Sempre defendi que empreender não é apenas abrir um negócio. Empreender é ter visão, resiliência e a capacidade de transformar ideias em resultados concretos. Mas, quando olho para a base educacional que temos hoje, percebo um grande vazio: a escola não prepara os jovens para lidar com os desafios reais do empreendedorismo.
Fui formado pela prática. Muitas das lições que carrego na minha trajetória como empresário não vieram dos livros ou da sala de aula, mas da experiência direta de construir, errar, ajustar e inovar. A escola ensina matemática, português, ciências – e é fundamental que o faça. Mas raramente ensina como lidar com riscos, identificar oportunidades, comunicar-se de forma persuasiva ou administrar as próprias finanças pessoais.
Essa lacuna se reflete em um país onde milhares de empreendedores surgem todos os anos por necessidade, e não por vocação ou preparo. Quantos negócios poderiam prosperar mais se, desde cedo, as crianças aprendessem a tomar decisões, trabalhar em equipe, desenvolver pensamento crítico e resolver problemas complexos?
Não defendo que a escola se transforme em um “curso de negócios”. O que acredito é que ela deve estimular o espírito empreendedor, a curiosidade, a autoconfiança, a criatividade e a coragem de testar e errar. Essas são habilidades que fazem diferença tanto para quem deseja abrir uma empresa quanto para quem opta por seguir carreira em organizações.
Caminhos existem. Inserir no currículo conteúdos práticos de gestão financeira, promover projetos interdisciplinares que simulem a criação de uma empresa, estimular mentorias com empreendedores locais e usar a tecnologia para aproximar os jovens do mercado real são algumas das propostas. É no “aprender fazendo” que se constrói a mentalidade empreendedora.
No fundo, empreender é enxergar possibilidades onde outros veem obstáculos. E isso se aprende vivendo, tentando, ajustando. O que não se aprende na escola pode e deve ser transmitido por meio de experiências práticas, para que nossos jovens estejam mais preparados para transformar o futuro.
O Brasil tem talento de sobra, mas precisa oferecer aos futuros empreendedores as ferramentas certas. E essa responsabilidade não é apenas da escola, mas também das empresas, das famílias e da sociedade como um todo. O empreendedorismo é a chave para a inovação e para o crescimento do país. Se queremos um futuro mais competitivo, precisamos começar agora.
• Por: João Appolinário, presidente, fundador da Polishop e empreendedor por vocação, João Appolinário deixou o grupo de empresas da família para abrir seu próprio negócio. Em 1999, fundou a Polishop com um conceito inovador de Varejo Multicanal. Tornou-se um dos líderes do varejo no Brasil, com um estilo único de apresentar e vender produtos em uma rede de vendas que alcança todo o país, incluindo 122 pontos de venda próprios, catálogo, internet, telemarketing, vendas diretas com 150 mil empreendedores cadastrados e 5 canais próprios de televisão, que oferecem produtos e soluções inovadoras 24 horas por dia. João Appolinário foi um dos ‘tubarões’ do programa Shark Tank Brasil, veiculado nos canais Sony e Band.