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02/07/2025

Cuidado emocional: escutar, sentir e viver

Nos últimos anos, falar sobre saúde mental virou algo comum, o que é muito bom. Mas, junto com essa excessiva visibilidade informativa, surgiram algumas confusões. De um lado, muitas pessoas estão buscando remédios como primeira e, às vezes, única solução para qualquer desconforto emocional. Do outro, cresce o número de pessoas se autodiagnosticando com transtornos mentais depois de assistir pequenos trechos de vídeos nas redes sociais.

Sentir-se ansioso antes de uma prova, desanimado depois de uma perda ou inseguro diante de mudanças são reações normais no decorrer da vida. Estas sensações, embora desconfortantes, são inerentes ao ser humano. Nem sempre a dor precisa se tornar um diagnóstico. E, muito menos, ser tratada, de imediato, com medicação.

Transtornos mentais existem e precisam ser avaliados e tratados por especialistas. Para muitas pessoas, o uso de remédios, vinculado à psicoterapia, é essencial. O problema está na busca por uma resposta rápida. Às vezes, ao invés de ouvir o que o corpo e a mente estão tentando dizer, preferimos camuflar o incômodo com uma solução mágica — e, frequentemente, medicamentosa. O perigo é transformar momentos difíceis, que fazem parte da vida, em doenças imaginárias.

Hoje em dia, basta ver um vídeo de 30 segundos com uma lista de “sintomas” e pronto: há quem diga que tem TDAH, ansiedade generalizada, borderline, depressão ou até traços de autismo. Este não é o caminho! Um diagnóstico sério leva tempo, envolve escuta profissional, análise do histórico de vida e muita responsabilidade. Quando os rótulos têm como base o achismo, corre-se o risco de ignorar questões mais profundas que realmente precisam de atenção.

Além disso, banalizar uma avaliação profunda tende a tirar a seriedade de quem realmente lida com essas condições no dia a dia.

Cuidar da saúde mental é fundamental. Mas isso não significa provocar um apagão ou anestesiar todo e qualquer sofrimento com remédios ou tentar dar nome a tudo com base em vídeos do TikTok ou do Instagram.

Na verdade, o ser humano precisa aprender a viver e verbalizar o que sente. Vivemos em um ritmo acelerado, e parece que ninguém autoriza o tempo do sofrer, do descansar, do pensar ou simplesmente de não estar bem. Afinal, nem tudo precisa ser resolvido imediatamente. Às vezes, conversar com alguém de confiança, refletir sobre o que está acontecendo, buscar apoio psicológico ou apenas permitir-se viver aquele momento já é um ótimo começo. * Kelli Aparecida da Silva Pontes é psicóloga e pós-graduada em saúde mental. Atua como psicóloga clínica e organizacional na Fundação João Paulo II.

Por: Kelli Aparecida da Silva Pontes, psicóloga e pós-graduada em saúde mental.