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21/08/2025

Tarifaço de Trump derruba ritmo de negócios e de private equity no Brasil

O anúncio das tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, promovido por Donald Trump em julho de 2025, ressoa muito além do embate político entre Estados Unidos e Brasil. Mais do que um gesto de proteção econômica, trata-se de uma medida que impacta diretamente a confiança dos investidores globais, especialmente no setor de private equity, que depende de estabilidade, previsibilidade e ambiente regulatório claro para prosperar. O efeito imediato foi uma desaceleração do mercado, que vinha experimentando sinais claros de recuperação no início do ano.

Segundo o relatório da Bain & Company divulgado em junho, o primeiro trimestre de 2025 trouxe um ritmo acelerado de negócios no mercado global de private equity, com aumento significativo nas transações e clima favorável entre fundos e empresas. No entanto, ainda de acordo com o relatório, a partir de abril, o cenário mudou radicalmente: o volume de operações caiu 24% em comparação à média do trimestre anterior, o número de negócios sofreu contração e as ofertas públicas iniciais (IPOs) praticamente cessaram. Para um mercado que se move com base em confiança, o recado foi claro: decisões políticas repentinas podem colocar tudo em xeque.

O que está em jogo não é o risco inerente ao investimento, mas a instabilidade criada por medidas com motivação política e falta de previsibilidade. Private equity é um segmento acostumado a lidar com cenários incertos, mas precisa de um arcabouço regulatório estável, regras claras e horizonte de retorno confiável para viabilizar negócios. Quando esses pilares são abalados por tarifas abruptas e retaliações, os fundos adotam uma postura cautelosa, elevam o rigor das due diligences, reavaliam cláusulas contratuais e preferem direcionar capital para setores menos vulneráveis a choques tarifários, como tecnologia e saúde.

Essa mudança de rota tem impacto direto na capacidade do Brasil de atrair investimentos. Países emergentes são especialmente sensíveis a essas oscilações, pois sua posição no mercado global é mais vulnerável a descontos e aumento do custo do capital. Com fundos globais mais seletivos, as empresas brasileiras enfrentam maior dificuldade para concluir rodadas de captação ou realizar saídas estruturadas, gerando atrasos, postergações e até o cancelamento de negócios estratégicos.

Além do impacto econômico direto, a resposta do governo brasileiro, marcada por retórica de retaliação e discurso político, contribui para amplificar a sensação de insegurança entre investidores. O anúncio de medidas baseadas em revanchismo e o reforço de uma narrativa de confronto deterioram a imagem do país, afastando ainda mais o capital necessário para o desenvolvimento e a geração de empregos qualificados no setor privado.

Para além da crise pontual, o momento exige uma reflexão sobre o papel da política econômica e a necessidade de construção de um ambiente favorável ao investimento de longo prazo. A instabilidade provocada por decisões de cunho político, sem embasamento técnico, não apenas interrompe ciclos de crescimento, mas compromete o posicionamento do Brasil como destino confiável para fundos internacionais e hubs de inovação.

O setor de private equity, vital para a modernização e o crescimento de empresas, atua como um motor de transformação, injetando capital em segmentos estratégicos e fomentando inovação. A fragilização desse mercado pode travar o desenvolvimento de startups, impedir a expansão de empresas maduras e reduzir a competitividade brasileira no cenário global, justamente quando o país busca se inserir em áreas de alta tecnologia e serviços digitais.

Em resumo, o “tarifaço” de Trump não é apenas um choque tarifário, mas um sinal de alerta para o Brasil. A resposta política descoordenada e a instabilidade institucional ameaçam não só a recuperação do mercado de private equity, mas também o potencial de crescimento econômico sustentado. A saída passa por diálogo, estratégias técnicas e ambiente regulatório que promovam segurança jurídica e confiança, ingredientes indispensáveis para atrair e manter investimentos em tempos de crescente competição global.

Por: Bruna Puga, advogada e sócia do escritório BP/F Advogados, especialista em contratos empresariais e estruturação de negócios. | https://bpflaw.com.br