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20/08/2025

Entre desertos e pântanos alimentares, os limites da segurança alimentar

Nossos ambientes alimentares, que incluem os alimentos acessíveis a nós diariamente, são um fator determinante na dieta dos seres humanos. A literatura frequentemente discute dois tipos de ambientes alimentares comunitários: desertos alimentares e pântanos alimentares. Por vezes, um terceiro também é abordado, a miragem alimentar. Já ouviu falar a respeito? Caso a resposta seja negativa, não se preocupe, esses termos realmente são pouco explorados.

Desertos alimentares são áreas geográficas onde o acesso a alimentos saudáveis é limitado. Eles são comuns particularmente em bairros economicamente ou socialmente desfavorecidos. Os moradores desses bairros podem não ter os meios financeiros ou de transporte necessários para superar essas barreiras geográficas e obter alimentos saudáveis e acessíveis. Eles podem depender de lojas de conveniência ou restaurantes de fast food para se alimentar, o que afeta a qualidade de suas dietas. Os moradores de áreas rurais também podem vivenciar condições semelhantes a desertos alimentares, tendo que viajar longas distâncias para ter acesso a alimentos saudáveis. É difícil para uma pessoa se alimentar bem se o suprimento de alimentos saudáveis em sua vizinhança for insuficiente.

O tipo mais comum de ambiente alimentar comunitário nas áreas urbanas, no entanto, não é um deserto, mas sim, um pântano alimentar. Esta é uma área geográfica onde os varejistas de alimentos são razoavelmente acessíveis, mas, onde a população também está superexposta a alimentos e bebidas não saudáveis.

Pesquisadores definiram miragens alimentares como barreiras que impedem pessoas de baixa renda de acessar alimentos saudáveis e acessíveis em sua vizinhança. Assim, para algumas pessoas, opções de alimentos saudáveis estão disponíveis nas proximidades, mas o preço é alto demais para o seu orçamento. Os impactos de uma miragem alimentar são os mesmos de um deserto alimentar, o que significa que os moradores precisam percorrer uma certa distância para obter alimentos saudáveis e acessíveis.

A verdade, é que a população brasileira não faz uso das recomendações nutricionais. Atualmente, há pouco consumo de vegetais, frutas e grãos integrais, e uma quantidade relativamente alta de alimentos e bebidas processadas. Com o tempo, a qualidade da dieta se deteriorou à medida que os hábitos alimentares das pessoas mudaram: o consumo de alimentos integrais e minimamente processados diminuiu, e o consumo de alimentos e bebidas altamente processados aumentou Quanto mais alimentos processados consumimos, menor a qualidade da nossa dieta e maior o risco de desenvolvermos problemas crônicos de saúde relacionados à nutrição.

De fato, nossos hábitos alimentares a longo prazo são determinantes para a nossa saúde. Eles podem levar ao desenvolvimento de problemas crônicos, como excesso de peso, doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e certos tipos de câncer. Além disso, sintomas associados à saúde mental precária, como depressão e ansiedade, também foram associados a uma dieta inadequada.

Hábitos alimentares abaixo do ideal representam um fardo financeiro considerável para a sociedade. No caso de doenças crônicas, esse problema se traduz em redução da produtividade e da expectativa de vida, bem como em aumentos insustentáveis nos gastos com saúde. A renda é um dos principais determinantes da qualidade da dieta, o que significa o acesso inadequado ou precário a alimentos devido a restrições financeiras. A falta de dinheiro dificulta, senão impossibilita, a manutenção de um consumo suficiente de alimentos e bebidas saudáveis.

A alfabetização alimentar, definida como o conhecimento, as habilidades e os comportamentos necessários para comer, pode ser considerada essencial para a escolha e o preparo de alimentos saudáveis. No entanto, o conhecimento nutricional e as habilidades relacionadas não são necessariamente suficientes para manter uma dieta saudável, visto que uma infinidade de outros fatores entram em jogo.

Os pântanos alimentares são uma barreira ambiental à alimentação saudável, porque expõem à população a alimentos e bebidas não saudáveis, mas, que são visualmente atraentes. Por exemplo, ver imagens de alimentos bem elaborados ou ter a oportunidade de consumi-los, estimula os circuitos de recompensa do cérebro, levando ao desejo de comer. Resistir a esses alimentos exige energia mental.

No entanto, a parte do cérebro responsável pela resistência também é usada para controlar o estresse e o mau humor. Assim, em certas situações, as pessoas nem sempre têm energia para resistir à tentação. Além disso, fazer escolhas também exige esforço, portanto, torna-se mais difícil usar a força de vontade para tomar decisões diferentes. Por exemplo, uma pessoa que faz compras no supermercado pode ter maior probabilidade de comprar alimentos não saudáveis no final do dia do que no início.

Diversas iniciativas e intervenções podem ser implementadas; algumas por meio da colaboração dentro da comunidade de saúde pública, outras por meio de colaborações entre o setor de saúde pública, governos municipais e o setor privado. Essas iniciativas e intervenções variam dependendo se a comunidade é um deserto alimentar ou um pântano alimentar. Em desertos alimentares, as intervenções devem ter como objetivo melhorar o acesso a alimentos saudáveis, enquanto em pântanos alimentares, o foco deve ser a redução da disponibilidade de alimentos não saudáveis ou da exposição da população a esses alimentos.

A maneira mais prática de melhorar os hábitos alimentares é garantir acesso adequado a alimentos saudáveis e acessíveis, reduzindo ao mesmo tempo a exposição a alimentos não saudáveis e atraentes. Se por um lado, destacamos todos os benefícios do consumo de frutas e vegetais, por outro, vale ressaltar o papel que os fertilizantes desempenham na qualidade nutricional, pois são eles que disponibilizam os nutrientes para a produção e composição desses alimentos. Da mesma forma, todas as substâncias presentes nos alimentos, como fibras, vitaminas e antioxidantes necessitam dos nutrientes contidos nos fertilizantes.

Portanto, além da consciência de uma dieta balanceada, é preciso entender a função dos alimentos que consumimos e o quanto eles são importantes para a nossa saúde e bem-estar.

Por: Valter Casarin, coordenador geral e científico da Nutrientes Para a Vida é graduado em Agronomia pela Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/UNESP, Jaboticabal, em 1986 e em Engenharia Florestal pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”/USP, Piracicaba, em 1994. Concluiu o mestrado em Solos e Nutrição de Plantas, em 1994, na Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”. Recebeu o título de Doutor em Ciência do Solo pela École Supérieure Agronomique de Montpellier, França, em 1999. Atualmente é professor do Programa SolloAgro, ESALQ/USP e Sócio-Diretor da Fertilità Consultoria Agronômica. | A NPV – Nutrientes Para a Vida – nasceu com objetivo de melhorar a percepção da população urbana em relação às funções e os benefícios dos fertilizantes para a saúde humana. Braço da fundação norte-americana NFL – Nutrients For Life – no Brasil, a NPV trabalha baseada em informações científicas. A NPV tem sua sede no Brasil, é mantida pela ANDA (Associação Nacional para Difusão de Adubos) e operada pela Biomarketing. A iniciativa conta ainda com parceiros como: Esalq/USP, IAC, UFMT, UFLA e UFPR.