Amazônia sem garantir recursos a quem vive na linha de frente é um contrassenso.
O simbolismo de Belém exige compromissos firmes: combate ao desmatamento ilegal, incentivo à bioeconomia e valorização da ciência. A floresta não pode ser apenas cenário, precisa ser pauta.
Também cabe à sociedade civil e ao setor privado assumir corresponsabilidade. A agenda Net Zero não se sustenta em promessas, mas em mensuração, redução, compensação e comunicação transparente. O país só ganhará credibilidade se alinhar discursos, políticas e práticas.
O risco é que, em vez de legado, a COP30 deixe cicatrizes como obras inacabadas, especulação imobiliária, exclusão de vozes e promessas não cumpridas podem transformar oportunidade em vexame. É preciso entender que reputação climática também é capital diplomático e econômico.
A menos de 100 dias do evento, a pergunta permanece: a COP30 será um divisor de águas para o protagonismo climático brasileiro, ou ficará marcada como uma oportunidade desperdiçada? A resposta depende menos da retórica e mais da coragem de transformar promessas em ação, equilibrando justiça social, responsabilidade ambiental e seriedade técnica.
• Por: Fernando Beltrame, mestre pela USP, engenheiro pela Unicamp e CEO da Eccaplan. Com mais de 20 anos de experiência em projetos de consultoria, sustentabilidade e estratégia Net Zero, já atuou em diferentes eventos e iniciativas como a COP18, Rio+20 e fóruns mundiais.