navios-porta-conteineres4

13/08/2025

Exportação de café do Brasil soma 2,7 milhões de sacas em julho, diz Cecafé

Receita cambial de US$ 1,033 bilhão é recorde para o mês; EUA seguem na liderança dos embarques, mas tarifaço preocupa setor.

O relatório estatístico mensal do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) divulgado no dia 12 de agosto (terça-feira), mostra que o país embarcou 2,733 milhões de sacas de 60 quilos do produto em julho, primeiro mês do ano safra 2025/2026, o que implica queda de 27,6% na comparação com o mesmo período de 2024. Já a receita cambial é recorde para meses de julho, com o ingresso de US$ 1,033 bilhão, o que confere crescimento de 10,4% no comparativo anual.

Ano civil — No acumulado dos sete primeiros meses de 2025, a exportação de café do Brasil recuou 21,4% na comparação com o mesmo período do ano passado (28,182 milhões de sacas), com os embarques caindo para 22,150 milhões de sacas. A receita cambial, por sua vez, cresceu 36% ante o obtido entre janeiro e o fim de julho de 2024, alcançando o recorde para o período de US$ 8,555 bilhões.

— Uma redução nos embarques já era aguardada neste ano, uma vez que nós vimos de exportações recordes em 2024, estamos com estoques reduzidos e uma safra sem excedentes, com o potencial produtivo total impactado pelo clima. No que se refere à receita cambial, ainda surfamos a onda dos elevados preços no mercado internacional, que reflete o apertado equilíbrio entre oferta e demanda ou mesmo um leve déficit na disponibilidade— explica Márcio Ferreira, presidente do Cecafé.

Principais destinos — Os Estados Unidos seguem como o maior comprador dos cafés do Brasil no acumulado dos sete primeiros meses de 2025, com a importação de 3,713 milhões de sacas, o que corresponde a 16,8% dos embarques totais e, apesar de apresentar declínio de 17,9% na comparação com o adquirido entre janeiro e julho de 2024, esse volume fica acima dos 16% de representatividade aferidos no mesmo intervalo do ano passado.

—Até julho, não observamos de fato o impacto do tarifaço de 50% do governo dos Estados Unidos imposto para a importação dos cafés do Brasil, já que a vigência da medida começou em 06 de agosto (quarta-feira). A partir de agora, as indústrias americanas estão em compasso de espera, pois possuem estoque por 30 a 60 dias, o que gera algum fôlego para aguardarem um pouco mais as negociações em andamento. Porém, o que já visualizamos são eventuais pedidos de prorrogação, que são extremamente prejudiciais ao setor —comenta Ferreira.

De acordo com ele, quando o exportador realiza o negócio, ele fecha o Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACC) — financiamento, pré-embarque, que permite que as empresas obtenham recursos antecipados com base em um contrato de câmbio — e tem um tempo para cumprir esse compromisso. —Com a prorrogação dos negócios, o ACC não é cumprido e passamos a sofrer com mais juros, com taxas altas, e custos adicionais, com overhead, por exemplo— cita.

Ferreira anota que o prejuízo fica ainda maior quando se analisa a estrutura do mercado internacional, que, há algum tempo, se apresenta como o chamado “mercado invertido”, com os contratos futuros mais distantes depreciados em relação aos mais próximos.

—O vencimento dezembro de 2026 na Bolsa de Nova York, por exemplo, está com deságio de 9% a 10% frente ao dezembro de 2025. Já esse dezembro de 2025 possui depreciação de cerca de US$ 10 por saca ante o setembro de 2025. Ou seja, a prorrogação de um embarque de agosto, tendo como referência o setembro de 2025, para os próximos meses, que terão como base o dezembro de 2025, geraria uma perda adicional de US$ 10 por saca, além do impacto dos juros do ACC e dos custos adicionais com carrego, armazenagem e logística. Portanto, prorrogar embarques, além de atrasar divisas e compromissos, tem esse impacto negativo acumulado e acentuado— analisa.

Fechando a lista dos cinco principais destinos dos cafés do Brasil, entre janeiro e o fim de julho deste ano, aparecem Alemanha, com a importação de 2,656 milhões de sacas e queda de 34,1% em relação aos sete primeiros meses de 2024; Itália, com 1,733 milhão de sacas (-21,9%); Japão, com 1,459 milhão de sacas (+11,5%); e Bélgica, com 1,374 milhão de sacas (-49,4%).

Ações ante o tarifaço — O Cecafé continua o trabalho para alcançar, junto ao governo brasileiro, aos pares do setor privado norte-americano e a outros canais pertinentes nos Estados Unidos, o entendimento para que os cafés do Brasil entrem na lista de isenção do tarifaço, uma vez que o produto não é cultivado em escala no país parceiro e, ainda, por desempenhar papel fundamental na economia dos EUA, na satisfação dos consumidores locais e pelo fato de os dois países possuírem uma relação de interdependência, com o Brasil sendo o maior produtor e exportador mundial e o líder no fornecimento de café ao país do Hemisfério Norte, e os Estados Unidos ocupando o posto de maior importador e consumidor global, além de principal destino do produto brasileiro.

—Não podemos, em hipótese alguma, sacrificar uma relação comercial construída em favor da cafeicultura com esmero, respeito e dedicação, de ambos os lados, em prejuízo de centenas de milhares de produtores e consumidores. Nossa história é muito maior do que o momento que estamos vivendo e, com pragmatismo e diplomacia, devemos negociar em favor dos dois lados. Ao longo da história do crescimento da economia brasileira, o café sempre esteve à frente de seu tempo, não somente em números, mas desempenhando um papel social, que podemos dizer, incomparável em todo o mundo— avalia Ferreira.

