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31/05/2025

Daniela Abravanel Beyruti fala sobre o legado e o futuro do SBT em painel lotado na Rio2C

‘Não somos mais produtores de conteúdo, somos produtores de patrimônio’. Em conversa com o apresentador Cesar Filho em uma das maiores conferências criativas do audiovisual na América Latina, presidente do SBT reforçou disposição de valorizar o DNA de TV aberta com conteúdos para a família. Executiva comentou as semelhanças e diferenças entre ela o pai, Silvio Santos, no modo de administrar a televisão.

Na tarde do dia 29 de maio (quinta-feira), um dos maiores auditórios da Cidade das Artes, no Rio de Janeiro, lotou para ouvir a presidente do SBT, Daniela Abravanel Beyruti, convidada a falar em um dos principais painéis da Rio2C, que acontece de 27 de maio até 1º junho de 2025. O evento é hoje uma das conferências criativas mais relevantes da indústria audiovisual na América Latina.

Em conversa com Cesar Filho, apresentador do SBT Brasil, Daniela respondeu sobre as escolhas que determinam a nova programação e de sua disposição em retomar o “SBT raiz”. Falou muito a respeito do legado do pai, Silvio Santos, alvo de incontestável memória afetiva para os brasileiros, e do desafio de preservar essa conexão sem deixar de projetar a emissora para os dias atuais e prepará-la para o futuro.

Algumas das frases de Daniela na ocasião: Heranças do pai:— Acho que sou só um pouco menos ansiosa que ele, com relação à mudança de grade. Eu sou também, mas tenho que me controlar porque sei como isso afeta não só a emissora, como também os nossos telespectadores. […] A gente só entende que se não estamos agradando tanto, então queremos oferecer alguma coisa que seja melhor—.

—Adoro entretenimento, sou apaixonada pelo SBT, sou apaixonada pelo nosso público—.

—É só manter a essência. Ele sempre viveu muito por princípios, eu acho que os princípios dele não eram falados, eram vividos. Era mais que uma pessoa que comunicava o que ele acreditava, ele vivia o que ele acreditava. […] O caminho mais difícil já foi feito. A nossa responsabilidade é manter algo feito ao longo de 65 anos, porque o SBT tem 42, mas o Grupo Silvio Santos fez 65 anos este ano—.

—Acredito que o Senor Abravanel fez o Silvio Santos, o Silvio Santos fez o SBT e o SBT pode ser expandido em várias formas, em forma de experiências, em forma de parque, em shopping, em navio. A gente está mais próximo das pessoas de diversas outras formas e não só através da TV—.

Programação infantil: —Meu pai sempre gostou de ter uma programação infantil. […] E eu acredito muito que, sim, estamos em tempos modernos, tempos de redes sociais, tempos de YouTube, streaming, tudo isso. Mas a gente não pode esquecer que vive no Brasil. E a realidade do Brasil não é uma realidade do primeiro mundo.

— Tem pessoas no interior, no sertão, espalhadas pelo Brasil inteiro que não têm uma conexão para assistir a tudo que quer, quando quer, como quer. É uma obrigação da TV aberta ter programação para todas as idades e para todas as classes sociais. Um dos propósitos da TV aberta é ser acessível a todos—.

—Então eu, com muito orgulho e com muito desafio, e demorou um pouco para eu tomar coragem de respeitar isso, falei: ‘O SBT vai voltar com uma programação infantil de segunda a sábado, e no caminho pra cá a gente veio falando da volta do Domingo no Parque. E por que não? Né? A gente continua construindo esse elo com as famílias—.

—O SBT deu de bandeja para o YouTube e as redes, ou para o digital enfim, as nossas crianças. Bem na época da pandemia, a gente parou com o infantil. E TV aberta é regulado, a gente tem órgãos que a gente precisa respeitar. O YouTube não, é bem mais complexo de ser controlado, então realmente a gente não tem noção de tudo o que as nossas crianças exatamente estão vendo. Eu acho que é uma responsabilidade. Além de fazer parte do nosso DNA, também é uma é uma prestação de serviço—

Parcerias: —Com relação à produção independente, a gente está liberando três estúdos para fazer parcerias. Temos 10 estúdios, e três deles a gente quer usar para coproduzir—.

