A Associação do Mércio Exterior do Brasil (AEB) revisa projeções da balança comercial 2025 e vê aumento nas importações em 8% neste ano.
As exportações brasileiras devem somar US$ 337,509 bilhões ao fim de 2025, montante apenas 0,1% maior do que o total apurado em 2024, de US$ 337,036 bilhões. Em contrapartida, as importações devem chegar a US$ 283,395 bilhões, aumento de 8% em relação aos US$ 262,482 bilhões alcançados no ano anterior. O superávit esperado é de US$ 54,114 bilhões, uma queda de 27,4% em relação aos US$ 74,554 bilhões consolidados em 2024. A corrente de comércio no montante de US$ 620,904 bilhões apresentará leve aumento de 3,6% em relação aos US$ 599,518 bilhões do ano passado.
Os dados divulgados no dia 23 de julho (quarta-feira), são da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) que, como sempre no mês de julho, anuncia a revisão das suas projeções para a balança comercial brasileira. O presidente-executivo da entidade, José Augusto de Castro, explica que os resultados têm como base o cenário atual de indefinições e oscilações bruscas, que passam pelas guerras, instabilidade econômica mundial e aumento de tarifas norte-americanas de importação, entre muitos outros fatores.

—Definir o amanhã é, mais do que nunca, um exercício de futurologia, graças ao novo mundo geopolítico, econômico e ambiental que se vislumbra, que será de grandes desafios para o mundo —adverte Castro.
Nas considerações preliminares acerca das projeções da balança comercial para os anos de 2023 e 2024, AEB diz que tiveram elevado grau de dificuldade, prever o futuro comercial do Brasil para 2025 será ainda mais difícil, decorrente da criação de tarifas de importação pelos Estados Unidos em níveis variáveis por países, medidas adotadas por impulso e sem qualquer tecnicidade. A exemplo do que ocorreu em 2023 e 2024, no presente ano de 2025 também tem sido projetadas oscilações de preços e de volumes no comércio exterior de commodities, mesmo cenário similar ao observado com os produtos manufaturados. Todavia, deve-se registrar que, caso o presidente Trump decida implementar novas iniciativas fora dos padrões técnicos e de grande magnitude, poderão ser observados impactos elevados, seja em cotações ou volumes. Não obstante estas observações, as projeções levaram em consideração a instabilidade observada no atual cenário econômico e político mundial, bem como as sinalizações futuras, sob a perspectiva de eventual impacto nos preços e volumes. Como resultado, no momento e de forma generalizada, observa-se tendência de queda das cotações em contrapartida à elevação nos volumes. Resumindo, o atual cenário mundial sinaliza que os mercados de commodities parecem estar “hibernando”, porém é uma calma aparente, que pode ser quebrada a qualquer momento e provocar oscilações bruscas de preços e/ou volumes, decorrente de ação impactante que as despertam de seus sonos profundos.
A AEB considera alguns cenários, que entram o tarifaço criado pelos Estados Unidos, a manutenção da guerra Ucrânia e Rússia, a instabilidade econômica mundial, as implicações geopolíticas, a agressividade comercial da China, as ações defensivas e ofensivas comerciais dos Estados Unidos e Europa, o desmantelamento e/ou enfraquecimento da OMC, o rearranjo industrial no mundo em transição, a inflação mundial, as oscilações das cotações das commodities, os níveis de taxas cambiais praticados, entre outros cenários e fatores, estão sendo considerados na revisão da balança comercial para 2025. Após as cotações das commodities terem atingido em 2022 patamar elevado e iniciado processo de redução gradual dos preços com base no conjunto de fatores anteriormente listados, no corrente ano de 2025 observa-se a continuidade de acomodação generalizada de preços, reflexo do atual cenário econômico e geopolítico. Todavia, ainda assim, as atuais cotações das commodities continuam beneficiando as exportações do Brasil.
Por ouro lado, o cenário atual mostra que, devido aos preços mais baixos, o Brasil torna-se mais dependente das exportações de commodities e sem perspectivas de agregar valor, pois o Brasil e suas empresas exportadoras não têm controle sobre preços e quantum destes produtos. Com isso, o Brasil permanece na dependência de decisão das empresas importadoras e de seus países, em geral desenvolvidos, que fazem valer sua larga tradição em negociações internacionais. Enfim, um conjunto de fatores que se entrelaçam estão sendo responsáveis por tentar recolocar a economia mundial nos trilhos do desenvolvimento econômico, mitigando riscos e maximizando decisões em favor da volta à normalidade. Neste momento de incerteza, insegurança, indefinição e imprevisibilidade torna-se fundamental minimizar seus efeitos negativos e viabilizar condições positivas para reverter o atual cenário econômico mundial, e também doméstico. Nesse sentido, definir o amanhã continua sendo um exercício de futurologia, graças ao novo mundo geopolítico, econômico e ambiental que se vislumbra, que será de grandes desafios para o mundo. Finalmente, devem ser consideradas as perspectivas e realidades que poderão advir de uma possível e necessária aprovação da reforma tributária e implementação de Nova Política Industrial.
