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11/07/2025

Visão do Mercado sobre as Tarifas dos EUA ao Brasil

O sales de Renda Variável do escritório, Daniel Nogueira, comentou sobre os impactos da tarifação do presidente dos EUA, Donald Trump, sobre as importações do Brasil na Bolsa de Valores.

O anúncio de tarifas de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos representa um dos movimentos comerciais mais agressivos da atual gestão Trump e acende alertas relevantes tanto para o mercado brasileiro quanto para o americano.

Do ponto de vista da bolsa brasileira, o impacto foi imediato. Empresas com forte exposição ao mercado norte-americano, como Embraer e Minerva, sofreram quedas expressivas no Ibovespa.

A Embraer (EMBR3), que tem cerca de 60% da sua receita atrelada aos EUA (aeronaves, peças e produtos de defesa/segurança) liderou as perdas com recuo de quase 8%, diante de um impacto potencial de até US$ 220 milhões no lucro operacional de 2025.

Já a Minerva (BEEF3), cuja exposição ao mercado americano gira em torno de 16% (carne bovina in natura e processada, miúdos e outros produtos com maior valor agregado), estimou um impacto de até 5% da receita líquida consolidada.

Na contramão desse movimento, os papéis da Vale (VALE3) apresentaram alta firme na quinta-feira, subindo 4,5% por volta das 11h10, cotados a R$ 56,42, sustentados pela forte valorização do minério de ferro em Dalian (+3,67%) e expectativas de estímulo econômico na China. O desempenho da Vale ajudou a atenuar as perdas do Ibovespa no dia, que caía 0,66% no mesmo horário. Trata-se de um movimento pontual de descorrelação, já que o papel se beneficia da dinâmica externa do minério, mesmo em um contexto doméstico mais avesso a risco.

No setor agroexportador, os efeitos também são relevantes.

O suco de laranja, por exemplo, destina quase 42% das exportações ao mercado americano, movimentando mais de US$ 1,3 bilhão na safra 2024/25.

O café, que tem o Brasil como principal fornecedor dos EUA (com cerca de 30% de market share), viu seus preços dispararem 3% em Nova York após o anúncio.

A cadeia do café nos EUA gera mais de US$ 340 bilhões por ano e emprega cerca de 2,2 milhões de pessoas, mostrando que o impacto também será sentido do lado norte-americano.

Além disso, o anúncio das tarifas tem um componente claramente político. A carta enviada por Trump cita diretamente os processos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro como motivação, o que coloca o Brasil em uma situação atípica, sendo penalizado não por questões comerciais, mas por disputas políticas internas dos EUA.

Na prática, essas tarifas devem resultar em: Diminuição da competitividade de produtos brasileiros no mercado americano; Pressão sobre margens operacionais das companhias exportadoras; Possíveis retaliações comerciais por parte do governo brasileiro; Aumento de preços ao consumidor final nos EUA, especialmente em setores onde o Brasil é fornecedor relevante (carne, café, suco de laranja, celulose etc.)

Vale destacar que o Brasil tem superávit comercial com os EUA em alguns segmentos, mas no agregado é deficitário, o que torna a retaliação brasileira mais simbólica do que efetiva.

Mesmo sendo deficitário, o Brasil não tem “alavancas fortes” para retaliar os EUA sem também se prejudicar, uma vez que importa muitos insumos e bens de capital difíceis de substituir no curto prazo.

Em resumo:o tarifaço tende a causar ruído relevante no curto prazo, com aumento da aversão ao risco sobre ativos ligados à exportação, pressão cambial e ajustes em cadeias produtivas, mas com impacto econômico direto ainda limitado no PIB, dada a dependência maior do Brasil com a China e o mercado interno.

Para o investidor, o momento exige atenção redobrada com empresas mais expostas à receita em dólar com base nos EUA e sensíveis a margens de exportação, enquanto nomes como Vale podem, pontualmente, seguir caminho oposto por drivers próprios ligados à China e commodities.

Válido lembrar que já vimos esse filme antes: o estilo de Trump em negociações é conhecido por seu tom inicial extremamente agressivo, seguido de recuos ou acordos mais brandos. Nesse cenário, a forte volatilidade momentânea e as quedas de preço podem abrir uma janela tática para o investidor reavaliar estratégias ou montar posições com maior margem de segurança. Cautela, seletividade e gerenciamento de risco seguem fundamentais. Não é hora de euforia— conclui Daniel Nogueira, Sales de Renda Variável da InvestSmart XP.