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11/07/2025

A cúpula dos BRICS+ e seus principais resultados

Nos dias 6 e 7 de julho, foi realizada, no Rio de Janeiro, a reunião de cúpula dos BRICS+. Marcada pela presidência brasileira do bloco em 2025, as principais propostas do país para a agenda dos BRICS giraram em torno da promoção de medidas voltadas à saúde global, do fortalecimento da cooperação em questões ambientais no âmbito do BRICS+ e da intensificação das relações econômicas entre os países participantes, especialmente diante da crescente instabilidade econômica internacional, em grande parte resultante das novas políticas comerciais dos Estados Unidos.

Na declaração final, o tema que ganhou maior destaque foi o reforço do compromisso dos países do bloco com o multilateralismo e o Direito Internacional, além da demanda por maior representatividade dos países em desenvolvimento nas instituições de governança global. Também foram firmados compromissos para ampliar a cooperação no combate a doenças socialmente determinadas, fortalecer fundos de financiamento para a proteção de florestas tropicais e promover a governança da inteligência artificial. No entanto, os resultados foram considerados pouco ambiciosos e aquém das expectativas brasileiras.

O cenário internacional, marcado por conflitos e pela crescente competição entre grandes potências, tem colocado em segundo plano pautas como a cooperação ambiental e outros temas que vão além da segurança. Até mesmo questões econômicas vêm perdendo protagonismo diante da ameaça de confrontos armados. O Brasil, que busca retomar seu papel de liderança global em temas ambientais, viu esse processo enfraquecido diante da perda de relevância da pauta ambiental em um contexto internacional tão conturbado.

Além disso, os BRICS+ carregam hoje importantes contradições internas. Dois de seus membros — Rússia e Irã — estão diretamente envolvidos em conflitos armados. A invasão russa da Ucrânia e o progressivo descumprimento, por parte do Irã, dos compromissos do acordo de não proliferação nuclear contrastam com a declaração conjunta do grupo em defesa do multilateralismo e da primazia do Direito Internacional. Essas incoerências acabam por deslegitimar as demandas do bloco por uma ordem global mais equilibrada, especialmente em um momento de crescente adoção de medidas unilaterais por parte de diversos países.

Até mesmo os compromissos relacionados ao aprofundamento da cooperação econômica entre os membros do grupo mostraram-se menos ousados do que o esperado. Em um contexto no qual os Estados Unidos se tornaram uma fonte de instabilidade na economia global, o fortalecimento das relações econômicas entre países emergentes se apresenta como um caminho promissor para manter o crescimento dessas economias. Vale lembrar que os BRICS surgiram originalmente com o propósito de reforçar a cooperação econômica e aumentar o poder de influência dos países em desenvolvimento no cenário internacional.

Apesar da ausência de compromissos mais robustos na declaração final, o fortalecimento dos BRICS enquanto espaço de articulação entre países emergentes ganha ainda mais relevância diante do atual cenário de tensões geopolíticas. A intensificação dos conflitos globais impacta diretamente as dinâmicas econômicas internacionais, tornando cada vez mais importantes novos espaços de cooperação para garantir a continuidade do desenvolvimento dessas nações.

Por: Fernanda Brandão, coordenadora de Relações Internacionais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio.