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05/07/2025

Em tempos de guerra, a disciplina vale mais que a coragem

A cada novo alerta geopolítico, os mercados reagem como se fosse a primeira vez. Manchetes em sequência, análises apressadas, investidores oscilando entre pânico e euforia. Os eventos das últimas semanas, no entanto, trouxeram algo que vai além da volatilidade de sempre: a velocidade com que os conflitos estão se espalhando e afetando o humor global.

Estados Unidos e Irã. Israel e Irã. Ucrânia e Rússia. Cada um com suas causas, suas dinâmicas, suas consequências. O que todos têm em comum? A capacidade de virar os mercados de cabeça para baixo em questão de horas.

O que vimos após o ataque americano às centrais nucleares iranianas é exemplo disso. Petróleo em alta. Bitcoin recuando mais de 3% ainda no fim de semana. Investidores globais correndo para ativos de proteção. E nós, aqui no Brasil, como sempre, sentindo o impacto indireto, mas real, da fuga de capital de mercados emergentes.

É nesses momentos que fica claro: o maior risco não está lá fora. Está aqui dentro. Nas reações impulsivas. Na falta de estratégia. O investidor que o Brasil precisa agora não é aquele que passa o dia tentando antecipar o próximo movimento do Federal Reserve. Nem aquele que especula se o petróleo vai, de fato, romper os US$100 o barril. É o investidor que olha para a própria carteira, entende sua exposição e sabe o que precisa ou não fazer.

Na maioria das vezes, o que precisa ser evitado é justamente a decisão apressada. Quando o cenário global aperta, o manual é o de sempre: quem tem estratégia, permanece. Quem investe guiado por manchete, tropeça.

Isso não significa paralisar ou fingir que nada está acontecendo. Significa agir com consciência. Revisitar alocações, avaliar se o perfil de risco ainda faz sentido, garantir que a liquidez esteja adequada. E, principalmente, lembrar que diversificação nunca foi só um conceito teórico. É proteção prática.

O investidor brasileiro costuma ter memória curta. Bastam alguns meses de estabilidade para que muitos voltem a correr riscos desnecessários, concentrando aplicações e ignorando os sinais de alerta. Até que um novo evento coloca todo mundo de volta à realidade.

Essa guerra pode pressionar a inflação global. Pode forçar o Banco Central americano a adotar medidas mais duras. Pode mexer com o câmbio, os juros, as commodities. O que ela não pode, ou pelo menos não deveria, é empurrar o investidor para um ciclo de decisões emocionais.

Disciplina pode parecer um conselho simples demais? Pode, porém é justamente o simples, o básico, que costuma ser deixado de lado quando o pânico bate. Esse não é o momento de tentar ser mais esperto que o mercado. É o momento de ser mais consciente que a média. Quem entender isso agora vai atravessar essa fase com menos arranhões. E, no futuro, com mais patrimônio.

Por: Luciana Zanini, diretora executiva de Finanças, Pessoas e Estratégia (CFO) no Inhotim, Luciana Zanini tem uma sólida trajetória em finanças, mercado de capitais, relações com investidores e governança corporativa. Com uma visão estratégica orientada a resultados, é reconhecida por sua habilidade em liderar transformações organizacionais de alto impacto, alinhando o desenvolvimento de pessoas à excelência financeira. A executiva adota uma visão humanizada das finanças, acreditando que o valor de uma organização está em seu capital humano. Sua experiência inclui passagens por grandes instituições, como Itaú BBA, EY, Bloom Energy, Fialho Salles Advogados, LOG Commercial Properties e Seven Capital. Possui um MBA pela Tuck School of Business at Dartmouth, o que fortalece sua sólida formação em finanças e negócios e agrega uma visão global e estratégica ao seu perfil de liderança.