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02/07/2025

Mudanças nas políticas comerciais dos EUA criam oportunidades para expansão do agronegócio brasileiro, diz Moody’s

Por outro lado, setores como metais e mineração devem enfrentar desafios por conta do novo cenário.

A Moody’s divulgou um relatório destacando que as recentes mudanças nas políticas comerciais dos Estados Unidos aumentam as vulnerabilidades já existentes na América Latina, ao mesmo tempo em que oferecem oportunidades estratégicas para determinados setores e emissores da região.

Agronegócio — As tarifas dos EUA criam novas oportunidades para o agronegócio latino-americano, especialmente com o aumento da demanda chinesa por carne bovina, suína e de aves. A China também deve ampliar suas importações de soja e milho da região, à medida que reduz as compras dos EUA. No Brasil, os produtores de grãos e carne são diretamente beneficiados, com destaque para empresas como André Maggi, Rumo e Hidrovias, que se favorecem de fundamentos sólidos de oferta e demanda e da valorização dos preços.

Metais e mineração — Os setores de metais e mineração da América Latina enfrentam riscos elevados diante de mudanças no comércio e no crescimento econômico global. O minério de ferro e o carvão metalúrgico, usados na produção de aço, são particularmente vulneráveis, dada a forte dependência da demanda chinesa. As tarifas aumentam o risco de queda na demanda por metais básicos, como o cobre, pressionando os preços globais. No Brasil, o redirecionamento dos fluxos comerciais pode elevar as importações de aço, intensificando a pressão sobre os preços domésticos e afetando a rentabilidade de empresas como Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e Usiminas, enquanto a Gerdau se beneficia de sua produção nos EUA.

Produtos químicos e papel & celulose — Os fabricantes latino-americanos de produtos químicos enfrentam excesso de oferta, impulsionado pela expansão da capacidade produtiva da China. Os spreads petroquímicos permanecem fracos, com nova oferta de polietileno e polipropileno da China e dos EUA.

No setor de papel e celulose, Brasil e Chile estão expostos à volatilidade dos preços da matéria-prima. A China, que representa 40% da demanda global de celulose de fibra curta, continua sendo o principal destino das exportações latino-americanas. Empresas brasileiras como Suzano e Eldorado Brasil Celulose mantêm vantagem competitiva com custos de produção inferiores aos de concorrentes globais.

Petróleo e gás — Os produtores latino-americanos de petróleo e gás enfrentam riscos maiores em um mercado bem abastecido até meados de 2026. A queda dos preços e o aumento da produção global reduzem os ganhos do setor. No Brasil, a Petrobras mantém baixos custos de extração e pode ajustar dividendos extraordinários para preservar a geração de caixa, mesmo diante de um programa de investimentos mais amplo.

Infraestrutura — A maior parte da infraestrutura latino-americana conta com estruturas contratuais e financeiras robustas, que garantem fluxo de caixa estável. Projetos de energia, empresas não reguladas e gasodutos operam com contratos de longo prazo, como os de compra de energia (take or pay), que asseguram receita constante. No Brasil, no entanto, os custos de equipamentos e commodities importados aumentam os riscos de execução. Aeroportos, ferrovias e rodovias pedagiadas mantêm liquidez adequada e receitas estabilizadas por arcabouços regulatórios.

Telecomunicações, companhias aéreas e bancos — Setores voltados ao mercado interno, como telecomunicações e companhias aéreas, são mais sensíveis às condições macroeconômicas do que às tarifas.

O sistema bancário da América Latina, com exceção do México, tem exposição direta limitada aos setores mais vulneráveis. No entanto, o aumento da inflação, das taxas de juros e a desaceleração econômica elevam os riscos para a qualidade dos ativos e a rentabilidade dos bancos. No Brasil, os bancos mantêm negócios relativamente limitados com exportadores, o que reduz sua exposição direta.