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04/09/2025

O mercado financeiro que nunca dorme: entre as expectativas e os riscos

Imagine um pregão (momento de negociação de contratos em um mercado de bolsa de valores) que nunca fecha. Uma espécie de Wall Street versão Las Vegas: luzes sempre acesas, máquinas sempre ligadas. A ideia de um mercado aberto 24 horas por dia, sete dias por semana vem sendo alimentada pelo exemplo das criptomoedas e, agora, seduz gigantes como a tecnológica Nasdaq e a Nyse.

O fascínio é evidente: acesso irrestrito às negociações, reação imediata às notícias, um mundo sem campainha de abertura ou fechamento. Mas, como em toda euforia de bull market, o brilho pode esconder riscos.

Na prática, negociações 24/7 significam operar sem parar, sem “janelas mortas”. Hoje, esse ritmo já existe com os criptoativos, forex e futuros, que funcionam quase ininterruptamente. Corretoras como Robinhood e Interactive Brokers abriram o caminho com pregões estendidos. E uma novata, a 24 Exchange, já recebeu aval regulatório para estrear com quase 23 horas diárias de pregão.

Os movimentos da Nasdaq e da Nyse mostram que a tendência deixou de ser rumor: o relógio do mercado está sendo reprogramado.

Por que essa corrida? Primeiro, a globalização: investidores asiáticos não querem operar na madrugada para acessar Wall Street. Depois, a cultura cripto: uma geração acostumada a comprar tokens a qualquer hora do dia estranha que o mercado de ações mais sofisticado do planeta feche às 16h. E, por fim, a lógica da informação: notícias e crises não seguem calendário. Uma mudança de grandes proporções no sábado ou um balanço divulgado no domingo à noite encontram, hoje, um mercado fechado. O pregão contínuo promete preencher esse vácuo.

Mas o mercado, como o corpo humano, precisa de pausas para respirar. Estender o horário traz conveniência, mas também pode resultar em liquidez rarefeita na madrugada, ou seja, sem o volume de compradores e vendedores esperado. Por consequência, preços vulneráveis à manipulação e à tentação da reação imediata, muitas vezes irracional. Há também o custo operacional de manter sistemas, reguladores e pessoas em alerta permanente. Como dizem os traders veteranos: “até os touros e os ursos precisam dormir”.

No fim, ampliar o pregão é inevitável, mas não é gratuito. É a ponte para um mercado mais acessível ou a armadilha de um mercado exausto? O sonho de Wall Street é nunca mais dormir, já que o dinheiro nunca dorme, mas resta saber se investidores e instituições aguentam correr essa maratona sem linha de chegada.

Por: Maurício Takahashi, professor de Ciências Econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), campus Alphaville. | *O conteúdo dos artigos assinados não representa necessariamente a opinião do Mackenzie. | A Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) foi eleita como a melhor instituição de educação privada do Estado de São Paulo em 2023, de acordo com o Ranking Universitário Folha 2023 (RUF). Segundo o ranking QS Latin America & The Caribbean Ranking, o Guia da Faculdade Quero Educação e Estadão, é também reconhecida entre as melhores instituições de ensino da América do Sul. Com mais de 70 anos, a UPM possui três campi no estado de São Paulo, em Higienópolis, Alphaville e Campinas. Os cursos oferecidos pela UPM contemplam Graduação, Pós-Graduação, Mestrado e Doutorado, Extensão, EaD, Cursos In Company e Centro de Línguas Estrangeiras.