Mediante os prejuízos que inevitavelmente ocorrerão em razão das tarifas, o Cecafé vem mantendo diálogos com os governos federal e dos Estados produtores a respeito da necessidade de implantações de medidas “temporariamente compensatórias” enquanto permaneça essa situação de desequilíbrio comercial entre os cafés do Brasil frente às demais origens que exportam para os Estados Unidos, bem como para outros destinos.

Segundo o presidente do Cecafé, a instituição, junto com a Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (ABICS), tem solicitado ao governo brasileiro que intensifique ações junto a outras nações compradoras desse produto, visando acordos bilaterais, com reciprocidade comercial, a fim de que esses países em específico possam dar, aos cafés solúveis do Brasil, a mesma isenção oferecida a outras origens concorrentes.

—Principalmente no caso do café solúvel, produto acabado, de valor agregado e gerador de empregos, nossas indústrias, infelizmente, vêm sendo penalizadas em vários destinos das nossas exportações, o que retira a competitividade, prejudica nosso segmento industrial e, por conseguinte, nossos produtores. Temos solicitado atenção nesse sentido há algum tempo e precisamos desses acordos bilaterais para que, assim, possamos ampliar nossa participação nesses outros mercados— aponta Ferreira.

Ele completa, ainda, que o Brasil, através do Cecafé e das demais entidades da cadeia produtiva, participa dos mais diversos fóruns mundiais, em países consumidores e produtores, compartilhando conhecimento, ciência, tecnologia, mais produtividade, sustentabilidade e qualidade.

—Esse trabalho é para que haja um ambiente de empatia e respeito, de forma que todos os produtores de café e as próximas gerações tenham uma melhor qualidade de vida, em todo o mundo, e para que os consumidores de todo o planeta possam desfrutar das mais diversas experiências com café, com diferentes blends, os quais não deveriam abdicar dos cafés do Brasil— conclui.

China como alternativa — Tendo em vista conteúdo veiculado na imprensa e nas redes sociais, que trata do credenciamento, por parte da China, de 183 novas empresas exportadoras de café do Brasil, o presidente do Cecafé esclarece que muitos desses exportadores já atuavam no mercado chinês e que isso não necessariamente implica aumento dos embarques cafeeiros ao país asiático.

—Observamos atentamente o potencial de crescimento do consumo chinês, mercado que importou 571.866 sacas de janeiro a julho e ocupa a 11ª posição no ranking dos principais parceiros dos cafés do Brasil em 2025. Esse credenciamento por cinco anos, como divulgado nas mídias, é positivo do ponto de vista de desburocratização, mas, por si só, não representa nenhum aumento de exportações à China, o que esperamos siga ocorrendo de forma natural, a ser alcançado ao longo dos próximos anos e décadas, dado o aumento de interesse por parte do consumidor, como experimentamos em outros países da Ásia— finaliza.

Tipos de café — Nos primeiros sete meses de 2025, o café arábica foi a espécie mais exportada pelo Brasil, com o envio de 17,940 milhões de sacas ao exterior. Esse montante equivale a 81% do total, ainda que implique queda de 13,3% frente a idêntico intervalo antecedente.

O segmento do café solúvel veio na sequência, com embarques equivalentes a 2,229 milhões de sacas (10,1% do total), seguido pela espécie canéfora (conilon + robusta), com 1,949 milhão de sacas (8,8%), e pelo setor industrial de café torrado e torrado e moído, com 31.755 sacas (0,1%).

Cafés diferenciados — Os cafés que têm certificados de práticas sustentáveis ou qualidade superior responderam por 21,5% das exportações totais brasileiras entre janeiro e julho de 2025, com a remessa de 4,759 milhões de sacas ao exterior. Esse volume é 8,8% inferior ao aferido no acumulado dos primeiros sete meses do ano passado.

A um preço médio de US$ 425,78 por saca, a receita cambial com os embarques do produto diferenciado foi de US$ 2,026 bilhões, o que correspondeu a 23,7% do total obtido com todos os embarques de janeiro a julho deste ano. Na comparação com o mesmo intervalo de 2024, o valor é 57,8% maior.

Os EUA lideraram o ranking dos principais destinos dos cafés diferenciados, com a compra de 871.972 sacas, o equivalente a 18,3% do total desse tipo de produto exportado. Fechando o top 5, aparecem Alemanha, com 606.122 sacas e representatividade de 12,7%; Bélgica, com 533.023 sacas (11,2%); Holanda (Países Baixos), com 366.536 sacas (7,7%); e Itália, com 292.795 sacas (6,2%).

Portos — O Porto de Santos segue como o principal exportador dos cafés do Brasil em 2025, com o embarque de 17,809 milhões de sacas e representatividade de 80,4% nos sete primeiros meses do ano. Na sequência, vêm o complexo portuário do Rio de Janeiro, que responde por 15,5% ao enviar 3,429 milhões de sacas ao exterior, e o Porto de Paranaguá (PR), que exportou 208.950 sacas e tem representatividade de 0,9%.

Cecafé — Fundado em 1999, o Cecafé representa e promove ativamente o desenvolvimento do setor exportador de café nos âmbitos nacional e internacional. A entidade oferece suporte às operações do segmento por meio do intercâmbio de inteligência de dados, ações estratégicas e jurídicas, além de projetos de cidadania e responsabilidade socioambiental. Atualmente, possui mais de 100 associados, entre exportadores de café, produtores, associações e cooperativas no Brasil, que respondem por 96% dos agentes desse mercado no país.