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24/07/2025

Pode haver vida, inteligente e independente, após o uso de mídias sociais?

“Saia do meu caminho eu prefiro andar sozinho. Deixem que eu decida a minha vida. Não preciso que me digam de que lado nasce o sol, porque bate lá meu coração…” BELCHIOR, Antônio Carlos Gomes Fontenelle Fernandes (26/10/1946 – 30/04/2017) in Comentário a respeito de John.

Relativamente a grande maioria da população do planeta, sem medo de se estar exagerando no número, parece-me que não, mesmo cientes de que milhares de conteúdo não se revestem de relevância alguma, mas são aceitos por possibilitarem a fuga, ainda que momentânea, de dilemas impostos pela realidade e os formalismos sociais que se apresentam as vezes de forma dura. Busca-se sobreviver com auxílio de ensinamentos e ordenamentos de alguém que se toma como modelo denominado de influencer.

Sofisticados meios da tecnologia são utilizados para impulsionar as mídias, buscando-se escrever histórias ou estórias de aparente singeleza, mas sob nociva ótica do poder. Vendem-se conteúdos em embrulhos luxuosos, coloridos e tudo que a tecnologia coloca à disposição, disfarçando-os, assim, com pseudo inocência, despretensão e até humor. Produtores de conteúdos podem criar e disseminar fatos ou fakes e, ao serem vendidos, têm sempre propósitos bem definidos como ocorre na maioria das divulgações ou informações de cunho político.

O tempo despendido não é a continuidade cronológica natural de vida, mas é, atualmente, bombardeio incessante e célere de emaranhado de opiniões, ideias, símbolos, discursos muitos dos quais desarticulados ou sem qualquer relação com a realidade, até criando tensão nas relações interpessoais por questões relativas a eventos factuais ou não relacionados as variadas narrativas geradas acerca daqueles eventos. Da relação factual e a virtual preocupa mensagens e narrativas dissociadas da realidade e que, dada a sua aceitabilidade, podem determinar ou estimular ações prejudiciais a pessoa consumidora do conteúdo ou a terceiros, como tem ocorrido com muita frequência e alcançam populações com velocidade espantosa que lhes permite atravessar fronteiras sem necessidade de visto ou passaporte.

As mídias não devem ser apenas espaço destinado a levar conhecimento, ou seja, concebidas ou utilizadas apenas com aquela finalidade. Mas, ainda que tangencialmente, devem ter compromisso em propor conhecimento ou que venha revestida de autenticidade nas narrativas e propósitos expostos, do contrário será mera farsa e merecerá, em certos casos, duro combate e até total repúdio social. Na concepção de Jean Paul Sartre, liberdade é fundamental ao agirmos, condenando-nos a ser livre. Esta condenação nos leva a nossa formação e não se opõe a nossa vontade de agir dessa ou daquela maneira. Tal consciência, quando plena, promoverá intencionalmente a prática de nossos atos e, ao envolver a sociedade, trará consigo enorme fardo que se deve carregar ao produzir responsabilidades para com o agente e para com os outros no seu entorno. Ao agirmos de forma intencional, premeditando nossos atos em razão de sermos livres, utilizando-nos da razão, que nos difere dos demais animais.

Por: Menildo Jesus de Sousa Freitas, mestre em Contabilidade, professor, perito contador aposentado do Ministério Público da União, membro da Academia Mineira de Ciências Contábeis, livre pensador.