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24/05/2025

Embrapa inaugura biofábrica para produção de insumos e defensivos

Contra as principais pragas agrícolas. A Unidade tem foco na produção e no aprimoramento de bioinseticidas, bioinoiculantes e outros microrganismos de interesse agrícola. A estrutura apoiará ações de pesquisa, capacitação técnica de empresas associadas e validação de tecnologias.

A Embrapa Milho e Sorgo inaugurou no início de maio uma unidade-piloto para a produção de bioinsumos e de produtos biológicos à base de vírus e bactérias, para o controle de insetos-praga que afetam culturas agrícolas. De acordo com o pesquisador Fernando Valicente, os benefícios principais desse controle é a substituição do uso de inseticidas químicos por biodefensivos naturais. “Dessa forma, teremos um produto mais puro quando ele for para a gôndola dos supermercados”, destaca.

A Biofábrica Embrapa, que tem foco na produção e no aprimoramento de bioinseticidas, bioinoculantes e outros microrganismos de interesse agrícola, está equipada com um biorreator de bancada que permite a condução de fermentações microbiológicas simultâneas. A estrutura também apoiará ações de capacitação técnica de empresas associadas e validação de tecnologias. A unidade foi implantada na Embrapa Milho e Sorgo por meio de parcerias com o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e com o Grupo Innovar.

A Embrapa Milho e Sorgo detém domínio tecnológico de uma Coleção de Microrganismos Multifuncionais e Fitopatogênicos com cerca de 11 mil acessos preservados. A ampla biodiversidade da coleção permite o desenvolvimento de conhecimento, práticas e processos, bem como de ativos biológicos, a exemplo de bioinsumos, biotecnologias e biomoléculas, de alto valor agregado, com foco em controle de pragas, doenças, estresse hídrico e controle de crescimento. —A partir desses acessos, tentamos identificar uma bactéria ou um vírus que controle determinada praga específica —explica Fernando Valicente.

— Após essa etapa, fazemos testes exaustivos e passamos para a escala piloto de fermentação ou de cultivo no próprio inseto e depois para a escala comercial—complementa o pesquisador. —Em média, tentamos desenvolver dois produtos biológicos por ano, a partir de estudos prévios com isolados e pragas específicas—conclui. No total, segundo Valicente, já são 14 produtos registrados pelo Ministério da Agricultura e Pecuária, lançados pela Embrapa, disponíveis no mercado.

A seguir os depoimentos de representantes do Ministério da Agricultura e Pecuária e dirigentes da Embrapa Milho e Sorgo sobre a importância estratégica da inauguração da Biofábrica Embrapa.

Alessandro Cruvinel, diretor do Departamento de Apoio à Inovação para Agropecuária, do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa): e m 2020, o Ministério da Agricultura e Pecuária lançou o Programa Nacional de Bioinsumos, iniciativa construída em parceria com instituições como Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, Ibama, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Confederação Nacional da Indústria, Embrapa, Asbraer e organizações da sociedade civil. Esse programa tem como missão definir diretrizes e estratégias para o avanço dos bioinsumos no Brasil. Entre seus objetivos estratégicos, destacam-se:

. O aperfeiçoamento regulatório; O fomento à ciência, tecnologia e inovação; O acesso ao crédito; A geração de conhecimento e capacitação de pessoas; O incentivo à implantação de biofábricas; O estímulo a programas estaduais; O fortalecimento do uso de bioinsumos também na agricultura familiar.

Durante a coordenação do Programa, tornou-se evidente a necessidade de criar elos entre a pesquisa científica — realizada por instituições como a Embrapa — e o mercado, os produtores e as startups. Tecnologias ainda em fase de desenvolvimento exigem infraestrutura adequada, como plantas-piloto, biofábricas experimentais, espaços para testes de produto, ambientes para capacitação de técnicos e produtores que desejam operar biofábricas nas propriedades rurais, com a qualidade e a segurança necessárias.

O mercado brasileiro de bioinsumos já movimenta cerca de R$ 5 bilhões e cresce a taxas próximas de 20% ao ano. Isso reforça o papel estratégico de estruturas como essa biofábrica, com o conceito de SmartLab ou BioFabLab que é exclusivo do Brasil, não tendo nenhuma iniciativa similar para bioinsumos em outros países. Nosso próximo desafio é conectá-la às demais unidades que integram a Rede de Inovação em Bioinsumos, composta atualmente por cerca de dez biofábricas em operação. Essa rede permitirá, por exemplo, que uma pesquisa iniciada aqui continue na Embrapa Cerrados, na Universidade Federal de Santa Maria ou na Embrapa Arroz e Feijão, otimizando tempo, recursos e resultados.

Temos, portanto, uma expectativa muito positiva de que a concretização deste projeto represente mais do que a inauguração de um espaço físico. Representa o avanço de um movimento de inovação aberta, colaborativa e descentralizada, que promove a capacitação técnica, fortalece o setor e torna os bioinsumos não apenas uma alternativa, mas a base de uma agricultura biológica, sustentável, inclusiva, tecnológica e preparada para os desafios das mudanças climáticas, contribuindo, inclusive, para a redução das emissões de gases de efeito estufa.

