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26/07/2025

A indústria siderúrgica latino-americana: em xeque e sem defesa

O diagnóstico é claro: a indústria siderúrgica global está passando por uma crise histórica de excesso de capacidade, e a América Latina está sendo severamente afetada.

Em 2024, a produção de aço da região representava apenas 3% do total mundial e apresentou uma tendência de queda sustentada nos últimos 20 anos. Hoje, 40% do consumo interno de aço acabado da região provém de produtos importados, principalmente da China e de outros países do Sudeste Asiático.

Os números são alarmantes e revelam uma assimetria que coloca todo o nosso setor em risco. A produção de aço bruto na América Latina vem diminuindo sistematicamente, enquanto países como a China aumentaram drasticamente suas exportações de aço e produtos manufaturados que contêm aço, como veículos e máquinas, para nossa região na última década. Essa avalanche de produtos desloca a produção local e enfraquece as cadeias de valor industriais de nossos países.

A crise da indústria siderúrgica na América Latina — Enquanto o mundo implementou 703 medidas de defesa comercial entre 2010 e 2023, a América Latina registrou apenas 79, das quais apenas 40 foram direcionadas à China e ao Sudeste Asiático. Essa baixa capacidade de resposta contrasta com regiões como Europa, Estados Unidos e Índia, que endureceram suas políticas comerciais para proteger suas indústrias das distorções do mercado internacional.

O caso do Chile não é uma exceção, mas sim um exemplo desse problema regional. No ano passado, vimos como importações a preços artificialmente baixos podem afastar players importantes do setor.

Mas o que está em jogo não é apenas uma empresa, mas o futuro industrial de toda a América Latina. A cadeia de valor do aço gera 1,4 milhão de empregos diretos e indiretos na região, empregos de alto valor que permitem mobilidade social ascendente e desenvolvimento econômico sustentável. No entanto, a região enfrenta um preocupante processo de desindustrialização: entre 1990 e 2023, a América Latina perdeu 5,3 pontos percentuais na participação de produtos manufaturados em suas exportações totais, caindo de 52,8% para 47,2%.

Esse declínio tem sido acompanhado por uma crescente “primarização” de nossas economias, reduzindo nossa capacidade de gerar valor agregado e consolidar setores estratégicos. Em vez de exportar produtos industriais, a proporção de matérias-primas que a América Latina exporta está crescendo, aprofundando sua dependência externa e vulnerabilidade.

Uma política industrial coordenada para a América Latina — Diante desse cenário, a América Latina precisa urgentemente de uma política industrial coordenada e ambiciosa. Os governos precisam agir de forma mais rápida e decisiva, implementando medidas que nivelem o campo de atuação e defendam nossas indústrias de práticas desleais.

Em particular, as medidas de defesa comercial estão sendo implementadas de forma mais lenta e com menos força no Chile do que em outras regiões, limitando a capacidade do país de responder a crises como a que enfrentou no ano passado. Essas medidas são importantes para proteger o que resta da indústria local, que é um exemplo global de produção de baixo carbono.

Não se trata de fechar mercados, mas sim de garantir uma concorrência justa. A América Latina possui o talento, os recursos e as capacidades para desenvolver uma indústria siderúrgica sustentável e competitiva que impulsione cadeias de valor e o desenvolvimento econômico e social. Mas cada dia que passa sem uma resposta coordenada significa mais perdas de empregos e maior dependência do aço estrangeiro.

Os governos têm a sua palavra a dizer. Proteger a nossa indústria não é protecionismo: é defender o futuro produtivo da região e o bem-estar de milhões de famílias que dela dependem.

Por: Ezequiel Tavernelli, diretor-executivo da Associação Latino-Americana do Aço (Alacero). | BBCL.