Abit está mobilizada na busca de medidas compensatórias à redução das vendas aos norte-americanos e trabalha para ampliar e conquistar mercados, incluindo o engajamento nos esforços para concluir com êxito acordos comerciais com blocos de nações.
Em coletiva de imprensa da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), foi analisado o impacto das novas tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre produtos do Brasil. Fernando Valente Pimentel, diretor-superintendente e presidente emérito da entidade, explicou que a alíquota adicional de 40%, totalizado 50%, abrange a maior parte dos itens do setor.
No setor têxtil e de confecção, a única exceção são os cordéis para enfardadeiras de sisal e fibras do gênero agave, que permanecem com a tarifa anterior de 10%. Ainda assim, o conjunto da medida representa mais um duro golpe para uma indústria que já acumula déficit expressivo no comércio bilateral. Em 2024, o Brasil exportou para os Estados Unidos US$ 68 milhões em produtos do setor, sendo US$ 46 milhões em têxteis técnicos e não tecidos e US$ 22 milhões em vestuário. As importações somaram US$ 142 milhões em artigos norte-americanos, sobretudo filamentos e têxteis técnicos. O déficit para o setor brasileiro foi de US$ 74 milhões.
Os Estados Unidos são hoje o quarto principal destino das exportações brasileiras de têxteis e confecções e, ao mesmo tempo, a quarta principal origem das importações do elo têxtil. Esse desequilíbrio estrutural tende a se agravar diante do novo cenário tarifário, em que parte das mercadorias embarcadas até 6 de agosto ainda poderá entrar no mercado norte-americano até 05 de outubro sem a sobretaxa, mas todas as demais já estarão sujeitas às novas regras.
A Abit também alerta para outra frente de impacto: o fim do regime de minimis nos Estados Unidos, que até agora permitia a entrada de encomendas internacionais de até US$ 800 por pessoa, por dia, sem pagamento de tributos. A medida, que passa a valer a partir de 29 de agosto, deve encarecer ainda mais o comércio eletrônico transfronteiriço, uma das principais rotas de consumo de vestuário.
Na avaliação de Pimentel, as tarifas adicionais e o endurecimento das regras para compras online somam-se a um quadro de práticas desleais de comércio enfrentadas pelo setor no Brasil, como subfaturamento, pirataria e descumprimento de normas técnicas. Esses fatores já fragilizam a competitividade da indústria brasileira. —O risco é o Brasil tornar-se ainda mais vulnerável e procurado como mercado alternativo devido ao endurecimento das regras norte-americanas de minimis, em um comércio internacional já atribulado, sujeito a desvios de fluxo e barreiras imprevistas —afirmou.
Para o dirigente, o fortalecimento da defesa comercial e a negociação de acordos mais equilibrados são fundamentais. Atualmente, apenas 9% das importações brasileiras de têxteis e confeccionados estão cobertas por acordos comerciais, enquanto 66% das exportações do setor beneficiam-se desses instrumentos. —O cenário exige respostas rápidas, com mecanismos eficientes para evitar prejuízos ainda maiores— disse Pimentel.
Ações compensatórias — Pimentel enfatizou que, diante das restrições impostas pelos Estados Unidos, a Abit está propondo medidas compensatórias para as empresas brasileiras. —Queremos que nossas indústrias sejam contempladas em ações de suporte à perda temporária de mercado norte-americano—. Além disso, na busca por conquistar ou ampliar mercados, —estamos trabalhando em novos acordos com a União Europeia, Mercosul e a EFTA, além de insistirmos na agenda de redução do ‘Custo Brasil’, medida essencial para aumentar a competitividade— declarou.
Pimentel também alertou para a forte pressão dos importados, cujo crescimento tem superado a expansão do mercado interno. —Isso significa perda de market share para nós. E não falamos apenas das importações tradicionais, mas também das que chegam pelas plataformas digitais, que crescem de maneira acelerada —enfatizou.
Apesar desse cenário, o dirigente destacou que o Brasil ainda ocupa posição de destaque global. —Mesmo enfrentando uma concorrência brutal, nossa indústria têxtil e de confecção continua entre as cinco maiores do mundo e temos a maior cadeia produtiva integrada do Ocidente —frisou. Ele acrescentou que, pela primeira vez, o setor foi incluído explicitamente em uma política industrial nacional – a Nova Indústria Brasil (NIB) —, o que deve ter desdobramentos positivos em termos de financiamento e estímulo à inovação.
Segundo Pimentel, os avanços também passam pela economia circular e pelas práticas ESG. —Temos uma agenda robusta nessas áreas e precisamos intensificar os investimentos. O setor continua a empregar e a investir, mas há risco de perdas se não conseguirmos redirecionar parte da produção que antes tinha como destino os Estados Unidos —explicou. Para ele, é preciso manter equilíbrio entre realismo e otimismo. —Temos desafios, sim, mas também um setor que segue resiliente, investindo e buscando caminhos para crescer —concluiu.