Em meio a incertezas comerciais e geopolíticas.
A Moody’s Ratings revisou sua perspectiva global para os ratings soberanos de estável para negativa, refletindo a crescente incerteza em torno da política comercial e uma possível reconfiguração do comércio global, que têm prejudicado as condições de crédito dos soberanos em todo o mundo.
A recente escalada das tensões no Oriente Médio — ainda que parcialmente reduzida — reforça a avaliação da Moody’s de que os riscos geopolíticos continuarão a influenciar os perfis de crédito soberano, com potencial para volatilidade e mudanças abruptas nas condições de crédito.
Embora a perspectiva para 2025 anteriormente assumisse uma normalização macroeconômica gradual e um foco em reformas de longo prazo, a crescente incerteza política está redirecionando a atenção para medidas de suporte de curto prazo. Isso deve adiar a consolidação fiscal e restringir investimentos voltados à produtividade, ao mesmo tempo em que o risco de desvinculação estrutural e a paralisação das negociações comerciais estão levando a um realinhamento das cadeias de abastecimento e das relações comerciais de longo prazo.
A Moody’s alerta que essa mudança tem implicações amplas para os modelos de crescimento e dinâmicas fiscais, especialmente em economias integradas às redes globais de manufatura. Ao contrário da contração acentuada da pandemia, seguida por uma rápida recuperação, a agência prevê agora uma desaceleração mais branda, porém prolongada, com impactos duradouros sobre modelos de negócios e receitas fiscais.
A reformulação das tarifas e das relações comerciais, especialmente entre EUA (Aa1 estável) e China (A1 negativa), sinaliza um realinhamento mais amplo do comércio global. A imposição de tarifas generalizadas pelos EUA, incluindo uma taxa de 10% sobre todas as importações e tarifas ainda mais altas sobre produtos chineses, alterou a expectativa anterior de estabilidade gradual nas condições de crédito.
O início das hostilidades entre Israel (Baa1 negativa) e Irã adiciona uma nova camada de turbulência, com implicações para mercados de energia e rotas de navegação. Apesar de uma leve redução nas tensões, os riscos à estabilidade geopolítica permanecem elevados.
A Moody’s destaca que uma elevação significativa e abrangente das tarifas dos EUA afetaria diretamente as condições de crédito soberano, interrompendo fluxos comerciais, enfraquecendo contas fiscais e externas, e restringindo o financiamento. Exportadores enfrentariam queda nas vendas e lucros, enquanto a incerteza nas cadeias de abastecimento reduziria investimentos e empregos.
Países com maior exposição comercial aos EUA, baixa diversificação econômica e colchões financeiros limitados são os mais vulneráveis. Entre os mais expostos estão China, Vietnã (Ba2 estável), Taiwan (Aa3 estável), Tailândia (Baa1 negativa), Coreia (Aa2 estável), México (Baa2 negativa) e Canadá (Aaa estável). Exportadores europeus, como a Alemanha (Aaa estável), também enfrentam riscos setoriais.
A Moody’s reduziu suas previsões de crescimento para todas as regiões, com as maiores revisões para América do Norte, Ásia-Pacífico (APAC) e Oriente Médio e África (MENA). A previsão de crescimento da China foi reduzida para menos de 4%, enquanto países como Arábia Saudita (Ba1 estável), Omã (Ba1 positiva), Coreia, Tailândia e Vietnã também sofreram cortes significativos.
Na Europa, economias exportadoras como Alemanha, Tchéquia (Aa3 estável), Hungria (Baa2 negativa) e Eslováquia (A3 estável) tiveram previsões reduzidas. Já economias com forte demanda doméstica, como Índia (Baa3 estável), Brasil (Ba1 estável) e Indonésia (Baa2 estável), devem absorver melhor os impactos.
A política fiscal pode mitigar parte da desaceleração, mas gastos sustentados podem comprometer a estabilização da dívida. Países como México, Panamá (Baa3 negativa), Romênia (Baa3 negativa) e Polônia (A2 estável) enfrentarão desafios adicionais para consolidar suas finanças públicas.
A volatilidade nos preços das commodities, especialmente do petróleo, representa outro ponto de pressão. Países como República do Congo (Caa2 estável), Angola (B3 estável), Kuwait (A1 estável) e Arábia Saudita são particularmente vulneráveis a quedas prolongadas nos preços.
Embora as condições de financiamento permaneçam amplamente estáveis, os riscos de liquidez são elevados para mercados fronteiriços com colchões limitados. Países como Bahrein, Egito (Caa1 positiva), Gabão (Caa2 estável) e Tunísia (Caa1 estável) enfrentam riscos de refinanciamento elevados.
A Moody’s poderá revisar a perspectiva para estável caso negociações comerciais construtivas revertam as tarifas, estabilizando as expectativas de crescimento e facilitando as condições de financiamento.