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19/07/2025

Efeitos do tarifaço de Trump sobre produtos agrícolas

Sales de Renda Variável do escritório, Rodrigo Vignoli, comenta sobre os impactos da tarifação do presidente dos EUA, Donald Trump, sobre os produtos agrícolas. O executivo destaca as consequências tanto para o Brasil, quanto para os EUA.

— A aplicação de tarifas de importação pelos Estados Unidos consiste na cobrança de impostos adicionais sobre produtos estrangeiros ao entrarem no país. Com a nova medida prevista para agosto, produtos brasileiros passarão a pagar uma tarifa de 50%, encarecendo significativamente seu preço final no mercado americano. Isso reduz a competitividade frente a produtores locais ou de outros países com acordos comerciais mais vantajosos, afetando diretamente as exportações brasileiras.

Esse aumento de custos tem efeito direto e contratos estão sendo cancelados, embarques suspensos e setores como pescados, carnes e frutas já enfrentam prejuízos. Como exemplo, 58 contêineres de peixe voltaram ao Brasil por recusa de pagamento dos compradores nos EUA. A expectativa é de forte retração nas exportações, impactando estados como São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, e ameaçando milhares de empregos na cadeia exportadora.

No Brasil, a consequência pode ser dupla, ao mesmo tempo em que há excesso de oferta no mercado interno, a queda na entrada de dólares pressiona o câmbio e eleva o custo de importados e insumos, contribuindo para a inflação. Mesmo que alguns produtos fiquem temporariamente mais baratos, o efeito geral tende a ser negativo tanto para produtores quanto para consumidores.

No cenário das empresas listadas na bolsa, como JBS, Marfrig, BRF e SLC Agrícola, a exposição às perdas varia conforme o perfil da operação. JBS e Marfrig tendem a ser menos prejudicadas, pois já possuem grande parte de suas operações industriais e de exportação dentro dos próprios Estados Unidos, o que serve como um “escudo” natural contra as novas tarifas. Essa internacionalização permite que suas filiais instaladas em solo americano continuem vendendo sem o sobrecusto, enquanto outras empresas com produção concentrada no Brasil, caso de parte da BRF, sentirão mais fortemente os efeitos das barreiras e deverão procurar mercados alternativos, saturando a competição internacional.

SLC Agrícola, por sua vez, cujo negócio é majoritariamente direcionado à exportação de grãos, pode até ter um ganho momentâneo dentro do país, caso o redirecionamento de produtos para o mercado interno pressione os preços domésticos desses itens. No entanto, o saldo para o agronegócio brasileiro, em geral, é negativo, pois perde competitividade justamente no segundo mercado mais importante de exportação do Brasil, atrás apenas da China.

Do ponto de vista político e econômico, a tensão comercial é agravada por ameaças de retaliação: o governo brasileiro avalia impor tarifas recíprocas a produtos americanos, seguindo a Lei de Reciprocidade Econômica, o que poderia resultar em mais desdobramentos negativos, como aumento da cotação do dólar e encarecimento tanto de bens americanos quanto de produtos importados em geral.

Na minha avaliação, diante desta conjuntura, fica claro que a imposição da tarifa americana de 50% representa uma ameaça concreta não só para exportadores nacionais de ponta, mas também para toda a cadeia produtiva e de empregos associada ao comércio Brasil – EUA. Empresas que já diversificaram sua base fabril mundial, como JBS e Marfrig, estão mais protegidas, mas o setor exportador brasileiro como um todo precisa buscar novos mercados e, principalmente, negociar diplomaticamente para evitar o aprofundamento desta guerra comercial. Ao mesmo tempo, este episódio evidencia o risco da dependência excessiva de grandes parceiros comerciais e reforça a necessidade de estratégias que ampliem a internacionalização das empresas brasileiras, o que pode ser decisivo para amortecer choques e garantir resiliência em tempos de incerteza global— conclui o comentário de Rodrigo Vignoli, sales de Renda Variável da InvestSmart XP.