Revisão das projeções para 2025 pela AEB — Segundo a AEB, a revisão das projeções da balança comercial para 2025 está sendo realizada com base no cenário atual de indefinições e oscilações bruscas, seja para cima ou para baixo, inclusive com possibilidades de impactos expressivos sobre seus resultados. Nesse sentido, com base em análise individual dos principais produtos comercializados, para 2025 são projetadas exportações de US$337,509 bilhões, aumento de 0,1% em relação ao montante de US$337,036 bilhões apurado em 2024, enquanto as importações estão previstas em US$283,395 bilhões, aumento de 8% em relação aos US$262,482 bilhões alcançados em 2024, e superávit de US$54,114 bilhões, queda de 27,4% em relação ao valor de US$74,554 bilhões apurado em 2024. Cumpre salientar que, para 2025, está sendo observada queda generalizada de preços e elevação de volumes, projetando estabilidade nas exportações, crescimento das importações e encolhimento do superávit comercial, este último em decorrência da elevação das importações. Finalmente, como resultado da estabilidade projetada nas exportações e aumento de 8% nas importações, a corrente de comércio no montante de US$620,904 bilhões prevista para 2025 apresentará leve aumento de 3,6% em relação aos US$599,518 bilhões apurados em 2024, valor incompatível com o porte da economia brasileira e com a pequena participação no comércio mundial.
AEB faz observações particulares e aponta pontos cruciais das exportações e importações em 2025: . Em 2025, as exportações de soja em grão poderão atingir novo recorde de 113 milhões de toneladas, aumento de 14% em relação ao volume recorde de 99 milhões de toneladas embarcadas em 2024;
• Pela primeira vez na história do comércio exterior brasileiro, em 2025, dois produtos, soja em grão e petróleo bruto, poderão ultrapassar o montante de US$45 bilhões em exportações cada um, e estarão lutando entre si para assumir o posto de maior exportador do Brasil;
• As quedas das exportações e elevação das importações farão com que o comércio exterior brasileiro tenha contribuição negativa no cálculo do PIB de 2024;
• Em 2025, as exportações de soja em grão, petróleo em bruto e minério de ferro são projetadas em US$116,444 bilhões, correspondendo à participação acumulada estimada em 34,5% das exportações totais do Brasil, levemente inferior aos 34,9% apurados no ano de 2024;
• Todos os 15 principais produtos exportados pelo Brasil são commodities, com automóveis ficando fora desta lista devido a problemas locais na Argentina, maior agressividade comercial da China e custos elevados do Brasil;
• A taxa cambial ainda deverá ser motivo de altas e baixas em 2025, num mercado volátil e com fatores externos e internos impactando suas cotações, que devem oscilar entre o mínimo de R$5,40 e o máximo de R$5,80, sendo R$5,60 a taxa mediana; . Os dados projetados de exportação e importação para 2025 indicam que o Brasil deverá permanecer na atual 26ª posição no ranking mundial de exportação, situação similar a observada com a 25ª classificação com as importações;
• Em 2023, a balança comercial brasileira de produtos manufaturados apresentou déficit de US$108 bilhões. Em 2024 o déficit foi aumentado para US$131 bilhões graças ao forte aumento das importações e para 2025 o déficit projetado crescerá para US$140 bilhões, ajudado pela expressiva elevação das importações e estabilidade das exportações;
• A manutenção deste resultado negativo da balança comercial de produtos manufaturados mantém sua continua queda de participação na pauta de exportações, gerando exportação de emprego e importação de desemprego, estimados em quatro milhões de postos de trabalho, considerando-se que, para cada US$1 bilhão de exportação ou importação são gerados estimados 30 mil empregos diretos, indiretos e induzidos, além de perda de divisas;
• Em 2025, o comércio mundial está sendo impactado pelo tarifaço anunciado e implementado pelo Presidente Tramp dos Estados Unidos, e pelo ataque ao Irã pelos Estados Unidos.
O futuro do Brasil e do seu comércio exterior: — O futuro do Brasil, e do comércio exterior em particular, continua dependendo da realização de, pelo menos, duas tarefas indispensáveis: aprovação de reformas estruturais, com destaque para a reforma tributária, e iniciativas para a redução do Custo-Brasil.
Sem o avanço destas ações, o Brasil continuará sendo um grande exportador de commodities. A ausência de concretização destas reformas é diretamente responsável pelas exportações de commodities serem destaque na pauta de exportação, ao contrário dos produtos manufaturados, que permanecem com reduzida participação.
No momento em que a reforma tributária já superou seu primeiro obstáculo, resta a expectativa de que outros desafios sejam ultrapassados e novos horizontes se abram para o comércio exterior brasileiro. Mais do que nunca, o futuro do Brasil depende de nós, brasileiras e brasileiros— conclui a AEB.