Sara Rios, chefe-adjunta de Transferência de Tecnologia da Embrapa Milho e Sorgo: com a instituição do Programa Nacional de Bioinsumos, em 2020, e mais recentemente do novo marco legal para bioinsumos (Lei nº 15.070, de 23 de dezembro de 2024), o tema bioinsumos ganha cada vez mais visibilidade no mercado, pelos impactos positivos que eles exercem na sociedade, contribuindo com sustentabilidade, resiliência e aumento da produção e da qualidade de alimentos, fibras, energia e demais matérias, sem causar danos à saúde humana, aos animais, nem prejuízos ao meio ambiente. Além disso, esses produtos são compatíveis com as tecnologias químicas para o manejo integrado, por exemplo, de pragas e de doenças dos sistemas de cultivo.

A Embrapa Milho e Sorgo é referência internacional em pesquisadores, ciência e soluções tecnológicas disruptivas de alto impacto no mercado, envolvendo bioinsumos e bioprodutos. Um exemplo disso foi o desenvolvimento do produto comercial BiomaPhos, a partir de cepas de Bacillus spp. da coleção da Embrapa, de alto valor agregado. Elas foram embarcadas nesse que foi o primeiro inoculante comercial brasileiro solubilizador de fosfatos, codesenvolvido com a empresa Bioma. O BiomaPhos gerou benefícios estimados em R$ 4,2 bilhões ao Brasil desde 2019 até a safra 2022/2023. | https://shre.ink/eqBt

A Biofábrica Embrapa, inaugurada dentro das instalações da Embrapa Milho e Sorgo, tem foco na inovação aberta (SmartLab) e fundamentos claros para a sua contribuição na consolidação de novos protocolos de produção, capacitações técnicas, redes de conexões para inovação, incubação e contribuição para novos negócios. Além disso, busca tecnologias e bioprodutos disruptivos e de alto impacto para a agricultura brasileira e também internacional. Nosso compromisso técnico é continuar produzindo ciência aplicada destacada, com a reputação e a confiabilidade da Embrapa. Deve-se destacar também a importante contribuição das parcerias estabelecidas com o Mapa e o grupo privado Innovar, que apoiaram a implementação da Biofábrica Embrapa.

Frederico Durães, chefe-geral da Embrapa Milho e Sorgo: os bioinsumos representam uma tendência e uma realidade em crescimento no Brasil. O desenvolvimento de um produto biológico é regulado por um conjunto de leis e demais tipos de instrumentos normativos nas esferas da agricultura, do meio ambiente e da saúde, as quais incluem também aspectos relativos ao acesso ao patrimônio genético.

As etapas para a regulação dos produtos biológicos incluem a coleta do material biológico a ser pesquisado, a identificação, a experimentação no laboratório, o desenvolvimento de formulação (quando for o caso), a experimentação no campo do produto final ou do agente biológico, a produção em escala-piloto e o registro do produto comercial.

A Embrapa tem, há décadas, de forma contínua e cooperativamente, estruturado uma rede temática de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) para bioinsumos, focando em soluções para agricultura, alimentação, nutrição e saúde, com busca e avanços de conhecimento da variabilidade biológica, de processos e protocolos, produtos e parcerias, aportando expertises e meios, funcionalidades e estruturas.

Coleções de microrganismos funcionais prospectados em locais estratégicos naturais, identificação e caracterização experimental em laboratórios, desenvolvimento de formulação e definição de processos laboratoriais, de campo e de produção qualificada de produto final ou do agente biológico, bem como o registro de produto comercial. Essas todas são estratégias do Brasil e de instituições para a implementação de domínio tecnológico (próprio, em cocriação e codesenvolvimento e de terceiros), com especificidades e escala focada em qualidade, que interessam ao mercado de bioinsumos, produtores rurais, empresas comerciais, empresas de PD&I, agências e agentes reguladores, além de outros players de afinidade.

Assim, está em franca implementação, baseando-se em um conceito moderno e dinâmico, a Biofábrica Embrapa (SmartLab) para microativos (especialmente focados em microrganismos) e para macroativos (especialmente focados em macroinsetos), sejam pragas ou benéficos, para manejo integrado de pragas e controle biológico.

Com a inauguração da Biofábrica Embrapa, demonstra-se também um exercício de Joint Lab, na parceria público-privada, e que a Embrapa tem as associações institucionais com a empresa do Grupo Innovar.

Esta agenda positiva de ciência, tecnologia e mercado para bioinsumos tem progredido no Brasil e levado a novos arranjos (técnico-científicos, institucionais e produtivos), nas alianças e parcerias públicas e privadas, que fortalecem a construção de redes de biofábricas, a exemplo da Biofábrica Embrapa que, em rede de competências, se associa à rede de inovação em bioinsumos BioFabLabs, que está sendo estruturada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária.

Com visão, alianças e parcerias, e neste estágio de desenvolvimento, a Biofábrica Embrapa implementa e amplia os exercícios técnico-científicos, de transferência de tecnologia, capacitação e negociais, para os mercados (competitivos, de nichos e de diversidade), incorporando estratégias de ação para bioinsumos atuais e de futuro.

O conhecimento e sua aplicação na construção e nos usos de gerações avançadas de bioinsumos têm evoluído e buscado eliminar ou reduzir as vulnerabilidades dos acordos negociais, para ampliar as oportunidades de uma “ciência com propósito”, os usos de boas práticas gerenciais e de produção, e permitir os adequados usos negociados para o “scale up industrial” e para usos próprios de qualidade. Todas essas alianças e parcerias têm implementado ações em aderência ao Programa Nacional de Bioinsumos. | Guilherme Viana – MG/Embrapa Milho e Sorgo