Pratas da casa —Uma coisa que aprendi com o meu pai é que a gente vai até onde a nossa perna permite. Ele falava assim: ‘A Manchete quebrou, a Tupi quebrou, a Excelsior quebrou: não vá pela vaidade, vá pela saúde da empresa’. Ele falava: ‘Você não pode dar o passo maior que a perna’. Tem três coisas muito caras na TV aberta: novela, reality show de confinamento e direitos esportivos. […] A gente faz a nossa oferta, a gente não deixa de ofertar, e às vezes a gente perde.”

—A Christina Rocha estava aí, solta, e foi fazer propaganda do BBB. Aí eu falei: ‘Caramba, perdemos a Cristina Rocha pro BBB, porque eu achava isso, e a Globo, eu acho que bobeou. Se eu fosse a Globo, teria colocado a Christina todos os dias para comentar os casos do BBB. E eles não fizeram, mas quando ela apareceu fazendo a propaganda do BBB, eu estava certa que isso ia acontecer. Aí eu falei: ‘Não! Temos que trazer a Christina de volta e com o Casos de Família—.

—E todo mundo conhece [Casos de Família], né? Até gente que não assiste ao SBT, isso é o que eu acho mais doido. Quem não assiste ao SBT conhece a Jequiti (risos da plateia). Ou já ouviu falar da Jequiti. Como é que conhece a Jequiti e não assiste ao SBT? E assiste sozinho? É difícil. (aplausos da plateia)—.

A TV aberta em cenário multiplataforma: —Hoje, a distribuição digital por multiplataforma é uma realidade, como a TV aberta é uma realidade. E são produtores de conteúdo da mesma forma, e todos se alimentam entre eles. Quero que o SBT esteja no máximo de lugares possível, sendo assistido pelo máximo de pessoas possível e do jeito que a pessoa quiser, como ela quiser. A TV aberta oferece confiabilidade e credibilidade. A notícia que sai na TV aberta é extremamente curada—.

—Eu já percebi, andando aqui pela feira [Rio2C], muita gente está à procura [de espaço na TV aberta]. Por mais que faça sucesso em outras plataformas, tem sempre o sonho alimentado de ir para a televisão. A Virgínia foi uma coisa interessante, porque eu precisava trazer novidade, e eu perguntei ao Ratinho se ele achava que ela viria. E ele: ‘Imagina, sabe que ela ganha dinheiro até no banheiro da casa dela, Daniela? Ela não vai querer trabalhar pela televisão’. Daí ele: “Mas eu sou amigo do Leonardo e vou tentar me comunicar com ela’. E veio então: ‘Ela quer falar com vocês, gostou da ideia’. Ela falou: ‘Eu quero ir pra TV porque uma coisa é ser famosa na internet, e outra é ser famosa na TV’—.

—Acho que hoje a gente não é mais produtor de conteúdo. Nós somos produtores de patrimônio, porque todo o conteúdo que a gente produz, a gente tem que pensar nele viajando o mundo, conseguindo estar nas plataformas digitais, conseguindo estar em outros lugares. Eu tenho sonhos grandes para o SBT—.

—O +SBT é gratuito e a gente vai tocar bastante o +SBT. E foi muito baixado desde agosto, quando estreou. Sabe o que mais consumiam? Além do ao vivo, que é o simultâneo ao sinal da TV, o que mais consumiam era a novela infantil e os históricos, o nosso legado, os programas do Gugu, da Hebe, do Jô, tudo o que é nossa história—.

Dorama vem aí: —Na verdade, a gente vai ter um dorama [na nova programação] e já está estudando produzir um dorama com um roteiro deles, mas para produzir uma versão brasileira do dorama. Vamos primeiro ver se funciona. A gente escuta o que as pessoas falando, a gente testa—.