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12/04/2025

Impacto das tarifas e os movimentos do mercado

Sem sombra de dúvidas, o grande evento da semana foi o Liberation Day, que catalisou uma deterioração ainda maior nas expectativas dos agentes.

Em suma, o governo Trump anunciou uma tarifa básica de 10% para todos os países, com entrada em vigor já no último sábado (05/abril). Além disso, foram anunciadas tarifas que, em média, equivalem a metade das cobradas aos produtos americanos, de acordo com os números apresentados pela Casa Branca.

Podemos dizer que tivemos um mix de tarifas mínimas, com questões de reciprocidade sendo levadas em questão. Como resultado, veremos um salto no número da tarifa efetiva cobrada pelos EUA aos parceiros comerciais. Segundo estimativas da Tax Foundation, a tarifa média sobre todas as importações aumentará de 2,5% (em 2024) para 18,8% – a maior taxa média registrada desde 1933.

Não obstante, no dia seguinte, tanto as expectativas de uma possível flexibilização das regras quanto os receios de possíveis retaliações se acentuaram ainda mais após o governo chinês anunciar a implantação de tarifas aos produtos americanos.

Impactos no mercado — Refletindo a imposição de tarifas e a percepção de uma escalada ainda maior das tensões comerciais, os mercados foram rápidos e intensos para embutir tais temores nos preços dos ativos.

O índice VIX, de volatilidade, saltou, e os ativos de risco tiveram uma forte queda.

O dólar perdeu força em um primeiro momento, refletindo a expectativa de uma atividade mais fraca na economia americana, mas logo em seguida se recuperou, com o movimento de aversão a risco dominando e os investidores fugindo dos ativos de risco e buscando a segurança na moeda americana.

Tal racional é igualmente válido para explicar a forte queda dos yields dos títulos de dívida americano. O que vemos é um típico movimento de flight to quality (fuga para a qualidade), com os investidores buscando segurança em títulos do governo americano. Por tabela, o aumento da demanda eleva os preços desses títulos, o que por sua vez reduz o yield oferecido ao novo comprador.

Por fim, a percepção de uma forte desaceleração global aliada à notícia de que a OPEC+ pretende manter os aumentos de produção estimados gerou uma forte queda no petróleo.

Nossa leitura do momento atual — Em nossa visão, está claro que o mercado entrou no modo de pânico, medo extremo e total aversão a risco. Nesses momentos, estimar mudanças ou reversão de sentimento nos parece perda de tempo e um exercício de prognósticos de baixa ou nenhuma capacidade probabilística de acerto.

O que queremos dizer com isso? Que os mercados não parecem reagir dentro de um espectro de racionalidade e, portanto, tudo é possível… desde novas quedas até uma recuperação de curto prazo, dada a forte queda acumulada em pouco tempo. E prever isso nos parece impossível ou ainda um simples exercício de achismo.

Recessão? Como sempre, os agentes de mercado buscam se antecipar ao que pode vir a acontecer no futuro. Em suma, o advento das tarifas e a resposta chinesa na sexta-feira (04) catalisaram os receios de que teremos uma forte contração na atividade em nível global, oriunda de três vetores: .Menores fluxos de comércios entre os países; Aumento de preços que tendem a ter impacto negativo na demanda dos consumidores; Pressão de custos que afetem as margens, capacidade e intenção de investimentos das empresas.

Sobre isso, o J.P. Morgan indicou que os seus modelos sugerem a elevação da probabilidade de recessão da economia americana para 60%. Essas políticas, se mantidas, podem levar a economia dos EUA e possivelmente a economia global à recessão neste ano, escreveu Bruce Kasman, chefe de pesquisa econômica global, em uma nota divulgada pela instituição.

Precificação atual — Entendemos que o mercado passou a precificar um cenário não mais de stagflation, como vínhamos comentando, mas sim de uma recessão nos EUA, capaz de gerar impactos significativos em todo o globo. Ademais, nos parece que este quadro de forte aversão a risco se solidifica com a percepção de que tais tarifas serão definitivas, com pouco espaço ou margem de negociação, e que o caminho natural será o da retaliação e não o da cooperação e/ou negociação.

E é claro que o mercado foi rápido em reprecificar os ativos frente a essa nova realidade.

A questão que nos salta aos olhos é buscar enxergar quais são as assimetrias existentes hoje no mercado e o quão pior pode ficar o cenário prospectivo vis-à-vis o quanto podemos ter de novidade que refutem esse cenário tão dantesco. Em outras palavras, o mercado não está dando o benefício da dúvida de que eventualmente os países poderão cooperar… de que eventualmente a economia poderá surpreender a todos positivamente… e de que talvez o impacto esperado não se concretize.

Não há como estimar as probabilidades disso, mas parece haver uma assimetria com o mercado precificando cada vez mais o pior cenário possível – que, caso não se concretize, poderá mudar de uma hora para a outra essa precificação observada recentemente.

Aproveitar o momento? Recomendamos que o investidor mantenha a consistência em seus investimentos, permanecendo fiel aos seus objetivos e coerente quanto ao seu perfil. Por isso, ressaltamos a importância de uma carteira estrutural que não mude ao sabor das nuances de mercado.

Ainda assim, para aqueles que muitas vezes consideram a cotação do dólar como um vetor importante para os seus aportes e o envio de recursos para o exterior, a boa notícia é que o dólar caiu frente as máximas atingidas no fim de 2024. E para aqueles que reclamavam que a bolsa americana andava muito cara, agora tivemos uma correção de preços.

Bem… não sabemos o que o futuro nos reserva, mas o que a história no ensina é que os momentos de medo, paúra e aversão a risco passam e que o mercado tende a premiar o investidor que aceita tomar certos riscos.

A semana que se inicia — Para esta semana, no campo dos dados econômicos, os números da inflação estarão em foco.

– Na quinta-feira (10/o4), teremos a divulgação do CPI (índice de inflação ao consumidor);

– Já na sexta-feira (11/04), será a vez dos dados de inflação ao produtor (PPI).

Por fim, também acompanharemos a divulgação da ata da última reunião do FOMC (comitê de política monetária americana), realizada no dia 19 de março, que pode trazer insights relevantes sobre o cenário de juros.

Por: Análise de William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue. | Avenue — Avenue é uma empresa que possibilita aos brasileiros investir diretamente no mercado americano e ter uma conta internacional em dólar. Fundada em 2018 por um grupo de brasileiros com ampla experiência no mercado financeiro local, a Avenue Securities é uma empresa de investimentos no mercado americano que opera nos modelos B2C e B2B, focando no varejo e na alta renda.

Pioneira em sua categoria, a Avenue Securities oferece aos investidores brasileiros que desejam expandir sua vida financeira global acesso à grandes gestoras globais, títulos de renda fixa e às maiores bolsas de valores do mundo, NYSE e Nasdaq. Além disso, a Avenue Cash disponibiliza serviços de banking conectados à conta bancária americana, com um cartão de débito em dólar aceito em mais de 180 países.

Em 2022, a Avenue e o Itaú assinaram acordos para estabelecer uma parceria comercial e estratégica, com o Itaú adquirindo 35% de participação acionária da Avenue. A proposta dessa parceria é oferecer a plataforma da Avenue como solução para contas e investimentos internacionais aos mais de 60 milhões de correntistas do Itaú nos próximos meses, de forma totalmente integrada em ambas as plataformas.

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