erica-oliveira

23/08/2025

Meu cérebro, minha história: como resgatar memórias antigas fortalece a mente e o coração?

A memória é o fio invisível que costura nossa identidade. Cada lembrança, seja ela de uma música que embalou a juventude, o cheiro de um bolo saindo do forno da avó, ou a imagem de uma viagem especial, funciona como um elo entre o passado e o presente. Ao resgatar memórias antigas, não apenas revisitamos histórias que moldaram quem somos, mas também oferecemos ao cérebro estímulos valiosos e ao coração conexões emocionais profundas.

Neurocientistas apontam que recordar ativa múltiplas áreas do cérebro, como o hipocampo e o córtex pré-frontal, responsáveis pela organização e recuperação da memória. Esse processo fortalece as redes neurais, funcionando como um verdadeiro treino cognitivo. É como se, ao abrir a caixa das recordações, o cérebro estivesse exercitando músculos que, com o tempo, poderiam enfraquecer.

Além disso, o ato de rememorar não se limita ao aspecto cognitivo. Ele envolve emoção, já que a amígdala cerebral, ligada ao processamento afetivo, é igualmente ativada. Por isso, uma música antiga pode provocar lágrimas ou sorrisos instantâneos: a memória não é apenas um dado guardado, mas uma experiência vivida novamente.

Músicas, cheiros e imagens são portais da memória. Certos estímulos funcionam como chaves que destrancam lembranças adormecidas. Canções da juventude ou da infância têm o poder de transportar a pessoa no tempo. Estudos mostram que ouvir músicas associadas ao passado melhora o humor e pode até reduzir sintomas de ansiedade.

O olfato tem ligação direta com áreas do cérebro relacionadas à memória emocional. O simples aroma de café fresco pode despertar lembranças de encontros familiares, por exemplo. Já as fotografias antigas, filmes de época ou mesmo um objeto guardado em casa podem acionar memórias vívidas, funcionando como pontes emocionais entre gerações.

Resgatar memórias não significa viver preso ao passado, mas sim reconhecer o caminho percorrido. Ao relembrar, reafirmamos nossa identidade, fortalecemos vínculos com outras pessoas e cultivamos um senso de continuidade da vida. Em idosos, por exemplo, a chamada “terapia da reminiscência” é amplamente utilizada para estimular a memória, reduzir sentimentos de solidão e melhorar a autoestima. Já em pessoas mais jovens, revisitar lembranças pode servir como estratégia de gratidão, ajudando a valorizar conquistas e aprendizados.

Num mundo acelerado, em que informações novas surgem a cada instante, voltar-se ao passado é também um gesto de resistência. É lembrar que a mente não é feita apenas de dados a serem processados, mas de histórias que merecem ser revisitadas e celebradas. Resgatar memórias antigas, portanto, é fortalecer não só o cérebro, mas também o coração. É dar vida às emoções que nos moldaram, honrar a trajetória percorrida e manter acesa a chama do que nos torna humanos.

Por: Érica Oliveira, gestora pedagógica e franqueada do Supera (Ginástica para o Cérebro).